“Nós não vamos reconhecer o resultado até que se conte cada voto dos venezuelanos”, dizia Henrique Capriles na noite de 14 de abril deste ano, cercado de dirigentes opositores, após o anúncio da vitória de Nicolás Maduro nas eleições que sucederam a morte do ex-presidente Hugo Chávez. Quase oito meses depois, os venezuelanos irão novamente às urnas, desta vez para eleger prefeitos e vereadores.
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Sem aliviar nas críticas ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral), o líder opositor e governador do estado de Miranda, que acusou a entidade de “fraude” e de realizar uma revisão “fajuta” do pleito presidencial, no qual foi derrotado por Maduro por 1,5% dos votos, participou ativamente da campanha municipal, convocando seus apoiadores a votarem massivamente pelos candidatos da aliança MUD (Mesa de Unidade Democrática).
“Tem muitas pessoas que dizem que não vão sair para votar porque não confiam no CNE, mas eu digo a essas pessoas que este é o pior erro que podemos cometer. O CNE faz trapaça se você permite que te faça trapaça”, disse Capriles nesta quinta (05/12), após participar do encerramento de campanha da prefeita Eleving Trejo, que tenta sua reeleição em Maracaibo, capital do estado petrolífero de Zulia. Seu adversário na disputa, que está apertada segundo projeções, é o chavista Miguel Pérez Pirela.
Lenín Morales/Prensa Henrique Capriles
Governador de Miranda e derrotado na última eleição presidencial, Capriles critica CNE, mas condena abstenção
Segundo Capriles, por meio do voto, seus apoiadores impedem que seus nomes sejam utilizados por outras pessoas no momento da apuração. “A forma mais efetiva para derrotar a trapaça é votando. Sufragando em todos os processos eleitorais, aperfeiçoamos nossa luta. Cada um de nós deve ser garantia do processo. Sabemos que todos os poderes estão sequestrados, mas cada venezuelano é dono do voto”, disse, acusando o CNE de responder a interesses do governo.
No final de outubro, durante ato em Barcelona, no estado Anzoátegui, Capriles disse que o órgão eleitoral quer “fazer todas as trapaças” contra os opositores, que devem estar “preparados”. Em outubro, em café da manhã com correspondentes internacionais em Caracas, o prefeito e candidato à reeleição no Distrito Metropolitano de Caracas e histórico opositor ao chavismo, Antonio Ledezma, afirmou que o chamado ao voto não significa uma ratificação do poder eleitoral.
Reprodução/Comando de Campanha Bolívar Chávez Metropolitano
Villegas (de azul) é candidato do chavismo em uma das principais disputas, no Distrito Metropolitano de Caracas
“As pessoas vão votar entoando críticas. As pessoas sabem que calar nos converte em cúmplice deste estado de coisas. E por isso as pessoas protestam e votam”, afirmou. “Jogar pela abstenção é se converter em um indeciso conveniente aos interesses da corrupção, do autoritarismo e do continuísmo”, complementou o dirigente, que disputa a administração dos cinco municípios que conformam Caracas com o ex-ministro de Comunicação de Chávez e de Maduro, Ernesto Villegas.
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Quando questionado sobre a contradição de convocar eleitores às urnas em meio às críticas à entidade que arbitra o processo eleitoral, o prefeito respondeu que a oposição demonstrou que “participando se pode alcançar objetivos”.
Uma das principais críticas ao órgão eleitoral é a falta de medidas contra a suposta utilização do aparato estatal para campanha do chavismo. A reclamação já tinha sido feita na campanha de abril, quando setores da oposição vinham questionando a imparcialidade do CNE e sinalizando a possibilidade de não reconhecer o resultado. Em entrevista a Opera Mundi antes da eleição presidencial, a deputada opositora María Corina Machado disse que a MUD não permitiria que o CNE “alterasse” a vontade dos cidadãos.
Após o pleito, a MUD exigiu ao CNE a auditoria de todas as atas, dos cadernos de votação e dos registros de impressões digitais dos eleitores. A auditoria realizada pelo órgão, prevista no regulamento eleitoral e da qual a oposição decidiu não participar, consistiu em uma comparação entre comprovantes de voto com as atas de apuração, que resultaram em uma coincidência de 99,98%.
Em agosto, o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, cuja imparcialidade também é questionada pela oposição, classificou de “inadmissíveis” os recursos apresentados pela oposição para impugnar o pleito e multou Capriles por utilização de “conceitos ofensivos e desrespeitosos” contra a Sala Constitucional e outros órgãos do Poder Público. Em diversas ocasiões, Maduro disse que a oposição pretende não reconhecer os resultados das eleições do próximo domingo.
Segundo o analista Germán Campos, diretor do instituto de pesquisa Consultores 30.11, o desconhecimento dos últimos resultados eleitorais e o chamado ao voto podem confundir o eleitorado que tende a votar na oposição. “Em 2004, no referendum [revocatório contra Chávez] de agosto, a oposição passou dois meses falando de fraude e pagou caro por este discurso nas eleições regionais de outubro. Foi quando perderam o estado de Miranda e Carabobo, e perderam porque uma parte do eleitorado se desmobilizou”, pontua.