Em setembro, o Equador concedeu asilo político a Julian Assange, que já estava refugiado desde junho na embaixada do país sul-americano em Londres. Fazia mais de um ano que os documentos da diplomacia norte-americana no Equador haviam sido publicados, todos de uma vez, pelo WikiLeaks.
Em entrevista feita por videolink com o presidente Rafael Correa, Assange revela que o governo equatoriano procurou o WikiLeaks, na época do vazamento, pedindo que publicasse todos os documentos diplomáticos.
“Quando o WikiLeaks começou a publicar os ‘cables’ sobre o Equador, nós o fizemos com dois grupos de mídia, o El Universo e o El Comercio. O governo equatoriano nos procurou e disse ‘por favor, WikiLeaks, queremos que vocês publiquem todos os cables sobre o Equador’. O governo jamaicano também fez isso. Por que você nos pediu que publicasse todos os documentos?”, pergunta Assange.
“Porque quem nada deve, nada teme. Nós nada temos a ocultar. De fato, os telegramas divulgados por WikiLeaks nos fortaleceram. A Embaixada dos EUA nos acusava de sermos excessivamente nacionalistas e defendermos a soberania do governo equatoriano. E é claro que somos nacionalistas! E é claro que defendemos a soberania do Equador!” – responde prontamente o entrevistado.
A pergunta serve de introdução para Correa explicar sua polêmica briga contra a mídia do Equador – o presidente é acusado de cercear a liberdade de imprensa. “Os veículos têm sido, aqui, os maiores eleitores, os maiores legisladores, os maiores juízes, os que criam a alimentam a ‘agenda’ da discussão social, os que sempre submeteram governos, presidentes, cortes de justiça, tribunais”, diz.
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Eleito em 2007, o economista Rafael Correa é considerado o presidente mais popular da história democrática do país. Inimigo declarado da política norte-americana para a região, uma das suas primeiras atitudes no governo foi determinar o fechamento de uma base militar norte-americana em Manta.
“Se é assunto tão simples, se não há problema algum em os EUA manterem uma base militar no Equador, ok, tudo bem: permitiremos que a base de inteligência permaneça no Equador, se os EUA permitirem que estabeleçamos uma base militar do Equador em Miami”, justifica.
Críticas e ironias à política externa norte-americana e o destino político da América Latina também permeiam a conversa.”A influência dos EUA na América Latina está diminuindo. Isso é bom. Dizemos que a América Latina está passando, do ‘consenso de Washington’, para o consenso sem Washington”, comenta Correa.
O projeto “O Mundo Amanhã” foi produzido pelo WikiLeaks em parceria com o canal RT, da Rússia. A publicação foi autorizada pela Agência Pública.
A transcrição da entrevista também pode ser lida aqui.