Jonatas Campos/Opera Mundi
O sistema de votação venezuelano, que privilegia os partidos políticos ao invés de indivíduos, torna intensa a disputa entre as agremiações no seio das duas principais coligações no país: os partidos que compõem o Comando de Campanha Carabobo, do presidente Hugo Chávez e a MUD (Mesa da Unidade Democrática), que agrega as agremiações que estão com Henrique Capriles.
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[Propaganda do partido Primeiro Justiça, de Henrique Capriles, no bairro de Altamira]
Por trás da campanha polarizada entre dois projetos bastante distintos, está o corre-corre dos partidos para arrebanhar o máximo de eleitores para suas fileiras, tanto com vistas em cargos e posições em um futuro governo, quanto pela influência ideológica.
A urna venezuelana é composta por uma tela tátil, como se fosse um enorme aparelho celular touch screen, e uma pequena impressora. O eleitor escolhe seu partido de preferência, entre os atuais 39 que estão habilitados. Cada partido aparece com a foto do seu candidato.
“Vota abaixo e à esquerda”, diz os banners do partido Primeira Justiça, ao qual é filiado Capriles, afixados em diversos postes do bairro de Altamira, classe média alta de Caracas. “O coração do povo está acima”, apregoa a campanha chavista no centro da cidade, pedindo que os eleitores escolham por um dos partidos que apoiam o presidente que estão na parte superior da tela de votação. Há também os partidos que valorizam seu nome. “Podemos com Chávez”, diz a propaganda do partido Podemos. “Por Um Novo Tempo, abaixo e à direita”, pede a UNT (Um Novo Tempo), coligado com Capriles.
O UNT, por exemplo, tem 19 parlamentares, um titular e um suplente no Parlatino (Parlamento Latinoamericano) e 17 na Assembleia Nacional. Com uma das maiores votações no país, pode escolher onde posicionar-se na tela de votação de acordo com sua estratégia. “Isso nos permitiu fazer uma campanha com uma posição privilegiada, o que ajuda a equipe publicitária do partido a pedir aos eleitores para que votem abaixo e à direita, em contraponto ao governo que é acima e à esquerda”, diz Delsa Solórzano, deputada do Parlatino e dirigente do UNT.
O MEP (Movimento Eleitoral do Povo), movimento de esquerda aliado a Chávez, afirma que a meta é pontuar com cerca de 10% dos votos da coligação. “Estamos fazendo um trabalho entusiasmado, com crescimento em vários estados”, contou Wilmer Nolasco, secretário geral do partido.
Lembrando que “a grande fortaleza” que une os partidos governistas é o próprio Chávez, Nolasco critica a atuação do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), do presidente. “A revolução não é só do PSUV. Nós somos uma espécie de muro de contenção da militância que está se desiludindo com o tratamento do PSUV”, reclama. Mas, apesar da crítica, considera que Chávez será o grande vencedor essas eleições, porque se “comunica com o povo até debaixo de chuva”, disse, lembrando do comício da última quinta-feira (04/10).
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Delsa Solórzano, deputada do Parlatino e dirigente do UNT, defende que o critério é a competência, não o número de votos
O dirigente do PCV (Partido Comunista da Venezuela), Hector Rodrigues explica que seu partido, um dos mais antigos do país, faz “intensa campanha” para sua posição na tela. “A perspectiva é incrementar nossa votação para o presidente e refletir a necessidade de seguirmos avançando na acumulação de forças para que a classe trabalhadora passe a desempenhar um papel mais protagônico na construção do socialismo na Venezuela”, afirma, lembrando que o PCV influenciou na aprovação da nova lei do trabalho no país.
Cargos
Apesar da luta para conseguir mais votos e estar em maior número no próximo governo, os dirigentes chavistas e caprilistas são discretos quando o assunto são cargos no governo. Para Delsa Solórzano, a força dos partidos não influenciaria um hipotético governo de Capriles. “Henrique não fundamenta o ordenamento dos cargos de seu governo com base nos partidos políticos. Quando era governador do Estado Miranda, se ele tinha dois diretores do partido Primeira Justiça era muito. O critério é competência”, opina a deputada.
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Wilmer Nolasco coloca o MEP à disposição de Chávez. “Não estamos aspirando cargos, mas se o presidente acreditar que um homem ou uma mulher do povo possa acompanhá-lo nesse novo governo, claro que o MEP aceita o desafio”, sublinhou, esclarecendo que nos últimos 12 anos de governo Chávez sua agremiação não ocupou cargos de confiança.