Em um trabalho voluntário – e potencialmente rentável em termos de marketing –, cerca de 40 jogadores e ex-jogadores de futebol participaram do 7º Jogo Contra a Pobreza, promovido pela ONU (Organização das Nações Unidas) em Lisboa, em parceria com o clube português Benfica. O dinheiro arrecadado será destinado ao Haiti, arrasado por um terremoto no dia 12 de janeiro. O valor obtido com a venda de ingressos é inferior ao salário mensal do jogador brasileiro Kaká, que participou do evento.
Para o sociólogo brasileiro Emir Sader, há pouca eficácia nesse tipo de evento como forma de conscientizar a população em relação a grandes causas humanitárias como a pobreza. Em situações pontuais, como é o caso do Haiti, Sader considera que pode haver resultados mais palpáveis, mas julga mais efetivas ações menos pontuais. “Esse eventos muito esporádicos não produzem efeitos por serem muito pontuais: não trazem grandes resultados em termos de recursos obtidos nem mobilizam para a causa”, avalia.
“Por ser um evento pouco comum, e não como uma campanha tradicional (de promoção de uma marca), no curto prazo deverá haver um ganho de imagem maior para os jogadores do que em uma campanha comum”, afirma Leslie de Chernatony, professor de brand marketing da Università della Svizzera, da Itália, e da Aston Business School, do Reino Unido, favorável ao evento.
Joana Machado, da Universidade Católica Portuguesa, ressalta que “as pessoas são cada vez mais sensíveis ao comportamento socialmente responsável da marca, e estão cada vez mais vigilantes/atentos em relação a esse comportamento.”
As partidas, organizadas desde 2003, têm a intenção de conscientizar o público para a importância da luta contra a pobreza e tornar conhecidos os Objetivos do Milênio da ONU. Nesta edição, o brasileiro Ronaldo foi substituído por Kaká, do Real Madrid. Participaram mais de 40 profissionais – dentre os quais os haitianos Joseph Peterson e Jean Sony, que atuam no futebol português – e ex-jogadores como Luís Figo (Portugal), Michael Laudrup (Dinamarca) e Kluivert (Holanda), além do próprio Zidane (França). “Vamos nos divertir um pouco, divertir as pessoas e conseguir dinheiro para o Haiti”, disse o francês antes do jogo. “Há muitos problemas no mundo, mas o Haiti é o mais importante agora”, afirmou Kaká.
Valores
A quantia arrecadada só deve ser divulgada amanhã, com a contabilização de verbas de direitos de imagem e doações extras feitas por meio de uma conta bancária aberta pelo Benfica. Em ingressos, considerando os 51,3 mil espectadores como pagantes, são aproximadamente 1,2 milhão de reais, valor inferior ao 1,9 milhão de reais que Kaká recebeu por mês em 2009.
O jogador do espanhol Real Madrid foi o mais bem pago do mundo no ano passado junto com o sueco Zlatan Ibrahimovic, do Barcelona (à época na Inter de Milão), descontadas as verbas de patrocínio, segundo a agência portuguesa Futebol Finanças. Zidane, em 2001 – quando foi contratado pelo mesmo Real –, recebeu em um ano o equivalente, hoje, a 31,8 milhões de reais, de acordo com a revista francesa France Football, que elabora anualmente rankings dos vencimentos das estrelas.
Sete em cada dez haitianos vivem com menos de 3,64 de reais por dia, segundo o último relatório de desenvolvimento humano do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Na população de 2007, isso significaria sete milhões dos 9,2 milhões de habitantes do país. Em 2007, o PIB (Produto Interno Bruto) per capita do haitiano foi aproximadamente 10% do brasileiro: 1.271,20 de reais contra 12.521,06, pela cotação de hoje.
Fãs
Para Sader, os espectadores vão ao estádio para assistir o jogo e dificilmente se tornam mais solidários por conta deles. Além disso, o sociólogo critica a glorificação de um estilo de vida ostentoso, como o levado pelos craques de futebol, o que é contrário à causa em questão. Para Leslie de Chernatony, o apoio de figuras importantes como Zidane e Ronaldo à causa faz com que seus fãs se preocupem com a questão. “As pessoas querem seguir quem elas respeitam. Elas acreditam em algumas das coisas que esses jogadores fazem”.
O geólogo Nuno Valente aproveitou a oportunidade para assistir ao desempenho em campo, pela primeira vez, de Zidane e de ex-jogadores do Benfica. “É uma desculpa para vir”, disse, ressaltando ter doado outros 10 euros além dos 10 pagos pelo ingresso por meio de uma conta aberta pelo clube. “Viemos mais para ajudar. Somos benfiquistas e não pagamos pelos jogos do campeonato. Neste, sim”, disse Luís Joaquim Esteves Ribeiro, acompanhado do amigo António Correa Abreu.
Placar
O jogo foi disputado no Estádio da Luz, entre as equipes Zinedine Zidane e Amigos e Benfica
All-stars. O placar foi 3 a 3, com um gol de Kaká para a equipe dos amigos de Zidane.
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