Uma reportagem do jornal conservador britânico Daily Mail, publicada na última segunda-feira (02/04), está causando polêmica em todo o Reino Unido ao classificar um homem inglês condenado por matar seis de seus 17 filhos como “um produto vil do Estado de bem-estar social”. O elo traçado entre o crime e o sistema de benefícios britânico coincide com o debate sobre profundos e inéditos cortes na rede que ampara a classe média local.
Mick Philpott, 56 anos, foi sentenciado à prisão perpétua por incendiar a casa, em Derby, no interior da Inglaterra, onde estavam seis de seus filhos. A ideia era incriminar sua ex-mulher e obter de volta a guarda de cinco crianças. Segundo a polícia, Philpott usou gasolina demais e não conseguiu salvá-las. Elas tinham entre 13 e cinco anos e morreram enquanto dormiam, sufocadas pela fumaça.
Segundo a reportagem do jornal Daily Mail, Philpott “tratava seus 17 filhos como galinhas dos ovos de ouro – gerando benefícios acachapantes de 60 mil libras por ano (cerca de R$ 190 mil)”. “Esse drogado inútil, que incorpora tudo o que há de errado com o Estado de bem-estar social, ainda estava sorrindo depois de ser condenado por matar seis de seus filhos”, diz o texto.
Reprodução: Mail Online
Jornal conservador britânico Daily Mail expõe caso da morte das crianças como um problema do Estado de bem-estar social no Reino Unido
O viés da publicação recebeu críticas de deputados do Partido Trabalhista e articulistas, que trataram o caso como uma “distração monstruosa e bizarra” sobre o impacto das fraudes em benefícios sociais na economia britânica. De acordo com um estudo do jornal The Guardian, de centro-esquerda, o desvios custam ao governo 1 bilhão de libras por ano (cerca de R$ 3 bi), enquanto a evasão fiscal dos mais ricos gera perdas de 70 bi de libras, ou em torno de R$ 210 bilhões.
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Por outro lado, o ministro das Finanças britânico George Osborne, braço direito do premiê conservador David Cameron, usou o caso Philpott para levantar um “debate” sobre o Estado de bem-estar social no Reino Unido. “Os tribunais são responsáveis pelas sentenças, mas acho que há um problema para o governo e para uma sociedade sobre o Estado de bem-estar social, que subsidiam estilos de vida como esse”, afirmou à rede estatal BBC.
Durante a semana, campanhas online foram iniciadas no Reino Unido com o intuito de boicotar o jornal Daily Mail. A rede criada pelo movimento Occupy afirma que a publicação “está usando uma tragédia humana para incrementar uma vil agenda política de classe”.
O Daily Mail tem a segunda maior circulação do Reino Unido, com cerca de 2 milhões de exemplares diários, e apóia abertamente David Cameron. Ele fica atrás apenas do tablóide The Sun, também da linha conservadora. Em manchete publicada nesta sexta-feira (05/04), o diário afirma que fez “uma associação bastante lógica” entre as mortes e o Estado de bem-estar social, e comemorou a entrada do ministro das Finanças na discussão.