Atualizada às 17h48.
A notícia da morte do presidente Hugo Chávez, anunciada nesta terça-feira (05/03), recebeu amplo e heterogêneo destaque da imprensa internacional e brasileira. Enquanto alguns veículos destacaram os avanços sociais e econômicos do país nos últimos 14 anos, outros se concentraram na desqualificação da biografia do falecido presidente.
Estados Unidos
O norte-americano Washington Post, em uma reportagem publicada no dia da morte do líder em sua edição online, intitulada “Chávez, apaixonado presidente venezuelano, mas que causava a polarização, morto aos 58 anos”, afirma que o líder “passou de um jovem soldado conspirativo que sonhava com a revolução, ao ferrenho líder anti-Estados Unidos de uma das maiores potências petrolíferas do mundo”.
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O jornal The New York Times da quarta-feira expôs em sua manchete que o líder venezuelano deixou uma “profunda divisão” em seu país. Para a publicação, o presidente ficou conhecido por sua eloquência e “ataques audazes”. “Um orador excepcionalmente dotado que desfrutava da atenção dos meios de comunicação”, expressou o veículo, alegando que o mandatário administrava as reservas de petróleo do país para consolidar seu poder.
A também norte-americana Time, por sua vez, elaborou uma capa para sua próxima edição latino-americana, na qual pela primeira vez estampa uma foto do líder venezuelano, em preto e branco. Em reportagem publicada no site da revista, na quarta-feira, a publicação retrata a “visível polarização nas ruas de Caracas”.
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“Enquanto apoiadores choravam pela morte do Comandante em pontos revolucionários, nos bairros mais ricos da cidade alguns admitiram brindar pela morte do presidente, esperando que o país volte ao que eles chamam de normalidade – o boom dos anos 1970 e 1980”, descreve o autor da reportagem.
América Latina
O jornal Granma, do comitê central do Partido Comunista cubano, por sua vez, publicou na primeira-página de sua edição do dia seguinte à morte do presidente venezuelano uma declaração do governo, na qual afirma que “toda obra de Chávez aparece invicta”.
“As conquistas do povo revolucionário que o salvou do golpe de abril de 2002 e o seguiu sem vacilação já são irreversíveis”, completa o comunicado, que afirma que “Cuba manterá eterna lealdade à memória e ao legado” do presidente venezuelano e que “persistirá em seus ideais de unidade das forças revolucionárias e de integração e independência” da América.
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Alguns jornais latino-americanos, como o colombiano El Tiempo, utilizaram em suas manchetes da última semana a expressão “Maré Vermelha”, constantemente reproduzida nos últimos dias para descrever a multidão de simpatizantes que saíram às ruas da capital venezuelana para chorar a morte, além de acompanhar e velar o corpo do presidente.
“Comoção e incerteza na esquerda latino-americana” foi a manchete escolhida pelo jornal conservador paraguaio ABC Color. Na edição, o veículo afirma que a morte do líder “deixa Cuba, a Nicarágua, e outros países de marcado caráter socialista, órfãos de petrodólares”. Também traz um texto sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul, que segundo a publicação “se deu às custas do Paraguai”.
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Hostilidade espanhola
Já o site do El Público, que deixou de ser impresso, publicou um artigo intitulado “Imprensa espanhola ignora que serão os venezuelanos que definirão seu futuro”, no qual analisa que todos os jornais do país “sugerem que a cúpula do regime atua para brindar o chavismo” e que questionam a legalidade da posse do vice de Chávez como presidente encarregado do país.
Um dos textos mencionados no artigo é o do jornal La Razón, que em uma matéria intitulada “Maduro dá o golpe do luto” afirma que “nunca houve uma Constituição com tantas interpretações como a venezuelana” e que o vice-presidente estaria assumindo o cargo “à margem da constituição”, apesar de a legalidade da posse ter sido corroborada pelo Tribunal Superior de Justiça do país, ao qual corresponde a interpretação da lei.
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Outro citado é o jornal El País, meio de comunicação espanhol que, no final de janeiro, publicou em sua primeira-página a foto de um homem, que dizia ser Hugo Chávez, respirando por um tubo, e posteriormente deveu pedir desculpas públicas pela falsidade da informação.
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O veículo acusou o Estado venezuelano, após a morte do mandatário, de “manobrar para entregar todo o poder para o vice-presidente”, com todos os recursos “à sua disposição”. A manchete da primeira edição impressa no dia seguinte ao falecimento do chefe de Estado foi “Doença derrota Chávez”.
