A relação econômica bilateral está no foco da agenda do segundo e último dia da visita de Estado do presidente russo à China. Vladimir Putin participou nesta sexta-feira (17/05) de um fórum econômico em Harbin, no norte do país – uma vasta região que faz fronteira com a Rússia e se beneficia do aumento das trocas entre Moscou e Pequim desde a guerra na Ucrânia.
A viagem de Putin se iniciou nesta quinta (16/05), em Pequim. O líder russo e o presidente chinês, Xi Jinping, definiram sua relação como um fator de “paz e estabilidade” no mundo.
Em Harbin, sob um forte esquema de segurança, Putin foi ao encontro da comunidade empresarial sino-russa. A antiga “cidade branca”, localizada no norte chinês, foi tomada por agentes de segurança para garantir uma visita sem percalços ao aliado de Pequim. Em toda a avenida Chang-Jian, as cortinas permaneceram fechadas nas janelas dos edifícios.
“Não podemos pegar a avenida principal. Eu queria ir ao supermercado, mas parece que está fechado. Tive que pegar algumas ruas secundárias para chegar aqui”, conta uma moradora.
A segunda visita de Vladimir Putin em seis meses ocorre num momento em que a Rússia se tornou mais dependente economicamente da China, em meio à guerra contra a Ucrânia, iniciada há mais de dois anos.
A primeira parada de Putin foi visitar o monumento aos soldados do Exército vermelho mortos na Manchúria, durante a guerra contra o Exército imperial japonês. O líder depositou flores no local, em nome da amizade sino-russa.
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A relação econômica bilateral está no foco da agenda do segundo e último dia da visita de Estado do presidente russo à China
Rússia quer mostrar que não está isolada
Depois, o presidente participou do 8° Fórum Empresarial China-Rússia que, segundo os organizadores, reuniria este ano 1,5 mil expositores de 36 países. A presença de Putin busca enviar a mensagem de que a Rússia não está isolada, apesar das retaliações ocidentais pela guerra na Ucrânia.
Ele também se encontrou com estudantes do Instituto de Tecnologia de Harbin – mais uma forma de ressaltar a amizade entre Moscou e Pequim, a despeito das sanções americanas.
O comércio entre os dois países atingiu o nível recorde de US$ 240 bilhões (R$ 1,23 trilhão) em 2023, mas desacelerou este ano, depois que o governo dos Estados Unidos ameaçou adotar sanções contra os bancos chineses conectados à máquina de guerra de Moscou.
Ao discursar na cerimônia de abertura da feira, Putin celebrou os vínculos bilaterais no setor de energia e prometeu “reforçá-los”. “A Rússia está preparada e tem a capacidade de alimentar, sem interrupção, a economia chinesa, as empresas, cidades e população, com uma energia acessível e limpa”, declarou. “Em um mundo que está no alvorecer da próxima revolução tecnológica, estamos determinados a aprofundar de maneira constante a cooperação bilateral no âmbito da alta tecnologia e da inovação”, acrescentou o presidente russo.
A agência estatal russa TASS informou que Putin estava acompanhado pelo vice-presidente chinês Han Zheng.
Em cidade fronteiriça, negócios em franca expansão
A poucas centenas de quilômetros de Harbin, Suifenhe faz fronteira com a Rússia e exibe uma gigantesca matriosca logo na entrada. A boneca atrai visitantes para as novas lojas do centro comercial Império Russo, especializado em produtos do país vizinho. Suifenhe é a principal das quatro passagens fronteiriças ferroviárias entre a China e a Rússia.
Nesta cidade, os negócios voltaram a crescer. “A área comercial está movimentada neste momento e o número de caminhões aumentou. Há quem exporte produtos chineses, roupas, sapatos e chapéus. Outros importam produtos russos, como caranguejos e pepinos-do-mar”, explica um motorista.
Foi em Suifenhe que as relações comerciais sino-russas foram reativadas, após uma transação inusitada. Em 1984, há 40 anos, Xu Junshu, então vice-presidente da Associação de Amizade Sino-Soviética e diretor da estação Suifenhe, atravessou a fronteira com 500 quilos de melancias. A imprensa estatal passou a falar da “diplomacia da melancia”, marcando o início da cooperação comercial e econômica com a União Soviética.
Em 2019, outro ano importante, foi criada uma zona de livre comércio em Suifenhe, associada à utilização do rublo e à entrada sem visto para cidadãos russos. As placas e cartazes em cirílico, muito presentes na cidade, lembram que mais de 500 mil empresários e turistas passaram pela alfândega em 2023. O comércio com a Rússia aumentou 29%, com um volume de transações sem precedentes.
O novo boom atual é uma consequência da amizade sino-russa, acredita um vendedor de mel e sucos, vindo da Sibéria. “No início da guerra, os produtos russos chegavam aqui aos poucos. O transporte foi interrompido por comboios militares que tinham prioridade sobre o comércio”, conta. “Agora está muito bom. Hoje tudo está de volta nos trilhos e recebo três caminhões de produtos por dia”, detalha.