Mesmo com o cancelamento de protestos marcados neste sábado (26/10) pelo direito a dirigir automóveis, ao menos 60 mulheres saíram às ruas na Arábia Saudita dirigindo veículos, desafiando as leis que as proíbem de conduzir. Outras ativistas, entretanto, preferiram não participar da campanha que tinha sido convocada para hoje após ameaças do governo.
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A saudita Mai al Sauiyan postou um vídeo no YouTube no qual aparece conduzindo um carro por uma importante avenida de Riad, vestida com um véu que deixa ver seu rosto e com óculos escuros. O vídeo foi divulgado nas redes sociais, onde as ativistas sauditas aproveitaram para reivindicar seu direito de dirigir no reino conservador.
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“Eu fiquei muito feliz e e orgulhosa que não houve reação contra mim”, afirmou Sauiyan à agência Associated Press. “Alguns carros passaram por mim. Eles estavam surpresos, mas foi só uma olhada de relance. Está tudo bem. Eles não estão acostumados a ver mulheres dirigindo aqui”.
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Sauiyan diz que tirou carteira de motorista no exterior. Ela afirmou que estava preparada para o risco de ser detida, mas acrescentou que estava longe o suficiente dos carros da polícia para que não fosse vista. “Só dei uma pequena volta. Não dirigi por muito tempo, mas estava tudo bem. Fui à loja de doces”.
“Eu sei de outras mulheres que também dirigiram hoje de manhã. Vamos postar vídeos mais tarde”, afirmou uma das organizadoras da campanha prevista para hoje à agência de notícias Reuters. Em um vídeo gravado em Ehsa, no leste do país, uma mulher conduz um veículo com suas irmãs “para acompanhá-las ao trabalho ao invés de esperarem um motorista”.
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A jornada de protestos foi “cancelada por respeito ao Ministério do Interior saudita”, segundo Nashla Hariri, destacada defensora dos direitos das mulheres na Arábia Saudita. O site onde estava convocado o protesto foi atacado por hackers, o que se soma à pressão exercida nos últimos dias pelas autoridades para evitar a mobilização.
O porta-voz de segurança do Ministério do Interior, general Mansur al Turki, revelou em declarações publicadas hoje pelo jornal Al Riad que o governo entrou em contato com as ativistas para advertir que não iria “titubear” em aplicar a lei que proíbe atos como o que havia sido programado. Turki considerou que este tipo de conversa é “frequente” de acordo com as medidas “preventivas” dos órgãos de segurança e não significam nenhuma “ameaça”.
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Segundo a Reuters, a polícia saudita montou postos de fiscalização em algumas partes de Riad e parecia haver mais patrulha de tráfego nas ruas da capital. Nota do Ministério lembrou que “as normas do reino proíbem tudo aquilo que altera a estabilidade social” e ressaltou que as autoridades competentes seriam rígidas com os infratores.
Há dois dias, a ativista saudita Luyein al Hazlul, que vive nos Estados Unidos, chegou ao seu país natal para participar da anunciada campanha. Em um vídeo divulgado no YouTube, a mulher aparece conduzindo o carro de seu pai do aeroporto de Riad até o lar de sua família e se escuta a voz de seu pai, que defende o direito de todos dirigirem. O jornal saudita Al Ashraq publicou hoje que as forças de segurança determinaram que o pai de Al Hazlul assinasse um documento no qual se comprometia a não permitir que sua filha dirija.
A Arábia Saudita vive sob uma rígida interpretação da lei islâmica (sharia), que impõe a segregação de sexos em espaços públicos. Além disso, mulheres não podem dirigir nem viajar para fora do país sem um homem da família, entre outras restrições.