Atualizada às 17h05
Após a identificação do primeiro corpo dos 43 estudantes que desapareceram na escola de Ayotzinapa, a PGR (Procuradoria Geral da República) do México anunciou neste domingo (07/12) que não cessará até deter “todos os culpados”. “Por convicção pessoal e por ordens do presidente [Enrique Peña Nieto] não permitiremos impunidade a ninguém”, declarou o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, em conferência de imprensa.
Os restos de Alexander Mora Venancio, de 21 anos, foram localizados em um lixão na cidade de Cocula, a mais de 700 quilômetros de Iguala, local onde os jovens desapareceram no dia 26 de setembro. Realizado por um laboratório na Universidade austríaca de Innsbruck, o processo partiu de amostras de DNA com fragmentos de um dente da vítima. A identificação foi divulgada no sábado (06/12) e confirmada pela PGR hoje. Segundo Murillo, o prefeito de Iguala – José Luis Abarca – está confinado em prisão federal “por diversos delitos” e a investigação “segue aberta”.
“Não é porque nos deram uma má notícia que agora tudo se acabou”, declarou neste domingo (07/12) Hugo Mora Venancio, irmão mais velho de Alexander . “Aceito minha derrota, mas não vou deixar de lutar para exigir justiça pelo meu filho e pelos 42 companheiros dele”, complementou o pai, Ezequiel Mora Chora, em entrevista à revista mexicana Proceso.
[Ilustração de Alexander, feita em novembro pela artista Monica Arauz]
O anúncio vem em meio à onda de protestos em diversas cidades no México para reivindicar justiça e exigir a renúncia do presidente. Palavras de ordem como “Vivos os levaram e vivos os queremos!”, “Fora Peña!” e “O Estado se foi”, “Faltam 42!” e “Queremos todos com vida” foram reproduzidas ao redor do território mexicano.
“Hoje é um dia nublado e triste, mas esse crime do Estado não vai ficar impune. Se os assassinos pensam que vamos chorar a morte de nossos jovens estão equivocados. A partir de hoje, sabemos que o governo de Peña Nieto é assassino. Que nos escute bem o presidente: podem vir dias de férias para aqueles que não sentem dor, mas não haverá descanso para o governo peñista”, anunciou Felipe de La Cruz, representante dos pais dos estudantes desaparecidos ao veículo La Jornada.
Ontem, a página oficial do Facebook da escola Raúl Isidro Burgos – da qual os 43 estudantes de Ayotzinapa faziam parte – confirmou a identificação do corpo do jovem e escreveu a mensagem em nome da vítima. “Companheiros e todos que nos têm apoiado: sou Alexander Mora Venancio. Através desta voz, falo a vocês. Sou um dos 43 que caíram nas mãos do narcogoverno.(…) Convido vocês a redobrarem a luta. Que minha morte não seja em vão. Tomem a melhor decisão, mas não se esqueçam de mim”, diz o texto.
NULL
NULL
Entenda caso
Na sexta (05/12), o prefeito da Cidade do México, Miguel Ángel Mancera, anunciou a renúncia do secretário de Segurança Pública local, Jesús Rodríguez Almeida, em meio a fortes críticas pela atuação da polícia mexicana.
A indignação diante da falta de respostas do governo para o desaparecimento dos 43 estudantes impulsionou a realização de uma das maiores mobilizações da história recente do país.Nas últimas semanas, a revolta atingiu mais de 230 cidades mexicanas e uma onda de manifestações em mais de 30 países, como Brasil, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, França e Japão.
Além disso, a jornada de protestos se dá em meio à deteriorização da imagem de Peña Nieto, que iniciou ontem o terceiro ano de sua gestão com a mais baixa popularidade desde que chegou ao poder.
Efe
Manifestantes tomam as ruas neste fim de semana depois de peritos confirmarem identidade de um dos estudantes desaparecidos
Na quinta (04/12), o representante do Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para o México, Javier Hernández Valencia, assinalou que o Estado mexicano é o principal responsável pelo desaparecimento dos estudantes de Ayotzinapa.
“Não há outra forma de se explicar. Quando as autoridades cometem esse tipo de arbitrariedade, que são crimes, estamos de frente a um desaparecimento forçado. Não tem outro nome”, afirmou o representante das Nações Unidas.
Familiares dos jovens denunciaram que as valas comuns e o desaparecimento forçado de pessoas são uma realidade em todo território mexicano. Em comunicado, a Anistia Internacional fez coro às denúncias e ressaltou que a situação revela que o México vive uma “crise humanitária”.
Leia matérias do Opera Mundi sobre crise de violência no México:
Muito além dos 43 de Ayotzinapa: México registra 5 desaparecimentos por dia
Ilustradores mexicanos homenageiam estudantes desaparecidos com retratos dos 43 rostos
Comunidade de Ayotzinapa busca respostas sobre paradeiro de estudantes
Ameaçados por policiais, jovens presos em protesto no México dizem que 'esperavam o pior'
México vive dia de manifestações históricas contra violência e desaparecimentos
Senadores mexicanos denunciam que governo infiltrou agentes nos protestos contra violência
Ex-agentes do Estado mexicano responsabilizam presidente e Exército por sumiço dos 43
Familiares questionam versão do Estado que confirma morte dos 43 estudantes mexicanos