Marilia Assad/Opera Mundi
Centenas de milhares de pessoas marcharam pelas ruas de Madri contra a política de austeridade do governo
A Espanha amanheceu nesta sexta-feira (30/03) sem pressa, após 24 horas de paralisações organizadas pelos principais sindicatos do país, o CCOO (comissões operárias) e a UGT (União Geral de Trabalhadores). O “29M”, como ficou conhecida a greve geral, refletiu a insatisfação dos espanhóis com os cortes de gastos públicos num país de 5, 3 milhões de desempregados e com uma reforma trabalhista imposta por decreto que barateia a demissão.
Segundo os sindicatos, a adesão à greve foi de 77%. Nos setores da indústria, transporte, construção e agricultura, a paralisação alcançou 95%. O setor público e o de serviço apresentaram os números mais baixos de adesão, com quase 50% em cada um.
O governo minimizou o impacto da greve. De acordo com o Executivo, que divulgou apenas os números do setor público, a paralisação dos funcionários desse setor não ultrapassou 17%.
As manifestações aconteceram em um ambiente festivo e tranquilo em quase todo o país. Apenas em Barcelona ocorreram incidentes mais graves de confronto entre a polícia e alguns manifestantes, resultando em 44 pessoas feridas e 71 detidas.
Em Madri, a passeata reuniu centenas de milhares de manifestantes, levando às ruas pessoas de todas as idades, ligadas ou não a algum movimento social ou organização sindical. Durante todo o dia, os ruídos dos helicópteros sobrevoando o centro da cidade e as sirenes dos carros da polícia fizeram parte da jornada de protesto. Os cartazes, em grande parte irônicos e bem humorados, traduziam as reivindicações e o descontentamento de uma sociedade que tem quase 23% da população ativa desempregada.
“Eu estou aqui porque o governo vem ignorando há meses as paralisações e protestos que temos feito contra os cortes na educação”, afirmou Carmen Cruz, de 38 anos, professora do ensino fundamental que participava da caminhada com um grupo de professores e alunos. Todos usavam uma camisa verde, identificando-os como parte do movimento marea verde (maré verde). O movimento nasceu no final do ano passado contra os cortes orçamentários na educação.
O ambiente nas ruas de Madri era diferente do da última greve geral de setembro de 2010, convocada em resposta à reforma trabalhista do governo socialista. Naquele momento, muitos trabalhadores ainda acreditavam que a crise econômica seria de curta duração e também que as políticas de austeridade do governo seriam menos severas.
“Indignados”
Em maio de 2011, entre essas duas greves, surgiu o movimento dos indignados, conhecido também como movimento “15M”. Milhões saíram às ruas em maio, junho e outubro do ano passado. Foram mobilizações massivas criticando os cortes sociais e que também resultaram na criação de um movimento nacional contra o despejo das inúmeras famílias que já não podiam arcar com as dívidas de suas hipotecas.
Marilia Assad/Opera Mundi
As principais queixas são os cortes de gastos públicos e a reforma trabalhista, que barateia a demissão
“Eu não estive na greve geral de 2010. Sentia-me pouco representado pelos sindicatos. Foi a partir do movimento 15M que comecei a participar mais ativamente das manifestações”, contou Jorge Nuñez, de 27 anos, estudante de uma pós-graduação em economia e que está desempregado há quase um ano.
Quando a greve geral foi convocada, os principais jornais de linha editorial mais próxima ao novo governo do Partido Popular (PP, de direita) acusaram os representantes da UGT e CCOO de agirem com objetivos puramente políticos. O principal argumento foi de que os sindicatos sequer esperaram os 100 primeiros dias do governo de Mariano Rajoy antes de tomar esta decisão.
Para a patronal, a greve só traz mais prejuízos a um país submerso numa grave crise econômica, além de piorar a imagem da Espanha na União Europeia.
Na emblemática Praça de Sol, em Madri, os líderes sindicais advertiram que seguirão convocando os trabalhadores até que o governo aceite negociar e modificar substancialmente a reforma laboral. Rajoy tem até dia 1º de maio para dar uma resposta.
A ministra do Trabalho, Fátima Bañez, disse que “a parte fundamental da reforma trabalhista não sofrerá modificações”, e anunciou ainda que o governo dará continuidade a sua agenda reformista.
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