Na manhã seguinte à convocação de um referendo separatista na Crimeia, as relações entre a Rússia e o governo central provisório da Ucrânia vivem dia de ainda mais tensão nesta sexta-feira (07/03). Enquanto dezenas de milhares ocuparam a Praça Vermelha em Moscou para demonstrar apoio à maioria étnica russa na Crimeia, autoridades ucranianas denunciaram hoje que 30 mil soldados russos foram enviados à península separatista. Diante da ameaça de corte no fornecimento de gás russo à Ucrânia, o premiê interino, Arseni Yatseniuk, pediu novamente a retirada das tropas, o respeito aos acordos bilaterais e disparou: Kiev deve ser parceira de Moscou, “jamais filial”.
Agência Efe
Grupo de soldados caminha diante de uma base militar russa situada nas imediações de Simferopol, na Crimeia
Foi o SGU (Serviço de Guardas de Fronteira) da Ucrânia que denunciou o envio de até 30 mil soldados russos para a região autônoma da Crimeia. O número — o dobro do previsto anteriormente por Kiev — é uma estimativa que contempla tanto as tropas que já estavam na região, quanto a Fronta do Mar Negro, contingente russo com sede permanente no porto de Sebastopol, na Crimeia.
Em Moscou, na emblemática Praça Vermelha, 65 mil pessoas, segundo estimativas do Ministério do Interior russo, participaram de um comício para apoiar a intenção da Crimeia de incorporar-se à Rússia — o referendo, agendado para o dia 16, já tem até cédula eleitoral e o reconhecimento do Lesgislativo russo.
Na manifestação batizada de “Nós estamos juntos”, que alguns acusam de “orquestrada” e “pouco espontânea”, a multidão carregou cartazes e entoou frases com os dizeres: “Acreditamos em Putin”, “Crimeia é terra russa” e “Não vamos entregar o que é nosso”. Um porta-voz do Kremlin afirmou também que espera que uma “nova Guerra Fria não estoure com os profundos desentendimentos” com o Ocidente, segundo a emissora CBS.
Questão do gás
Para acirrar as tensões, o presidente da estatal russa Gazprom, Alexei Miller, ameaçou hoje cortar o fornecimento de gás natural da Ucrânia se o país não pagar logo a dívida de US$ 1,89 bilhão (R$ 4,4 bilhões) que mantém com a empresa. “Não podemos fornecer gás de graça”, disse o executivo. Cinco anos atrás, na chamada “guerra do gás”, a Rússia fechou as torneiras de gás ao país vizinho, mexendo profundamente com a distribuição do combustível na Europa: 30% do gás consumido no continente é produzido na Rússia e boa parte dele chega até a UE por meio dos gasodutos que atravessam o território ucraniano.
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Também na esteira do discurso de apaziguamento, o premiê interino, Arseni Yatseniuk, “propôs” a Moscou a construção de uma nova relação entre os dois países, mas com uma série de condições: a retirada de todas as tropas da Crimeia, o cumprimento de todos os acordos bilaterais e multilaterais que assinou e a retirada do apoio aos “separatistas e terroristas que atuam na Crimeia”.
Agência Efe
O premiê interino ucraniano, Arseni Yatseniuk: somos parceiros da Rússia, jamais filial
Yatseniuk, que participou da tentativa (infrutífera) das potências ocidentais em negociar uma saída diplomática para a crise, asseverou: “Em qualquer caso, devemos ser parceiros da Rússia. Mas nunca vamos ser subordinados da Rússia, nem sua filiam em território na Ucrânia”.
Jogos Paralímpicos de Sochi
A pouco mais de mil quilômetros da capital da Crimeia, em Sochi, no litoral russo, aconteceu hoje a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Inverno. Se há alguns dias especulava-se que a Ucrânia poderia boicotar o evento, a delegação confirmou a participação nos jogos, mas com ressalvas. Na abertura, o país levou apenas o porta-bandeira da delegação — deixando os outros 22 atletas de fora do desfile — e ameaçou abandonar as Paralimpíadas caso a Rússia invada a Ucrânia.
Ukraine's flag carrier enters Olympic stadium in Sochi pic.twitter.com/1YzaUw8H2e
— ЄВРОМАЙДАН (@euromaidan) marzo 7, 2014