Tibisay Monrroy Sánchez, de 36 anos, escuta atenta ao comício de seu candidato nas eleições presidenciais venezuelanas. Na tela da televisão de 42 polegadas, pregada sobre a parede recém-reformada, Hugo Chávez pede aos eleitores do Estado de Apure para que renovem a confiança em seu governo. “Espero que Chávez seja presidente até 2000 e sempre”, diz às gargalhadas a caraquenha, moradora do bairro de La Limonera.
Leia especial do Opera Mundi sobre a Era Chávez
Gustavo Borges/Opera Mundi
Tibisay assiste comício de Chávez: “ele não tem uma varinha mágica para mudar séculos de descaso com o povo em tão pouco tempo
A enfermeira da missão Bairro Adentro, dedicada à saúde, forma parte dos apoiadores da nova classe média venezuelana, surgida após a expressiva redução da pobreza durante os 14 anos de governo de Chávez. Desde 1998, mais de 30% da população trocou de estrato social, migrando dos segmentos mais pobres. No entanto, apesar de a maioria ter sido diretamente beneficiada pelas políticas sociais e econômicas do governo, o apelo do presidente já não ganha todos os corações.
“Eu votei por ele em 1998, confiei 100% em Chávez. Mas as coisas continuam muito ruins na Venezuela. A violência está altíssima e muita gente ainda vive como animais, ‘pendurada’ em barracos nos morros”, afirma Jorge Echeverría, de 50 anos, motorista particular. Ele aluga uma casa no bairro de La Pastora em Caracas, onde vive com a esposa – os dois ganham juntos cerca de 15 mil bolívares por mês (pouco mais de oito mil reais). “Agora vou apertar o botão de [Henrique] Capriles. Darei essa chance a ele.”
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Segundo dados do GIS XXI (Grupo de Pesquisa Social Século XXI), atualmente as classes A e B representam 8% da população da Venezuela, a classe C soma 17% enquanto outros 75% dos venezuelanos se localizam nos estratos sociais mais populares, as classes D e E. Em pesquisa feita pelo IVAD (Instituto Venezuelano de Análises de Dados) em setembro, Chávez deve liderar a votação entre todas as classes sociais, mas o apoio cai quando comparadas as classes C e D-E. Na classe C, Chávez reúne 48,9% e Capriles, 33,9%, enquanto nas outras o presidente lidera com folga, com mais de 53% das intenções de voto.
Estratégia
Resta aos chavistas saber como reconquistar parte desse eleitorado. “O problema do processo é disputar os corações e mentes desse novo contingente de classe média”, afirmou ao Opera Mundi o ex-ministro da Comunicação Jesse Chacón, atualmente diretor do GIS XXI. “Muitos dos que ascenderam socialmente graças às iniciativas governamentais abraçaram os valores morais e culturais das elites, cujo modo de vida é sua referência”.
O ex-militar, que participou da tentativa de golpe liderada por Chávez em 1992, focaliza especialmente a preservação das aspirações consumistas, o desapego a projetos e organizações coletivos, a negação da identidade original de classe e, às vezes, até de raça.
Efe (06/10/2012)
Muro com propaganda do candidato da oposição em Caracas. Capriles acena à classe média para ganhar eleições
Em busca desse voto, a campanha de Capriles promete preservar projetos fundamentais e unânimes de Chávez, como as missões sociais, mas o ataca em pontos estratégicos de insatisfação da população, como a violência e a forte polarização política. Moderando relativamente sua mensagem, se colocando como o “candidato de todos os venezuelanos”, Capriles tenta dialogar também com esse numeroso setor.
“Em 2010, eu e meu marido ganhávamos, juntos, 1,1 mil bolívares (521 reais). Agora ganhamos 12 mil bolívares (quase 5,7 mil reais) os dois. É evidente que a mudança foi imensa. O problema é que muita gente que vota em Capriles ainda não compreende o processo, que o presidente não tem uma varinha mágica para mudar séculos de descaso com o povo em tão pouco tempo”, conclui Tibisay.