Carlos Latuff/Opera Mundi
Organizações de defesa de direitos humanos se juntaram nesta quarta-feira (10/12) à ONU e pediram que os responsáveis pelas torturas praticadas pela CIA (Agência Central de Inteligência) dos EUA sejam punidos, após a divulgação de um relatório, na terça (09/12), indicando que o órgão usou técnicas “brutais” de interrogatórios e enganou a Casa Branca ao omitir informações sobre como conseguia depoimentos.
“O relatório deixa muito claro que o governo dos Estados Unidos usou tortura. Tortura é um crime e os responsáveis devem ser levados à Justiça”, afirmou, em comunicado, o diretor-executivo da AI (Anistia Internacional) nos EUA, Steven W. Hawkins.
“Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a tortura, nenhuma circunstância excepcional pode ser invocadas para justificar a tortura, e todos os responsáveis pela autorização ou a realização de tortura ou outros maus-tratos devem ser investigados”, prosseguiu.
De acordo com a organização, as torturas praticadas pela CIA após os atentados de 11 de setembro de 2001 evidenciam a impunidade das violações dos direitos humanos em nome da “segurança nacional”.
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A informação revelada, embora limitada, “lembra ao mundo o fracasso total dos Estados Unidos para pôr fim à impunidade desfrutada pelos que autorizaram ou utilizaram a tortura ou os maus tratos. Isto é uma chamada de atenção para os EUA, que devem revelar a verdade sobre as violações”, afirmou a diretora para as Américas da AI, Erika Guevara Rosas.
A Human Rights Watch também se manifestou após a divulgação do relatório. De acordo com o jornal britânico The Guardian, a vice-diretora do escritório de Washington do grupo, Andrea Prasow, pediu que os países signatários da convenção da ONU contra tortura processem os agentes responsáveis caso eles entrem nos seus territórios.
“Outros países têm toda a informação que precisam caso queiram exercitar a jurisdição universal e processar esses oficiais caso eles apareçam em suas fronteiras”, disse.
O atual atual diretor da CIA, John Brennan, reconheceu, em comunicado, que a agência cometeu “excessos”.
Wikimedia Commons/11.set.2001
Violações ocorreram no período em que o republicano George W. Bush era presidente dos EUA
Ineficácia
As técnicas utilizadas pela agência foram ineficazes na captura de Osama Bin Laden, autor intelecutal dos atentados de 2001. Desde que foi morto, em maio de 2011, o corpo dele sempre foi usado pela CIA em sua defesa. O argumento era de que, sem as “técnicas de interrogatório estressante” — nome pelo qual a agência chamava as sessões de tortura — , os EUA jamais teriam conseguido pôr as mãos em bin Laden.
Os EUA só conseguiram identificar Osama bin Laden, após ter, primeiro, localizado Abu Ahmed al Kuwaiti, mensageiro de confiança do terrorista. De acordo com o relatório do Senado, a informação sobre Kuwaiti foi obtida fora do programa de interrogatório da CIA.
Por sua vez, ex-diretores da CIA da época em que as torturas ocorreram – período entre setembro de 2001 e 2006 – afirmaram, em um editorial aberto no Wall Street Journal, que as técnicas de interrogatório foram “essenciais” para defender a segurança do país e salvaram “milhares de vidas. Eles dizem que o relatório “é parcial e desfigurado com erros” e o chamaram de “ataque partidário e mal feito”.
(*) Com Efe