As declarações sobre a Grécia da diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, que se referiu em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian, entre outras coisas, aos que “em todo momento” procuram “não pagar impostos”, geraram críticas de dirigentes europeus.
“Ninguém pode humilhar o povo grego durante a crise, e dirijo-me em particular à senhora Lagarde (…), que com a sua posição insultou os gregos”, disse o líder do PASOK, Evangelos Venizelos, em comício no sábado à noite. “Peço-lhe que reveja e reconsidere o que queria dizer”, acrescentou Venizelos, cujo partido, quando no governo, aplicou o programa de austeridade imposto pela 'troika' — FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia — em troca do empréstimo internacional.
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Em declarações ao Guardian, Lagarde afirmou que os gregos devem “começar a se ajudar” pagando seus impostos, e declarou-se menos preocupada por seu destino do que pelo das crianças da África. Ao ser interrogada sobre as dificuldades do povo grego, Lagarde respondeu: “Em relação aos gregos, também penso nas pessoas que em todo momento buscam não pagar impostos”.
No sábado à noite, depois da polémica causada pelas declarações, Lagarde publicou uma mensagem na sua página do Facebook em que se diz “compadecida com a situação dos gregos” e afirma que “parte importante” do esforço para ultrapassar a crise é “que todos partilhem equitativamente o fardo, especialmente os mais privilegiados e, especialmente, pagando os seus impostos”.
Na França, a porta-voz do governo socialista francês, Najat Vallaud-Belkacem, classificou de “um pouco caricatural e esquemática” a visão de Lagarde, enquanto o líder da Frente de Esquerda, Jean-Luc Melenchon, afirmou que os funcionários não têm “nenhuma forma de não pagar impostos”, já que eles são deduzidos quando recebem seu salário. Ele ainda sugeriu que ela se demita. “Com que direito ela fala desta forma aos gregos?”, perguntou Mélenchon. “São declarações indignas. Se houvesse uma moral política, Lagarde devia abandonar o cargo que ocupa.”
A política de austeridade seguida na Grécia foi maciçamente rejeitada pelos eleitores nas legislativas de 06 de maio passado. O PASOK, que em 2010 aceitou a austeridade para evitar a bancarrota do país, foi um dos partidos mais castigados nas urnas, ficando em terceiro lugar, atrás da Nova Democracia (conservadores) e da coligação da esquerda radical Syriza.
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, considerou que “os trabalhadores gregos pagam seus impostos”, que são “insuportáveis”. “Em relação à evasão fiscal, (Lagarde) terá que se dirigir ao PASOK e ao Nova Democracia para que lhe expliquem por que não exigem nada do grande capital e perseguem o trabalhador de base há dois anos”, acrescentou.