A partir do próximo dia 1º de julho, todos os computadores produzidos ou vendidos na China deverão sair das lojas com um software (programa) instalado que promete filtrar qualquer material pornográfico, violento ou considerado ofensivo. A justificativa é evitar que crianças tenham acesso a conteúdos inadequados disponíveis na internet.
A medida tem gerado polêmica, até mesmo na imprensa estatal. O jornal China Daily publicou um editorial questionando a decisão. “Quem é supostamente capaz de decidir o que é pornografia, violência ou inconveniente que mereça ser bloqueado?”.
“Como impedir isso de se transformar em um caminho para o uso indevido de poder?”, pergunta o editorial do site da revista Caijing.
Movimentos de Direitos Humanos afirmam que o novo programa é um desrespeito à privacidade e liberdade individual. Já alguns blogs reclamam dos cerca de seis milhões de dólares gastos pelo governo na compra do programa.
O popular site chinês Sohu.com fez uma enquete e questionou se o novo software viola ou não a privacidade do internauta. Mais de 10 mil pessoas, 83.9% dos entrevistados, responderam que sim.
Mas a discussão não chegou a consenso algum ainda. Mais de três milhões de chineses não esperaram a lei vigorar e já baixaram o software gratuitamente pela rede.
“É uma paz saber que não vou ter que me preocupar com o que meu filho vê na internet quando não estou em casa”, diz Huang Shuji, mãe de um adolescente de 14 anos, que já instalou o programa.
Hello Kity pode, Garfield não
O novo software é conhecido como Green Dam (“Barragem verde”). Desenvolvido pela companhia chinesa Jinhui, o sistema já começou a ser testado em escolas de todo o país. Até agora, quase 21 mil instituições de ensino já têm o software instalado em mais de dois milhões de computadores.
O programa pode filtrar imagens, palavras e endereços de sites e é capaz de fechar o navegador Internet Explorer imediatamente caso o usuário tente acessar um endereço bloqueado pelo software.
Usuários da internet que já testaram o novo programa garantem que ele filtra até mesmo fotos de bebês. O jornal China’s Southern Weekend testou o programa com personagens dos quadrinhos e da TV. Hello Kity passou na prova, mas Garfield não.
“O software sem dúvida alguma não vai ser perfeito. Vai bloquear coisas que não devia e deixar de bloquear outras. Até mesmo porque a definição do que deve ou não ser bloqueado é muito subjetiva”, diz o engenheiro de telecomunicações Daniel Adrian em entrevista ao Opera Mundi.
Um relatório publicado pelos pesquisadores Scott Wolchok, Randy Yao e Alex Halderman, que examinaram o Green Dam, alerta para a vulnerabilidade do programa. Segundo eles, o software é frágil e poderia facilitar o roubo de dados privados, envio de spam, ou até o controle de todo o computador.
Lista negra
Para completar a polêmica, a companhia Americana Solid Oak Software disse esta semana que a chinesa Jinhui roubou dados do seu programa de computador desenvolvido para pais americanos, o Cybersitter.
Pesquisadores da Universidade de Michigan ressaltaram as desconfianças ao afirmarem que parte da lista negra (relação de sites considerados violentos, pornográficos e ofensivos) do Cybersitter coincide com a do Green Dam. Há ainda outra pista. Um arquivo de 2004 contido no software americano parece ter sido acidentalmente incluído no programa chinês.
A China tem hoje cerca de 300 milhões de internautas e só no ano passado vendeu 40 milhões de novos computadores.
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