Novas diretrizes de atuação da política externa norte-americana. Essa foi a linha central do longo discurso do presidente Barack Obama nesta quarta-feira (28/05), na academia militar de West Point, ao afirmar que “nem todo problema precisa de uma solução militar”. Ao delinear a nova frente, um dia depois de anunciar os planos de retirada total do Afeganistão, Obama colocou em segundo plano intervenções bélicas ostensivas e unilaterais, defendendo o uso da diplomacia e de parceiras estratégicas com nações amigas — como o fundo “antiterrorista” internacional que Washington pretende criar para financiar aliados.
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Agência Efe
Obama, comandante-em-chefe das Forças Armadas: “Temos o melhor martelo, mas não significa que todo problema seja um prego”
“Fazer com que outras nações mantenham a ordem em seus vizinhos diminui a necessidade de pôr nossas tropas em perigo. É um investimento esperto. É a maneira correta de liderar”, afirmou o presidente, diante de uma turma de jovens oficiais militares, “os primeiros a se formarem desde o 11 de Setembro que podem não ser enviados ao Iraque ou Afeganistão”. E acrescentou: “Só porque temos o melhor martelo, não significa que todo problema tenha que ser um prego”.
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A principal novidade é a criação de um “Fundo para Parcerias Contraterroristas” que pode chegar a até US$ 5 bilhões e permitirá que os EUA “treinem e capacitem os países aliados na linha de combate”. Obama fez um apelo para que o Congresso norte-americano apoie e aprove a proposta, cuja atuação deve abranger: treinamento de forças de segurança no Iêmen, suporte a uma frente multinacional de peacekeeping na Somália, cooperação com os aliados europeus para reforçar a segurança na fronteira da Líbia e viabilizar operações francesas no Mali.
Outro ponto importante dessa atuação menos direta dos EUA é sobre o caso da Síria — sua decisão de não enviar tropas ao país no ano passado foi duramente criticada por setores republicanos nos EUA. Em seu discurso, Obama sinalizou que pode enviar suporte para “aqueles opositores sírios que oferecem a melhor alternativa”, e também aos vizinhos Jordânia, Líbano, Turquia e Iraque, países que têm recebido em massa refugiados sírios.
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Agência Efe
Obama: Terrorismo continua sendo a principal ameaça, mas perigo está nas filiais da Al Qaeda espalhadas no mundo
Terrorismo e papel dos EUA
Embora tenha sublinhado que o “terrorismo” continua sendo a mais direta ameaça aos EUA, Obama disse que a estratégia deve mudar e passar a dar mais atenção aos países em que essas organizações se estabelecem. O maior perigo não vem mais de uma Al Qaeda centralizada, e sim de suas filiais espalhadas pelo mundo, que têm agendas próprias e focadas nos países em que operam, sustentou o presidente. “Isso diminui a possibilidade de um grande ataque dentro de nosso território ao estilo do 11 de Setembro. Mas aumenta o perigo que os funcionários norte-americanos enfrentam fora do país”, afirmou.
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Ao longo de sua fala, Obama também respondeu aos críticos que sustentam a tese do declínio dos EUA como potência mundial e apontam sua atuação à frente da Casa Branca como muito permissiva e frouxa. A eles, ressalvou que sempre que se julgar no direito, os EUA vão fazer uso da força militar de forma unilateral: “Jamais vamos pedir permissão para proteger nosso povo, nosso país ou nosso modo de vida”.
“No século XXI, isolacionismo norte-americano não é uma opção”, disse Obama, sublinhando que a nova estratégia de ação internacional não vai eximir os EUA de atuar com vigor no cenário global. “Quando um tufão atinge as Filipinas, ou meninas são sequestradas na Nigéria, ou homens mascarados ocupam um edifício na Ucrânia, é para os EUA que o mundo olha esperando por ajuda”, afirmou, completando: “Os EUA são a única nação indispensável”.
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Agenda presidencial
Em breve, Obama terá oportunidade de testar essa doutrina em política externa sinalizada no discurso de West Point: em apenas alguns dias, o presidente parte para uma viagem internacional na qual serão discutidos diversos assuntos da agenda geopolítica atual. A primeira parada será Varsóvia, na Polônia, onde deverá mostrar aos europeus orientais que Washington continuará firme como aliada da OTAN (Aliança do Tratado do Atlântico Norte), contrapondo-se à atuação da Rússia na crise da Ucrânia.
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Em seguida, Obama segue para Bruxelas, no primeiro encontro do G7 após o bloco ter suspendido a Rússia. Foram os EUA que lideraram o esforço das potências ocidentais de impor sanções econômicas a Moscou, acusada de ingerência na crise ucraniana e incentivo aos separatistas do leste do país.
A última etapa da viagem internacional é na Normandia, França, para celebrar o 70º aniversário do “Dia D”, invasão que marca a mudança de rumos da Segunda Guerra Mundial — o presidente russo, Vladimir Putin, é um dos líderes mundiais cuja presença é esperada no evento.