Angela Merkel assumirá na terça-feira (17/12) o terceiro mandato de chanceler com um sólido respaldo parlamentar, depois que a militância social-democrata deu, neste sábado (14/12), sinal verde de forma arrasadora a uma nova grande coalizão com os conservadores.
A inédita iniciativa do SPD (Partido Social-Democrata Alemão) de consultar em um referendo vinculativo suas bases sobre o acordo de coalizão fechado em novembro com o bloco conservador resultou em um claro respaldo à direção do partido, quase três meses depois das eleições.
O SPD anunciou após a midiática apuração em Berlim que optaram pelo “sim” à grande coalizão 75,9% dos filiados que participaram da consulta (77% dos 475 mil filiados), enquanto 23,9% rejeitaram governar com o bloco liderado por Merkel.
Sigmar Gabriel, presidente do SPD, agradeceu o forte apoio da militância à aposta da direção de negociar com os conservadores e assegurou que tratará nos próximos quatro anos de conquistar os filiados que votaram “não”. “Tenho que dizer, fazia muito tempo que não me sentia tão orgulhoso de ser social-democrata”, disse Gabriel entre aplausos da direção e dos 400 voluntários que participaram da apuração, que ovacionaram seus comentários quase frase por frase.
NULL
NULL
Já a CDU (União Democrata-Cristã) de Merkel não demorou em demonstrar satisfação pelo resultado da votação e reforçou, por meio de seu secretário-geral, Hermann Gröhe, o desejo de “poder começar a governar conjuntamente com rapidez”.
O resultado do referendo, votado entre 6 e 12 de dezembro, elimina o último obstáculo no caminho de Merkel à chancelaria e despeja todas as incertezas que a possibilidade de as bases do SPD rejeitarem o acordo de governo gerava. Além disso, o claro respaldo dos filiados reforça uma direção que tinha sido contestada nos últimos meses e que temia aderir a uma nova grande coalizão depois da sangria de votos que sua participação na coligação anterior, também com Merkel, entre 2005 e 2009, acarretou.
Está previsto que nas próximas ou no mais tardar amanhã o SPD, a CDU e a CSU (União Social-Cristã) divulguem à imprensa os nomes de seus membros que obterão um ministério. O cobiçado Ministério das Finanças permanecerá, por exigência pessoal de Merkel, nas mãos do democrata-cristão Wolfgang Schäuble, de acordo com as últimas informações obtidas pela imprensa local.
A CDU obteria outras quatro pastas, previsivelmente Interior e Defesa, e a CSU três. O SPD ocuparia seis ministérios, em que se destacam o de Relações Exteriores, que tem como mais cotado o nome do atual chefe do grupo parlamentar, Frank-Walter Steinmeier (que já ocupou esta pasta) no primeiro governo de Merkel, e o de Economia e Energia, desenhado ex-professor para Gabriel.
O referendo fecha o processo aberto após as eleições parlamentares de 22 de setembro, nas quais Merkel obteve seu melhor resultado e quase chegou à maioria absoluta. No entanto, o desastre de seus parceiros tradicionais, os liberais, que ficaram fora do Bundestag por não alcançarem a cláusula de barreira dos 5% de votos, forçou a chanceler a abrir negociações contra a vontade.
Após sondar em uma primeira aproximação o SPD e os Verdes, a chanceler optou por abrir negociações formais só com os social-democratas. Esta vai a ser a terceira grande coalizão de democratas-cristãos e social-democratas a governar a Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial e a segunda liderada por Merkel. Conservadores e social-democratas somarão dois terços das cadeiras do Bundestag e na oposição só se sentarão os membros dos partidos minoritários: os Verdes e a Esquerda, formada por pós-comunistas e dissidentes social-democratas.