Atualizada em 03/07/2016
A Copa do Mundo de 1954 ocorreu na Suíça. A opinião generalizada dos críticos desportivos era que a Hungria, indiscutivelmente favorita, seria inevitavelmente a campeã. Sua brilhante equipe, comandada pelo genial jogador Ferenc Puskas, conhecido como o “Major Galopante”, parecia irresistível. Afinal, tinha conquistado a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Helsinqui de 1952, exatamente contra a Iugoslávia, à época posta à margem das nações socialistas pelo seu “desviacionismo titoísta”.
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Estádua de bronze em homenagem aos heróis da conquista do primeiro título mundial alemão em frente ao Fritz Walter Stadion
A Inglaterra havia sido esmagada pouco antes do campeonato, em dois jogos amistosos que tiveram como palco o emblemático estádio de Wembley. Invicta havia 22 jogos (19 vitórias), a magiar enfrentaria a pátria-mãe do futebol, que estava invicta em Wembley, e não perdia um jogo em casa para uma seleção não britânica desde 1901.
Para a imprensa inglesa, aquela tarde de quarta-feira de 25 de novembro de 1953 seria o “Match of the Century” – o jogo do século. Na época, se existisse uma grande seleção que conquistasse títulos e fizesse história, os ingleses faziam questão de chamá-la para uma partida amistosa no imponente estádio de Wembley para um tira-teima. Lá, a tal grande seleção perdia o jogo e os ingleses continuavam com a soberba de “melhores do mundo”, “inventores e imbatíveis do futebol mundial”.
Os ingleses fizeram um convite para uma tal seleção húngara que encantava a todos com um futebol revolucionário e envolvente que havia tido seu grande momento com o ouro olímpico em 1952.
Para a Inglaterra, aquilo não era nada. Era preciso passar pelo teste definitivo em Wembley para ver se os magiares eram mesmo bons. No dia da partida, 100 mil pessoas lotaram o santuário da bola para assistir a mais uma vitória inglesa, como previa a maioria. Porém, em campo, o que todos viram foi um baile de jogadores altamente técnicos e totalmente à frente de seus adversários, de seu tempo e da própria e velha Inglaterra.
A Hungria de Puskás, Kocsis, Budai, Czibor e Hidegkuti aplicou sonoros 6 a 3 nos “senhores do futebol” e não só venceu o mais importante amistoso de todos os tempos, como estabeleceu feitos notáveis: foi a primeira seleção fora da Grã-Bretanha a vencer a Inglaterra em Wembley, mostrar a todos um novo e diferente esquema de jogo (4-2-4) e provar que o ouro olímpico de 1952 não havia sido mera coincidência. A Hungria era mesmo uma seleção imortal. E sensacional. Houve a revanche, desta vez em Budapest, no Nepstadium, em 23 de maio de 1954. E a Hungria aplicou sonoros 7 a 1.
Mundial na Suíça
As duas primeiras partidas da Copa do Mundo resultaram em fantásticas goleadas para a Hungria: 9 a 0 contra a Coreia do Sul e 8 a 3 contra a Alemanha Ocidental, se bem que esta jogou com muitos reservas.
A sequência da competição reservou aos húngaros jogos mais difíceis e até encrespados. Ganharam do Brasil por 4 a 2 e em seguida, numa partida duríssima, definida apenas na prorrogação, marcada por contusão de Puskas e brigas entre os jogadores no finalzinho, bateram o Uruguai por 4 a 2. A equipe da Hungria estava qualificada para a final, em 4 de julho, contra a Alemanha Ocidental.
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A Alemanha, por seu lado, depois de perder da Hungria, ganhou da Turquia por 7 a 2, da Iugoslávia por 2 a 0 e da Áustria por 6 a 1.
A partida começou bem para os húngaros que rapidamente avançam no placar por 2 a 0, com gols marcados aos seis e aos oito minutos de jogo. A Alemanha consegue empatar ainda no primeiro tempo. O segundo tempo foi dramático, os alemães resistiram aos sucessivos ataques dos húngaros. Os torcedores germânicos começaram a cantar o hino nacional alemão “Deutschland über Alles”.
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Foto da final de 1954 diante do novo estádio suíço de Wankdorf
Faltando cinco minutos para o término do tempo regulamentar, Helmut Rahn marca o gol que deu o título para a Alemanha Ocidental. Os locutores alemães enlouquecidos e o país inteiro, ouvidos no rádio, se puseram a celebrar a Alemanha como um Estado como os demais, legitimado por este resultado esportivo, que permitiria virar a página do nazismo e voltar os olhos para o futuro.
No entanto, a esmagadora maioria dos amantes do futebol lamentam até hoje aquele dia 4 de julho em que a chuva incessante impediu os húngaros de Puskas de desenvolver sua arte no gramado de Wankdorf Stadium, em Berna.
Esta epopeia desportiva ficou registrada no excelente filme “O Milagre de Berna”, de 2003, dirigido por Sönke Wortmann. As lembranças do jogo que deu à Alemanha seu primeiro título mundial são mostradas por intermédio da família Lubenski que vive na pequena cidade de Essen-Katernberg.
Veja o filme aqui: