O terceiro ciclo eruptivo do vulcão Calbuco, iniciado com uma nova torre de cinzas expelida na manhã da última quinta-feira (30/04), foi a chance de o governo chileno colocar em prática o novo protocolo de contingências para esse tipo de evento. A partir de agora, haverá reforço no monitoramento de todos os vulcões considerados ativos no país, além de mudanças nos procedimentos de evacuação das zonas em torno deles, que contemplará uma força-tarefa específica para o resgate de animais de estimação e do gado de criação das famílias de pequenos produtores da região.
Para Michel de L´Herbe, engenheiro e especialista em emergências, a deficiência nos resgates era o principal problema. “Esse era o principal defeito, se analisarmos como o Chile evoluiu na reação às erupções desde a do vulcão Chaitén [2008], até agora. Nas duas deste ano [a do vulcão Villarrica, iniciada em março, e a do Calbuco, há duas semanas], o resgate das famílias e das pessoas, incluindo o resguardo de pertences e artigos de primeira necessidade, foi excelente”.
Fotos: Agência Efe
Vulcão Villarrica provocou a evacuação de cerca de 4.000 pessoas
De L´Herbe foi um dos técnicos que participou das reuniões organizadas pelo Ministério do Interior e a Onemi (Departamento Nacional de Emergências), para a criação de um novo protocolo, tanto para os casos de erupções no sul, quanto para enfrentar a tragédia das enchentes no norte do país, e afirmou que, em sua participação colocou ênfase na falta de um cuidado planejado com os animais. “Houve pouca ação nesse sentido, e esse pouco foi feito de forma improvisada, com resultados insatisfatórios”, resumiu ele.
Com respeito ao monitoramento de vulcões, haverá uma maior frequência das supervisões aéreas. Além do monitoramento constante dos técnicos da Onemi, que será incrementada com novos equipamentos em médio prazo, existe também uma vistoria através de sobrevoos com helicópteros do Exército, que antes era mensal e passará a ser semanal, ou a cada três dias, dependendo do caso.
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Aumento de simulações
O governo pretende também aumentar o número de simulações de casos de emergência nas regiões próximas a vulcões considerados ativos (com registro de alguma atividade nos últimos 200 anos). O subsecretário do Interior, Mahmud Aleuy, disse que Santiago pretende deixar a população “preparada”.
“Temos dois vulcões apresentando atividade eruptiva quase simultânea [a erupção do Villarrica foi em março, mas ainda há registros de fumarolas, e o governo mantêm alerta laranja na zona, o que significa que não está descartado um novo ciclo eruptivo], e, embora, os especialistas digam que não exista uma relação direta entre um e outro, e que elas tampouco deveriam provocar a atividade em outros vulcões, nós como governo temos que estar preparados para tudo, e manter a população também preparada”, afirmou.
Vulcão Cabulco teve terceiro ciclo eruptivo no último dia 30 de abril
Efetivamente, as atividades vulcânicas não têm relação direta uma com a outra, segundo os especialistas em vulcanologia. José Luis Palma, doutor em geologia da Universidade de Concepción, diz que cada vulcão tem suas próprias características. “Por isso, se manifestam de formas muito particulares. O Villarrica passou semanas avisando a chegada de uma erupção, através de fumarolas. O Calbuco, não, agiu de maneira inesperada, pegando a população de surpresa. Cada vulcão tem seu próprio caráter e é preciso estudar cada um deles em particular para entender o que acontece e como atuar nessas situações”.
Segundo ele, os vulcões não estão conectados. “Mesmo o Calbuco, que tem dois vulcões muito próximos dele, tem sua reserva de magma independente dos demais – tanto que os outros não estão se manifestando agora. Uma hipótese que podemos levantar é a de que essas erupções sejam reações aos terremotos recentes na região, como o de 27 de fevereiro de 2010 [8,8º na escala Richter, um dos dez mais fortes da história, cujo epicentro também foi no sul do Chile]. Ainda assim, essa relação entre os sismos e as atividades vulcânicas ainda é objeto de estudo, e não é possível dizer com certeza que esses dois casos (dos vulcões Calbuco e Villarrica) estão ligados a isso”.
Depois da Indonésia, o Chile é o segundo país com maior número de vulcões, sendo mais de 2 mil em seu território – sendo que pouco mais de 500 são considerados ativos –, a maior parte na Cordilheira dos Andes.