Os familiares dos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa que desapareceram no dia 26 de setembro passado no México organizaram nesta terça-feira (10/02) uma entrevista coletiva para declarar apoio à Equipe Argentina de Antropologia Forense. No último sábado (07/02), o órgão estrangeiro apontou uma série de irregularidades em torno das investigações da PGR (Procuradoria Geral da República) mexicana.
Efe
Parentes trouxeram cartazes com fotografias dos estudantes durante entrevista coletiva à imprensa hoje na Cidade do México
“Os peritos têm a plena confiança dos pais dos estudantes. Em suas várias décadas de trajetória, a equipe argentina nunca agiu sem rigor científico; a PGR, no entanto, sim”, declarou o representante dos amigos dos 43 jovens, Omar García, à Agência Efe. Já Mario González, pai de um dos estudantes desaparecidos, acrescentou que os familiares estão “100%” com os peritos.
No dia 27 de janeiro, o procurador-geral mexicano, Jesús Murillo, garantiu que a PGR tinha comprovado cientificamente que os 43 jovens foram assassinados e incinerados por membros do cartel Guerreros Unidos em um lixão do município de Cocula, também em Guerrero, e suas cinzas espalhadas no rio.
Contudo, os peritos argentinos alegam que, até o momento, “ainda não há evidência científica para estabelecer que, no lixão de Cocula, existam restos humanos que correspondam” aos estudantes, por isso, o caso não pode ser encerrado. Além disso, a equipe forense acrescenta que a PGR errou em pelo menos 20 perfis genéticos dos familiares dos estudantes que foram enviados à Áustria para serem identificados, segundo a revista mexicana Proceso.
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Divulgado no último fim de semana, o mais recente relatório dos legistas argentinos denuncia outras irregularidades da PGR, que respondeu nesta terça com um comunicado em que os acusam de querer semear dúvidas em torno da investigação, qualificando as denúncias de “especulações distanciadas da verdade e hipotéticas”, segundo o veículo local La Jornada.
Em meio ao choque de instituições, o representante dos pais, Felipe de la Cruz, expressou preocupação com as represálias que os peritos argentinos possam sofrer. “Quando algo não vai bem [para o governo] e há alguém que os denuncia, vem a repressão. Se algo acontecer com a equipe de legistas argentinos, nós, os pais de família, iremos considerar o governo do México como responsável”, acusou.
Para os familiares, embora a PGR tente encerrar o caso, os parentes buscarão “a justiça até as últimas consequências” e não vão “descansar até que a verdade seja descoberta”.
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