Desde novembro do ano passado, a Ucrânia vive uma crise que parece não ter fim. Tudo começou com a decisão do presidente Viktor Yanukovich de interromper as negociações por um acordo com a União Europeia. Essa medida gerou uma série de protestos em Kiev que terminaram com a fuga de Yanukovich para a Rússia e o estabelecimento de um governo interino, no final de fevereiro.
A solução adotada na capital ucraniana não agradou as regiões de maioria russa e a Crimeia optou por solicitar a anexação de seu território a Moscou. Nos últimos dias, cidades localizadas no sul e no leste do país também viram a eclosão de manifestações que desconhecem a legitimidade da atual administração de Kiev, com ucranianos pró-russos ocupando prédios públicos em nome de maior autonomia à sua região.
Andre Lion/Opera Mundi
Para Valery Piatnytskyi, eleição é apenas primeiro passo para normalização da Ucrânia
Para boa parte da comunidade internacional, as eleições presidenciais de 25 de maio são a melhor solução para acabar com a crise. No entanto, para Valery Piatnytskyi, responsável no governo ucraniano pela integração com a União Europeia, o pleito é “apenas o primeiro passo” para que o país consiga manter sua unidade.
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“A eleição presidencial resolve parcialmente nossa crise. Depois precisamos dar novos passos, concedendo maior autonomia às administrações locais. Desde a nossa independência em 1991, nada mudou sobre a indicação das administrações locais, tradicionalmente impostas por Kiev. Agora devemos dar mais flexibilidade às regiões, que as pessoas possam eleger os representantes de suas cidades”, afirmou Piatnytskyi em entrevista exclusiva a Opera Mundi.
A maneira como as administrações regionais são escolhidas na Ucrânia gerou uma situação curiosa durante a atual crise. Nas cidades em que os protestos ganharam força nesta semana, principalmente no sul e no leste do país, os dirigentes locais evitam se comprometer com as demandas dos manifestantes, mas também buscam não demonstrar total submissão ao governo central. Ficam entre a obrigação de prestar contas aos chefes diretos e o risco de serem violentamente retirados de seus postos pela população.
Para Piatnytskyi, que é Comissário para a Integração Europeia do governo interino de Alexandr Turchinov, a onda de protestos iniciada em novembro não foi uma surpresa. “Os quatro anos de governo Yanukovich foram de desenvolvimento desigual no país e forte corrupção. Os ucranianos já vinham demonstrando insatisfação e a recusa em negociar com a UE foi apenas o motivo final para tirá-lo do poder.”
Resta saber se as eleições presidenciais marcadas para 25 de maio, que seriam o início da solução para a crise na Ucrânia, de fato acontecerão. Apenas de negarem publicamente, alguns políticos já defendem que o pleito seja adiado devido aos protestos pelo país.