Atualizada em 26/04/2018 às 11:52
A Grã Bretanha conhece em 4 de maio de 1926 uma greve geral de amplitude jamais vista. Os trabalhadores cruzaram os braços em solidariedade aos mineiros, aos quais o governo impôs autoritariamente uma redução salarial a fim de “restaurar a competitividade do carvão nacional”. Era a consequência de uma desastrosa revalorização da libra esterlina, no ano precedente, feita pelo então Ministro das Finanças, Winston Churchill.
Diante da intransigência do governo conservador do primeiro-ministro Stanley Baldwin, os mineiros e seus sindicatos, o Trades Union Congress, acabaram por arriar armas. Somente recobrariam semelhante combatividade meio século mais tarde.
A Grã Bretanha passava nos anos 1920 por uma situação social e econômica extremamente difícil, em consequência da Primeira Guerra Mundial. Nos meses que se seguiram ao final do conflito, uma série de greves operárias acompanhou o retorno à paz e uma complicada transição, marcada por uma forte alta do desemprego e da inflação.
Os sindicatos estavam em seu auge e exigiam que os poderes públicos continuassem a intervir na economia como haviam feito durante a guerra. Os conservadores, em contrapartida, se recusavam a fazê-lo pois viam nisso o primeiro passo em direção ao comunismo, sua obsessão.
Em 1924, o “espectro vermelho” se torna ainda mais ameaçador quando os trabalhistas do Partido Labour chegam ao poder, ainda que seu governo, dirigido por Ramsay MacDonald, nada tivesse de revolucionário. Alvo de uma moção de desconfiança, não tardou a cair, o que provocou novas eleições, em 29 de outubro de 1924, e o retorno dos conservadores ao poder.
Alguns dias antes das eleições de outubro de 1924, o Daily Mail, jornal conservador, publica uma carta do líder soviético Zinoviev em que se destacava que a reaproximação diplomática entre a Grã Bretanha e a União Soviética, desejada por MacDonald, seria uma tática para favorecer a revolução no país.
Essa carta, reflexo do temor experimentado pelo establishment, iria tornar mais difícil ainda a campanha trabalhista e facilitar a vitória dos ‘tories’ e de seu líder, Stanley Baldwin. Seria descoberto mais tarde que se tratava de uma fraude : a carta era falsa, redigida, sem dúvida, conjuntamente, pelos serviços secretos e o Partido Conservador.
Churchill, que se havia afastado dos tories, seu partido de origem, faz um retorno marcante ingressando como ministro das Finanças no governo Baldwin. Nesse cargo, tomaria em 21 de setembro de 1925 a medida que ele mesmo viria a julgar como “o maior disparate de minha vida”: o retorno da libra esterlina à paridade de antes da guerra. Era a vitória dos rentistas da Bolsa londrina, a City, em detrimento dos industriais, com o encarecimento do preço das exportações britânicas.
O setor carbonífero, outrora a ponta de lança do poderio britânico, é o primeiro a ser atingido.
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Durante a Primeira Guerra Mundial, o governo assumiu o controle do carvão, e o Partido Trabalhista exigiu em 1919 sua nacionalização. Os mineiros obtiveram algumas conquistas como a jornada de 7 horas, jogando, porém, para depois a questão da propriedade das minas e, sobretudo, a reestruturação do setor. Muitas empresas mineiras, no entanto, mostraram-se demasiado frágeis para resistir aos sucessivos choques, como a retomada das exportações alemãs em 1924.
Os donos das minas, confrontados com déficits cada vez mais vultosos devido à valorização da libra, exigiram um retorno à jornada de 8 horas e uma importante redução salarial. Diversos acordos permitiam ao governo manter os salários no mesmo nível por meio de subvenções, contudo, em 1926, a situação passou a ser insustentável.
Em 3 de maio, as negociações entre os proprietários e os mineiros são interrompidas. O governo se dispõe a diminuir o salário dos trabalhadores. O Trades Union Congress, que representava o conjunto dos sindicatos dos assalariados, decide, em histórica assembleia, lançar, a partir do dia seguinte, a palavra de ordem de greve geral em todo o país em solidariedade aos mineiros.
As classes média e alta se dispõem em massa a conduzir as locomotivas, o que só contribui para aumentar o caos. A greve logo se estende à venda dos jornais, acusados pelos operários de dar uma visão bastante hostil à greve.
Esse endurecimento de posições aniquilou qualquer esperança de uma solução negociada. Finalmente foram os grevistas que primeiro cederam: surgem tensões entre os mineiros e outras categorias de trabalhadores. Numa mensagem radiodifundida, o primeiro-ministro Baldwin, diante de tal situação, aprofunda o fosso ao denunciar a greve geral como ilegal, apesar de reconhecer a legitimidade do movimento dos mineiros.
Por fim, o Trades Union Congress aceita encerrar a greve geral a partir de 8 de maio, na prática abandonando os mineiros à própria sorte.
Os mineiros prosseguiriam em seu movimento, mas retornariam ao trabalho no outono, a partir de setembro, com os salários bastante reduzidos e as jornadas de trabalho alongadas. Esse fracasso iria debilitar os sindicatos por gerações.