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O interior da edição foi recheado de artigos hostis ao presidente, que traziam títulos como “O crepúsculo de um caudilho avassalador” e '”O golpista que triunfou nas urnas”. No mesmo tom, o jornal espanhol ABC, que anunciava “Chávez morre” em sua primeira página da quarta-feira, publicou títulos como “Um grande ego que resistiu a soltar o poder para se curar” e “Nasceu golpista, morreu ditador”.
Já o jornal El Mundo afirmou na quarta-feira que Maduro converteu a morte de Chávez “em um assassinato imperialista”, enquanto o obituário do presidente venezuelano foi intitulado de “O camaleão que quis ser [Simon] Bolívar”.
Ainda na Europa, a alemã Spiegel chamou Chávez, em um texto publicado quarta-feira em sua versão online, de “narcisista de Caracas”, mas reconheceu que o mandatário mudou a Venezuela e “virou o equilíbrio de poder na América Latina”. O presidente venezuelano também teve sua foto estampada na primeira página do britânico The Independent, com a manchete “Morre Chávez”.
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O jornal italiano La Repubblica, por sua vez, titulou “Morreu Chávez, o último caudilho”, enquanto o francês Le Figaro destacou a morte do venezuelano “mergulha” o país em “um novo período de incerteza”. Na versão online do jornal há reportagens sobre a incredulidade da população venezuelana frente à morte do líder e sobre a polarização no país.
Contraste no Brasil
O brasileiro Correio Braziliense circulou, após a morte do presidente venezuelano, com a imagem de um gorro militar vermelho sobre um fundo branco, abaixo da manchete “O fim de uma era”, em sua primeira página. O jornal expressa que durante mais de uma década em que comandou a Venezuela, Chávez defendeu a unidade latino-americana.
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Já a primeira edição revista brasileira Veja publicada após a morte do líder manteve o tom de oposição aos mandatários latino-americanos progressistas e suas políticas de esquerda, com uma capa na qual Chávez aparece com um olhar lateral sério, e metade de sua cara é coberta por uma sombra, com a manchete “Chávez, a herança sombria”.
“A maldição da múmia” foi o título escolhido para o texto da publicação sobre o mandatário venezuelano, no qual não há economia de qualificações negativas ao líder a suas políticas, como “ditador”, “bajulação dos tiranos”, “utopia do bem coletivo”, “demonização da classe média”, “dilapidação do patrimônio” e “sociedade amedrontada, mantida como refém de benesses e na mais total ignorância”, entre outras.
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O tom negativo é contraposto por outra revista semanal, a Carta Capital, que com uma gráfica colorida do rosto de Chávez, traz, na edição deste fim de semana, uma reportagem equilibrada, na qual expressa que o presidente venezuelano “lega ao seu sucesso muito entusiasmo popular”, mas também “uma situação econômica difícil de administrar sem seu carisma”.
A publicação repassa o anúncio da morte do líder bolivarianista, feito pelo então vice-presidente Nicolas Maduro, e afirma que apesar de “tantas teorias conspiratórias, contraditórias entre si”, difundidas por “jornalistas e boateiros”, “não há por que duvidar” que Chávez tenha de fato morrido no Hospital Militar Dr. Carlos Arvelo, em Caracas, na última terça-feira.
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“O clima de comoção e as inúmeras demonstrações de afeto e pesar só surpreenderam quem levava ao pé da letra a propaganda antichavista da mídia conservadora. Até as mídias que regularmente tratavam Chávez como ‘palhaço’ ou ‘tirano’ e davam a entender a leitores e expectadores no exterior que ele era desprezado ou odiado pela maioria e fraudava eleições para vencer foram obrigadas a cobrir e explicar essas manifestações e admitir que a política social do chavismo é muito popular”, manifesta o autor da reportagem.
Imprensa venezuelana
O jornal local El Universal, que realizava constante oposição ao presidente venezuelano, trouxe um artigo, na última sexta-feira, que afirma que “a sobrevivência do modelo político instaurado por Chávez tem ancoragens estruturais. O falecimento do Comandante encontra a Revolução muito mais enraizada e estabelecida do que esteve em outros momentos críticos”.
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“Quando foi derrocado brevemente em 2002, a situação das forças armadas era precária, a organização popular, quase nula; ainda não existiam as missões sociais, e a capacidade de mobilização opositora tinha alcançado seu máximo potencial. A pesar disso, o chavismo se sobrepôs e retomou o governo”, exemplifica o autor.