A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou neste domingo (22/10) que decidiu anular a nomeação do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, como embaixador da Boa Vontade do órgão.
“Ouvi cuidadosamente todos aqueles que expressaram preocupação e todos os diferentes pontos destacados”, disse em comunicado o diretor-geral da OMS, o ministro da Saúde etíope, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A escolha, anunciada na Conferência Mundial sobre Doenças Não Transmissíveis, realizada no Uruguai, gerou muitas críticas da comunidade internacional.
Mugabe tinha sido nomeado embaixador da Boa Vontade para as doenças não transmissíveis na África. O objetivo era que ele influenciasse os políticos da região a dar prioridade a esse tipo de doença, disse Tedros ao anunciar a indicação.
No entanto, as críticas à decisão chegaram rapidamente, tanto de governos – como o do Reino Unido e do Canadá – que são doadores importantes para os programas do órgão, como de organizações não governamentais que atuam nas áreas de direitos humanos e saúde.
picture alliance/AP/T. Mukwazhi
Robert Mugabe ao lado de sua esposa, Grace, nas festividades de seu aniversário de 93 anos
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Reputação da OMS
Um porta-voz do governo britânico disse que a nomeação de Mugabe para ajudar a combater doenças não transmissíveis colocava em risco a reputação da OMS, acrescentando que seu governo registrou as suas preocupações junto ao diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Quatro dias depois da indicação, Tedros teve que voltar atrás. “Consultei o governo do Zimbábue e cheguei à conclusão de que essa decisão é do melhor interesse da OMS. Agradeço a todos que me fizeram ouvir suas vozes e compartilharam seus pensamentos. Confino no debate construtivo para ajudar e informar sobre o trabalho para o qual fui eleito”, afirmou o diretor-geral da OMS.
Sem justificar porque havia escolhido Mugabe, presidente do Zimbábue há 37 anos, um país onde a liberdade política é restrita, Tedros disse que todos devem construir pontes para chegarmos à meta da cobertura universal da saúde no mundo.
Críticas do Zimbábue
Após a instituição ter decidido anular a indicação, o governo do Zimbábue pediu neste domingo ao diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) para defender a nomeação do presidente do país, Robert Mugabe, como embaixador da Boa Vontade do órgão. O ministro de Educação Superior, Jonathan Moyo, disse que a OMS perde o respeito se reverter a decisão.
O anúncio, feito no início da semana no Uruguai, provocou confusão e raiva entre ativistas, que apontam que o sistema de saúde do Zimbábue, como também muitos dos serviços públicos, entrou em colapso sob o regime autoritário de Mugabe.
O chefe de Estado também tem sido criticado por viajar para o exterior para tratamento médico, enquanto a economia antes próspera do Zimbábue se desmantela. Mugabe também sofre sanções da ONU devido a abusos contra os direitos humanos em seu governo. Com 93 anos, ele é atualmente o chefe de Estado mais velho do mundo e se encontra no poder desde a independência do país em 1980.
O país sofre atualmente uma grave crise econômica. Os preços dos produtos farmacêuticos subiram quase 70% devido a escassez crônica de dólares para importação.
CA/efe/dw