Efe
Manifestante russa compara Putin a Muamar Kadafi, Josef Stalin e Adolf Hitler durante protesto em Moscou
Uma neve muito fina caía quando cerca de 15 mil pessoas se reuniram nesta segunda-feira (05/03) no centro de Moscou para protestar contra o resultado das eleições presidenciais e os milhares de casos de fraude noticiados em toda a Rússia.
A sempre movimentada Praça Pushkin se cobriu de bandeiras de diferentes grupos políticos, incluindo aqueles que não puderam se apresentar nas eleições. Uma bandeira com o símbolo do Facebook também foi vista entre a multidão. Muitas pessoas carregavam faixas que diziam “Moscou não acredita em lágrimas”, em referência ao famoso filme de mesmo nome e às lágrimas do presidente eleito Vladimir Putin no domingo (04/03).
No protesto, os líderes da oposição se revezavam no palco montado na praça. “Vocês nos roubaram”, gritou o famoso blogueiro Aleksey Navalny. O candidato Mikhail Prokhorov foi muito aplaudido, confirmando a popularidade que lhe garantiu o segundo lugar na capital russa, com 20,44% dos votos. Mas também recebeu vaias daqueles que ainda veem com cautela a candidatura de um oligarca.
Eleitor russo vota mais de uma vez durante as eleições neste domingo:
“Rússia sem Putin”, “Ladrões devem estar na cadeia” e “Slava Rossiya! Urá” (Glória à Rússia! Urá!) foram algumas das frases repetidas pelos manifestantes.
No entanto, muitos jovens anti-Putin, decepcionados com o resultado eleitoral, não quiseram participar do ato. “Não entendo por que as pessoas estão aqui se manifestando. Putin ganhou. Agora temos que seguir adiante, nada mais”, declarou ao Opera Mundi Aleksey Savich, moscovita de 31 anos, que havia participado dos últimos protestos da oposição.
Não muito longe dali, ao lado da Praça Vermelha, outros milhares de pessoas celebravam a vitória de Putin no primeiro turno das presidenciais russas. No encontro governista, menos discursos e mais música. Bandeiras da Rússia eram agitadas e muitas pessoas levavam broches com o rosto do presidente eleito.
Apenas dois quilômetros separavam as duas manifestações. Na Rua Tverskaya, que liga a Praça Pushkin (onde se concentrava a oposição) à Praça do Manej (com os partidários de Putin), milhares de policiais formavam cordões de isolamento para evitar enfrentamentos entre os dois grupos.
Muitos caminhões anti-distúrbios também estavam parados na rua para garantir a segurança. O número de policiais próximo à manifestação da oposição era visivelmente maior que o contingente deslocado próximo à manifestação pró-Putin.
Falsificações
A ONG Golos informou que recebeu a denúncia de pelo menos cinco mil casos de falsificações. Apesar de o Comitê Eleitoral ter instalado câmeras que transmitiram ao vivo, através de uma página na internet, tudo o que acontecia dentro dos colégios eleitorais, inúmeras pessoas foram flagradas colocando mais de uma cédula nas urnas ou votando em grupo, muitas vezes com um superior ao lado.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Policiais chegam para a manifestação em Moscou contra a vitória do ex-premiê russo Vladmiri Putin
Em Moscou, observadores encontraram uma intrigante frase escrita ao lado do nome de alguns eleitores, na mesa de votação: “Ele/Ela não virá”. Ao que tudo indica, funcionários dos colégios eleitorais já haviam deixado indicado aqueles que normalmente não comparecem às eleições, facilitando assim que este voto seja usado (presumidamente) a favor do partido governista.
Stanislav Govorukhin, chefe da campanha de Putin, qualificou as eleições como “as mais justas da história”. Segundo ele, “as falsificações não chegam nem a 1% do total. Em qualquer país civilizado, estas eleições seriam consideradas válidas. A oposição fala de uma fraude massiva, mas isso só pode ser uma piada”.
Muitos observadores denunciaram também que foram ameaçados e obrigados sair dos colégios eleitorais. Jornalistas relataram os mesmos problemas em muitas partes do país.
Próximos passos da oposição
A vitória de Putin parece ter despertado a insatisfação de uma parcela dos russos, mas somente os acontecimentos dos próximos meses dirão se a oposição, ainda concentrada na classe média urbana, terá gás para organizar a sociedade civil.
Mikhail Prokhorov prometeu não abandonar aquelas pessoas que votaram nele e há rumores de que o bilionário pretende fundar um partido político.
A oposição prometeu acampar no centro de Moscou caso o processo eleitoral não fosse transparente. No entanto, a prefeitura da capital russa já informou que não permitirá que os protestos na cidade se prolonguem.
Os russos parecem estar mais dispostos a se resignar à vitória de Vladimir Putin do que a continuar os embates nas praças e ruas do país. Esta manhã, quando perguntado se participaria do ato contra o resultado eleitoral, um jovem foi categórico: “Hoje não. O Dínamo (time de futebol local) joga esta noite e eu não quero perder a partida”.
A figura da estabilidade e da segurança, apesar de criticada, mais uma vez venceu na Rússia.
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