A música de Camille Saint-Saëns gerou um vasto leque de reações, que vão da admiração por seu extraordinário talento juvenil à exasperação frente a seu extremado conservadorismo na velhice. Curiosamente, com exceção de O Cisne, o trabalho que o fez mais famoso, a suite “O Carnaval dos Animais”, jamais foi executado em vida, pois Saint-Saëns temia que sua imagem pública de compositor sério pudesse ser afetada.
Tendo o pai morrido em 1835, quando tinha apenas três meses, recebeu as primeiras lições de piano da tia-avó, Charlotte Mason. Aos sete anos, organizou seu primeiro concerto, no qual tocou, no piano, parte da sonata para violino de Beethoven. Um recital na Sala Pleyel precedeu seu ingresso no Conservatório de Paris, onde em 1850 estudou composição com o mestre Halévy. Encontrou-se ali com Franz Liszt, cuja personalidade e música lhe causaram grande impressão. Passou a frequentar o famoso salão de Rossiniem, em Paris, mantendo grande contato com o mundo da música. Possuía extrema facilidade e memória musical: tocava todas as sonatas para piano de Beethoven de cor.
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Foi organista na Église de la Madeleine, em 1857, quando pôde demonstrar a devida preocupação com a estrutura e a articulação musical, assim como uma notável fluidez no fraseado por meio de uma tonalidade lúcida. O primeiro Concerto para Piano (op. 17) apareceu em 1858 e os primeiros dois concertos para violino surgiram logo em seguida.
Após fracassar pela segunda vez na tentativa de ganhar o Prêmio de Roma em 1864, Saint-Saëns voltou sua atenção para a ópera: O Som do Dinheiro (1864-5) permaneceu em manuscrito até 1877. A segunda ópera, A Princesa Amarela estreou em 1872 e teve pequena receptividade. A terceira, Sansão e Dalila, estreiada em Weimar, teve de esperar até 1892 para ser encenada em Paris. A quarta, Etienne Marcel, foi friamente recebida em Lyon em 1879.
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Ao seu insucesso com óperas opôs-se a aclamação de sua música orquestral. No final dos anos 1860 já tinha criado uma impressão altamente favorável. Vieram os três concertos para piano e suas peças orquestrais mais populares. A sequência de êxitos foi interrompida apenas com a eclosão da guerra franco-prussiana, em 1870. Durante os anos 1870 deu início a uma série de turnês pela Europa, que o galgou a uma grande proeminência internacional,maior que qualquer outro compositor francês de sua geração. O sucesso de sua Dança Macabra, de 1874, foi estrondoso.
Saint-Saëns gostava muito de viajar. Movido por impulsos súbitos, fazia excursões repentinas às partes mais distantes do planeta, dava-lhe prazer conhecer lugares exóticos. Visitou a Espanha, as Canárias, o Ceilão, a Indochina, o Egito e esteve várias vezes na América. Participou de concertos no Rio de Janeiro e São Paulo em 1899, com a colaboração de Luigi Chiafarelli, uma figura de destaque no ambiente musical brasileiro.
A despeito de seu contínuo sucesso, Saint-Saëns tornou-segradualmente reacionário. A guinada em sua vida ocorreu em 1875. Aos 40 anos teve um romance tempestuoso com Marie-Laure Truffot, de 19, casando-se com ela contra a vontade de sua mãe. Os dois filhos do casal morreram em curto espaço de tempo – um, ao cair do quarto andar da residência, e o outro, seis semanas depois, por conta de uma infecção.
Os anos 1880 foram produtivos. O 2º Concerto para Violino surgiu em 1880, enquanto a famosa Habanera op.83 foi publicada em 1887. A celebrada Sinfonia nº 3 para Órgão em dó menor foi concluída no mesmo ano. Em seus anos de maturidade compôs as mais populares obras, como o vibrante Introdução e Rondó Capriccioso para violino.
Permaneceu rotulado como o mais reacionário artista do establishment musical, sendo um dos mais vociferantes críticos de Debussy e seus seguidores. Tornou-se também progressivamente xenofóbico. Durante a Primeira Guerra Mundial, publicou artigos defendendo que se proibisse a execução de qualquer música germânica na França.
Também nesta data:
1773 – Tem início nos EUA a revolta do “Boston Tea Party”
1916 – É assassinado o místico russo Rasputin
1965 – Morre aos 75 anos o tenor italiano Tito Schipa
1990 – Padre Jean-Bertrand Aristide é eleito presidente da República do Haiti