Após cinco dias consecutivos de protestos na Venezuela, o governador do estado venezuelano de Miranda e ex-candidato presidencial, Henrique Capriles, anunciou que, nas próximas horas, convocará uma nova mobilização, “pacífica”, contra a violência e os problemas do país. Em coletiva de imprensa realizada neste domingo (16/02), o dirigente repudiou ações violentas registradas em protestos nos últimos dias e se desvinculou dos que pretendem derrubar o governo.
“Para que serviu o ‘saia já’? Alguém que talvez não aprendeu nada durante estes anos, vai nos meter a todos no ‘saia já’?”, disse Capriles, em clara referência à campanha “A Saída”, iniciada pelo dirigente opositor Leopoldo López e pela deputada María Corina Machado, e ao efêmero golpe de Estado contra o falecido presidente Hugo Chávez, em 2002. “Com isso não estou de acordo e claramente me desvinculo”, expressou.
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Agência Efe
“O protesto tem que ter focos, objetivos”, disse Capriles, em discurso de hoje que convocou novos protestos
Segundo ele, no entanto, o fato de não apoiar a iniciativa não significa que ficará calado ou não fará nada. Para o opositor, é preciso orientar as manifestações para que estas não terminem “em nada, em problemas”. “Nunca disse que as pessoas saíssem às ruas para ver o que acontece. (…) o protesto tem que ter focos, objetivos”, disse, desvinculando-se dos opositores que afirmam que “a saída” é ir para as ruas.
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Para Capriles, ao governo “interessa” que as manifestações opositoras acabem em violência para “tapar os problemas” do país. “O foco está se perdendo, tristemente (…) estamos retrocedendo”, concluiu. O governador expressou, no entanto, sua solidariedade a López, acusado pelo governo de ser um dos autores intelectuais da violência e que está sendo buscado por forças de segurança.
Capriles atribuiu os atos de violência registrados no país se deve à ação de “infiltrados” e pediu aos estudantes que não permitam que ninguém os tire do foco. Segundo ele, o movimento estudantil não é violento. Na noite de ontem, um protesto estudantil terminou em destroços em bancos e pelo menos um edifício público no município de Chacao, no distrito metropolitano de Caracas.
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O ministro venezuelano de Interior, Justiça e Paz, Miguel Rodríguez Torres, afirmou que os grupos violentos “estão todos fora da faixa de idade dos estudantes universitários” e utilizam motos de alta cilindragem “que não são usadas por jovens das zonas populares de Caracas”. O ministro disse que os estudantes mantêm uma atitude pacífica, mas que devem se separar de violentos.
“Não marchem com os violentos, porque é muito fácil marchar com os violentos, depois me retiro porque sou pacífico, mas deixo os violentos encorajados tentando fechar avenidas, queimar bancos, incendiar estações de metrô. Tem que ter uma separação não de palavra, mas uma separação de fato. Eu reitero a intenção e vocação do governo nacional de paz e de diálogo”, expressou.
Agência Efe
Manifestantes da oposição foram às ruas também neste domingo para protestar contra o governo
O governo venezuelano denunciou na manhã de sábado que 36 empregados do metrô sofreram ferimentos e que 40 ônibus foram apedrejados, com pessoas em seus interiores, deixando outros 15 feridos. Serviços de metrô para algumas paradas próximas aos locais dos protestos, e de ônibus que conectam estações com outros pontos da cidade foram temporalmente suspensas.
Após as mortes da última quarta-feira, Maduro denunciou que a violência nos protestos se deve a um “golpe de Estado em desenvolvimento” contra sua gestão. Ontem, em discurso, disse que não iria renunciar “um só milímetro” ao poder concedido pelo povo.
Além de López, o chefe de Estado acusa ao ex-presidente colombiano Álvaro Uribe de estar por trás das ações violentas.
No mesmo tom, a ministra de Comunicação condenou o uso manipulado em redes sociais de imagens de repressão em outros países, como Chile e Egito, que foram atribuídas à Venezuela. Manifestantes opositores realizam um novo protesto contra o governo neste domingo.