Uma das vencedoras do Prêmio Nobel da Paz em 2011 e presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, disse que não irá alterar uma lei que criminaliza “práticas homossexuais” no país. Além da posição adotada por Sirleaf, liberianos propuseram nos últimos meses novas leis que endurecem o tratamento à comunidade no país.
Efe
Sirleaf foi eleita presidente em 2006 e reeleita no ano passado
A atual legislação da Libéria já entende como crime a prática da “sodomia voluntária”. No entanto, as novas propostas do Legislativo, caso sancionadas, poderão render pelo menos cinco anos de prisão para quem “seduzir, encorajar ou envolver outra pessoa do mesmo gênero em atos que levem às relações sexuais”.
Uma outra lei, idealizada pela ex-mulher do ex-presidente Charles Taylor (1997-2003), Jewel Howard Taylor, tornaria o casamento gay um crime passível de 10 anos de detenção. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a ex-primeira dama afirmou que a homossexualidade é “uma ofensa criminosa, um problema da nossa sociedade, não é algo africano”.
Ao defender a atual legislação do país, Sirleaf disse que “nós temos certos valores tradicionais em nossa sociedade e gostaríamos de preservá-los”. As declarações aconteceram durante uma entrevista que a presidente concedeu ao lado do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Diante do discurso de Sirleaf, Blair mostrou-se incomodado com a situação e afirmou que não falaria sobre o assunto.
“Não lhe darei essa resposta”, afirmou Blair à jornalista que conduzia a entrevista. O ex-premiê está na Libéria em razão do AGI (Africa Governance Initiative), uma instituição de caridade que diz ter o objetivo de fortalecer os governos africanos.
“Uma das vantagens do que estou fazendo agora é poder escolher as questões nas quais eu quero entrar e aquelas que eu não quero. Para nós, as prioridades estão na área energética, de estradas e criação de empregos”, afirmou a presidente. Logo depois, Sirleaf disse que, na Libéria, a AGI tem “termos específicos” para tratar e que “isso é tudo o que esperamos deles”.
Com a reação de Blair, claramente desconfortável com a situação, a presidente tentou defender seu posicionamento. Ela afirmou que as medidas visam a “reforçar nossas leis locais. Não se trata de uma tentativa de banir os homossexuais”.
O tema voltou a ser debatido no país africano depois que a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, declarou em dezembro que Washington utilizará parte de seu orçamento destinado à política externa para promover o cumprimento dos direitos dos homossexuais.
Desde então, receosos de que a postura norte-americana pudesse chegar ao país, jornais liberianos passaram a divulgar artigos e editorais nos quais a homossexualidade é classificada como algo “abusivo” e “abominável”.
“Nos últimos seis meses, temos visto um preocupante crescimento da retórica anti-gay, da intolerância e de ataques contra os direitos dos homossexuais liberianos”, afirmou Corinne Dufka, pesquisador da ONG Human Rights Watch na África, em entrevista ao Guardian.
A presidente foi condecorada com o Nobel da Paz em 2011 por seu trabalho pelos direitos das mulheres. Aos 73 anos, Sirleaf foi eleita a primeira presidente de um país africano em 2006 e foi reeleita no ano passado.
Para Tiawan Gongloe, procurador-geral do país, Sirleaf assumiu esta posição em relação aos homossexuais para estabelecer laços políticos com outros partidos do país. Em entrevista também ao Guardian, Gongloe afirmou que a Libéria precisa de educação pública para começar a debater a questão da homossexualidade. “Nossa sociedade ainda não no momento de se ter uma conversa cívica a respeito desse assunto”, declarou.
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