O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta sexta-feira (05/12) Ashton Carter como novo secretário de Defesa. Ele substituirá Chuck Hagel, que renunciou há dez dias em meio a divergências com as atitudes tomadas por Washington no combate ao grupo Estado Islâmico, que atua no Iraque e na Síria.
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“Carter é um dos líderes nacionais de segurança mais importantes de nosso país”, declarou Obama. “Ash é patriota e líder. Eu recomendo fortemente sua nomeação”, declarou Hagel hoje, em comunicado divulgado pelo Departamento de Defesa norte-americano.
O novo secretário tem um extenso currículo acadêmico: bacharel em física e história medieval pela Universidade de Yale, ele obteve doutorado em física teórica por Oxford em 1979 e é professor de Harvard desde o início dos anos 1980.
“Não havia nenhuma relação entre as duas disciplinas que mais me fascinavam”, descreve Carter em uma autobiografia para Harvard. “Eu gostava muito de decifrar manuscritos medievais e de aprender todas as linguagens necessárias para a literatura histórica (…). A física era totalmente distinta: limpa e moderna, lógica e matemática”, acrescenta.
“Ash is rightly regarded as one of our nation’s foremost national security leaders.” —Obama on his Secretary of Defense nominee Ash Carter
— The White House (@WhiteHouse) 5 dezembro 2014
Há mais de três décadas, Carter tenta conciliar o conhecimento acadêmico humanista-científico com o mundo militar, alternando a sala de aula com o Pentágono, onde começou a trabalhar no Departamento de Defesa em 1981, como analista técnico de um programa de mísseis nucleares na Guerra Fria.
Embora nunca tivesse servido ao Exército, ele tem respeito entre oficiais da cúpula militar norte-americana, excelentes conexões com empresas de armamentos e também simpatia dos Republicanos: em 2011, o senador pelo Arizona (e ex-candidato à presidência) John McCain o definiu como “um homem trabalhador, honesto e comprometido em servir o público”.
Para além de escrever teses sobre monges flamencos do século 12, Carter continuou a servir no Pentágono na gestão do democrata Bill Clinton (1993-2001) e foi promovido para vice-secretário de Defesa durante a administração Obama em 2011, cargo considerado como “número 2” do Pentágono.
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No Departamento de Defesa, contudo, teve opiniões contundentes e controversas ao longo dos anos. Uma das mais conhecidas foi em relação à crise nuclear com a Coreia do Norte. Em 1994, Carter foi uma das autoridades da administração de Clinton que mais defendeu atacar um reator nuclear para evitar que Pyongyang desenvolvesse armas nucleares.
Anos mais tarde, Carter reconheceu que tal bombardeio arriscaria uma guerra que envolveria “horríveis” perdas. Apesar disso, acrescentou que um programa nuclear norte-coreano seria “um desastre para a segurança” norte-americana, destacando que talvez valesse a pena tomar “riscos substanciais” para prevenir esse resultado.
Ataque “preventivo” à Coreia do Norte
A crise entre Washington e Pyongyang ganhou um novo capítulo em 2006, quando Carter também defendeu um ataque “preventivo” contra uma plataforma de mísseis balísticos da Coreia do Norte. Naquele ano, ele chegou a argumentar em um artigo publicado na revista Time que a ofensiva seria, no limite, “um ato de defesa da pátria dos EUA contra uma ameaça crescente, e não um ataque global contra a Coreia do Norte”.
Em relação a essa temática, teme-se que os ânimos de Carter possam influenciar negativamente as negociações sobre o programa nuclear iraniano entre as potências ocidentais e Teerã, que foram adiadas na última semana para meados de 2015.
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Outra questão em jogo é o próprio conflito no Oriente Médio, motivo pelo qual Hagel abriu mão do cargo em 24 de novembro passado. A saída de Hagel foi apontada como uma resposta à divergência de opiniões com Obama, que lidera a coalizão internacional no combate contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
Bashar al-Assad
O ex-secretário teria questionado a estratégia do presidente para a Síria, alegando que a política externa norte-americana estava em risco por não ter conseguido deixar claras suas intenções a respeito do combate ao governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Na mesma linha, Carter também apresentou opiniões contrárias às de Obama nos últimos anos. Um dos exemplos mais marcantes foi em relação à retirada de tropas norte-americanas do Iraque, em 2010: ele era a favor de uma força residual no país.
No entanto, as perspectivas do novo secretário na política externa e, sobretudo, na luta no Iraque e na Síria, ainda não estão claras e as expectativas das decisões de combate ao grupo extremista sunita ainda são incertas.
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