Avessa às polêmicas do teatro, Mariana Gomes, primeira brasileira a fazer parte do Bolshoi, ainda se diz abalada com o ataque ao diretor artístico. Também lembra que histórias de concorrência, ego e vaidade não são novidade no Bolshoi, pois já ocorriam antes de Sergey Filin.
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“Para sobreviver aqui, talento não é suficiente. É preciso ter muita inteligência e controle emocional. Eu prefiro não acreditar que um artista, por um papel, seja capaz de fazer isso”, diz Mariana.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Mariana Gomes é a primeira bailarina brasileira na história do Teatro Bolshoi
Na semana seguinte ao ataque, o balé La Bayadère estreou no palco principal do Bolshoi, com transmissão pelo YouTube. Filin falou com os bailarinos por Skype 15 minutos antes do espetáculo. “Foi muito emocionante. Estávamos todos chorando quando vimos Filin na câmera. É realmente uma injustiça que alguém tire o direito de outra pessoa de enxergar”, conta Mariana. No final da apresentação, a primeira bailarina pegou o microfone e dedicou a estreia ao diretor artístico hospitalizado, algo que nunca havia acontecido. “Ela pediu que todos aplaudíssemos para que Filin escutasse, já que agora ele não conseguia ver”.
Apesar dos problemas, Mariana não pensa em sair do Bolshoi. “Não vou largar o difícil por algo mais fácil. Estamos trabalhando no templo da dança”.
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“Temos que enfrentar isso todos os dias. Às vezes dá medo. Quando o Filin voltar, vai ser a prova de que ele ama a arte em primeiro lugar e que ele não tem medo de que façam nada com ele. Mais uma vez, mostrando que o artista é capaz de qualquer coisa pela arte. Ele não pensa nele, na saúde, nos perigos. É o simples amor à arte”.
Investigações e tratamento
Sergei Filin continua na Alemanha se recuperando de numerosas cirurgias para recuperar a sua visão. Em coletiva de imprensa em março, Filin declarou estar “cheio de força e fé” para voltar ao trabalho e afirmou não ter medo.
As investigações mais recentes apontam o bailarino Pavel Dmitrichenko como responsável pelo planejamento do ataque, que teria sido executado por dois homens. Dmitrichenko já havia brigado publicamente com Filin e supostamente estaria irritado com o diretor artístico do Bolshoi por este ter se recusado a colocar a sua namorada, Angelina Vorontshova, em papeis principais.
Nesta semana, o Bolshoi de Moscou apresentou a abertura do festival “100 anos da ‘Sagração da Primavera’ – 100 anos de Nova Arte”, em homenagem à obra de Igor Stravinsky, tida como um marco do balé no século XX.