Diversos organismos e personalidades internacionais, e chefes de Estado lamentaram, nesta segunda-feira (03/10), o resultado do plebiscito na Colômbia, em que a população decidiu não aprovar o acordo de paz negociado nos últimos quatro anos com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas).
A ex-parlamentar colombiana Piedad Córdoba, que participou em diversas negociações de libertação de reféns das FARC, foi uma das personalidades a comentar o resultado das urnas de domingo.
À emissora Caracol Radio ela afirmou reconhecer o resultado do referendo, pois “esta é a democracia”, mas disse considerar “lamentável o nível de abstenção tão alto e muito preocupante o nível de desinformação do povo [sobre o acordo]”.
Ela ainda pediu que se “continue lutando” pela paz e trabalhando para que o grupo guerrilheiro ELN (Exército de Libertação Nacional) “se sente já na mesa de negociação”.
Agência Efe
Comunidade internacional repercutiu resultado de plebiscito na Colômbia
Na ONU — que ficaria responsável por monitorar o processo e paz caso este tivesse sido aprovado —, o secretário-geral, Ban Ki-moon, disse que esperava um “resultado diferente” e enviou seu representante especial para Havana, Cuba, onde ocorreram as negociações de paz, “para que continuem com as consultas”.
Apesar do resultado no plebiscito, Ban disse permanecer otimista pelo fato de que tanto o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, quanto o líder das FARC, Timoléon Jiménez, terem mostrado seu compromisso com a paz apesar da vitória do “não” nas urnas.
A posição de Ban foi reforçada pelo alto comissário das Nações Unidas para refugiados (Acnur), Filippo Grandi, que disse acreditar que os líderes da Colômbia não irão desistir da paz.
“Apesar do retrocesso de ontem, as negociações de paz na Colômbia levaram o país muito mais perto do fim de um dos conflitos mundiais mais antigos”, disse a jornalistas.
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A ONG de direitos humanos Anistia Internacional também lamentou o resultado do referendo, considerando-o como uma “oportunidade perdida” para a paz na Colômbia.
“[O dia da consulta] será lembrado nos livros de história como o momento no qual a Colômbia deu as costas ao que poderia ter sido o final de uma guerra de mais de 50 anos que devastou milhões de vidas”, afirmou Erika Guevara-Rosas, diretora da AI para as Américas.
Segundo ela, é “imperativo” que o país “não se afaste deste projeto e continue se movimentando rumo à paz que tantas pessoas desejam”.
Já o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, em pronunciamento semelhante, pediu diálogo entre o governo colombiano e as FARC para que a paz “chegue a todos os colombianos”.
“É fundamental que o processo de paz chegue a todos os colombianos, incluindo aos 60% que não votaram. Apoiamos o diálogo inclusivo. A paz é obra de todos”, escreveu ele em seu Twitter nesta segunda.
Es clave q el proceso d paz llegue a todos los colombianos, incluyendo 60% q no voto. Apoyamos diálogo incluyente. La Paz es obra d todos https://t.co/8n021LjGBm
— Luis Almagro (@Almagro_OEA2015) 3 de outubro de 2016
A Unasul (União de Nações Sul-Americanas), por sua vez, parabenizou, por meio de comunicado, o povo colombiano por seu “espírito democrático e o comportamento cívico para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura”.
O órgão também afirmou que irá continuar apoiando a Colômbia para que se a alcance a paz por meio do diálogo e entendimento.
Nações e chefes de Estado
Alguns países e chefes de Estado também se pronunciaram com relação ao resultado da consulta popular na Colômbia.
Em coletiva de imprensa com a porta-voz das Relações Exteriores, Maja Kocijancic, a União Europeia afirmou “respeitar” o voto dos colombianos, bem como as decisões que serão tomadas no futuro. A UE havia retirado as FARC de sua lista de grupos considerados terroristas no último dia 26.
O Parlamento Europeu, por sua vez, sugeriu que o “diálogo pela paz na Colômbia” seja retomado e pediu que o cessar-fogo não seja rompido apesar do resultado de domingo.
Agência Efe
Parlamento Europeu pediu que cessar-fogo entre governo e as FARC continue em vigor
Já a Noruega, que participou das negociações de paz como fiador, disse apoiar a retomada das negociações, apesar de estar “decepcionada” com o resultado de domingo (02/10).
“Acredito que a causa é que a Colômbia está muito polarizada. Muitos não querem que as FARC participem do processo político nem que seus líderes recebam penas menores”, disse o ministro das Relações Exteriores norueguês, Borge Brende, à emissora local pública NRK.
Brende afirmou que a Noruega voltará à mesa de negociação em Havana, onde ele disse esperar que se possa avançar a partir do acordo já firmado. “[Esperamos] continuar com o cessar-fogo e tentar encontrar soluções nos próximos dias”, afirmou.
México
A Chancelaria do México também se dirigiu à Colômbia, ainda no domingo, desejando que o país continue buscando novos caminhos rumo à paz.
“O México faz votos de que a Colômbia continue explorando todos os caminhos possíveis para avançar de maneira unida rumo a um futuro de paz e prosperidade”, disse a Secretaria de Relações Exteriores mexicanas em comunicado.
Na Venezuela, a chanceler Delcy Rodríguez comentou o resultado do plebiscito colombiano, afirmando que “a paz na Colômbia é irreversível”, independentemente do resultado da consulta.
Agência Efe
Chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, afirmou que paz na Colômbia é “irreversível”
“Nos lugares mais afetados pela guerra na Colômbia ganhou o sim. Na Venezuela [onde colombianos vivendo no país puderam votar] ganhou o sim”, disse ela.
Na Alemanha, o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmer, pediu que o governo colombiano e as FARC “mantenham a busca pela paz”.
Em comunicado, ele qualificou o resultado do plebiscito como “desagradável surpresa” e “grande decepção”, mas disse “confiar” na vitória da paz.
“Os responsáveis políticos estão em dívida com as vítimas e seus parentes para que a recém-concebida esperança de paz não volte a ser destruída. A violência, os assassinatos e os mortos não podem começar de novo”, afirmou.
Rússia
A Rússia, por sua vez, não comentou o resultado do plebiscito diretamente, reiterando apenas seu apoio a uma solução política ao conflito na Colômbia.
“Reiteramos nossa invariável postura a favor de uma solução política do conflito armado na Colômbia em prol do progresso social e econômico desta nação amiga da América Latina”, disse comunicado da Chancelaria russa.
Na França, o próprio presidente, François Hollande, se dirigiu ao país latino-americano, transmitindo apoio a Santos e elogiando sua “coragem política” por querer encerrar o conflito com as FARC que durou mais de meio século.
“A França está agora mais que nunca do lado das autoridades e do povo colombiano para dar todas as oportunidades à paz e ao reatamento do diálogo”, afirmou o mandatário francês em comunicado.
América do Sul
Na América do Sul, o presidente do Equador, Rafael Correa, realizou um breve comentário em sua conta do Twitter com relação ao resultado do plebiscito.
“Venceu o não na Colômbia, mas todos asseguram querer a paz. O presidente Santos diz que continua o cessar-fogo. Tomara que vença finalmente a paz”, escreveu Correa.
Venció el NO en Colombia, pero todos aseguran querer la paz.
Pdte. Santos dice que continúa cese al fuego.
Ojalá venza finalmente la PAZ.— Rafael Correa (@MashiRafael) 3 de outubro de 2016
No Brasil, o presidente Michel Temer emitiu em conjunto com o ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmando respeitar a decisão do plebiscito, pediram que a Colômbia prossiga na busca por uma solução pacífica pela paz.