Atualizada às 18:51
A Turquia enviou nesta terça-feira (19/07) aos Estados Unidos documentos para embasar a extradição do clérigo turco Fethullah Gülen, líder do movimento Hizmet, classificado por Ancara como grupo terrorista. Gülen mora nos EUA desde 1999 e é acusado pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de estar por trás da tentativa frustrada de golpe que ocorreu no país no dia 15 de julho.
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De acordo com o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, o Ministério da Justiça do país enviou quatro dossiês apresentando provas que embasariam a extradição de Gülen. O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, havia afirmado no domingo (17/07) que a nação só consideraria o pedido turco se fossem apresentadas provas.
Agência Efe
Turquia pediu formalmente extradição de Gülen aos EUA
“Nos deem evidências, nos mostrem evidências. Nós precisamos de uma base legal sólida que atinja os padrões de extradição para que nossas cortes possam aprovar tal pedido”, disse Kerry à emissora norte-americana CNN no domingo.
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“Eles dizem ‘nos mostrem evidências’. Nós iremos apresentar mais do que eles querem. Eu quero perguntar aos meus amigos norte-americanos: vocês pediram provas quando queriam terroristas e as Torres Gêmeas foram destruídas no 11 de setembro? Por que vocês persistentemente querem provas quando as provas contra o movimento de Gülen são aparentes e enquanto vocês não buscaram provas contra [o extremista Osama] Bin Laden?”, questionou Yildirim durante pronunciamento parlamentar nesta terça.
O premiê já havia dito que Ancara poderia até questionar a relação entre seu país e os EUA caso a demanda turca não fosse discutida pelo governo norte-americano.
De acordo com o jornal local Hurriyet, diplomatas turcos atuando nos EUA devem se encontrar com diplomatas norte-americanos em Washington ainda nesta semana para discutir a extradição do líder religioso, que nega seu envolvimento na tentativa de golpe.
Por meio de comunicado oficial divulgado na noite de sexta-feira (15/07), o Hizmet negou as acusações de Erdogan e rechaçou a tentativa de golpe militar no país. A nota diz que o movimento tem mais de 40 anos de “compromisso com a paz e a democracia”. “Condenamos qualquer intervenção militar na política interna da Turquia”, diz a nota. “Comentários de círculos pró-Erdogan são altamente irresponsáveis”.
Agência Efe
Manifestação popular contra a tentativa de golpe na Turquia
Erdogan e Gülen já foram aliados, mas tal aliança acabou em 2013, após denúncias de corrupção que atingiram familiares do presidente e altos membros do gabinete. A partir deste momento, o mandatário passou a acusar Gülen de, com o Hizmet, implantar um “Estado paralelo” na Turquia, com o objetivo de derrubá-lo.
Oficialmente, o Hizmet não possui uma cadeia de comando: ele é formado, segundo os próprios simpatizantes, de pessoas que se sentem próximas aos ideais religiosos e humanistas de Gülen e passam a praticá-los.
Erdogan afirma que pessoas que se identificam com o Hizmet, que estão em todos os locais da vida pública turca – inclusive nas Forças Armadas, no Judiciário e em outras atividades – são, na verdade, infiltrados que conspiram para pôr fim a seu governo. Os simpatizantes do movimento negam categoricamente a acusação.
'Limpeza' contra Hizmet
Após a tentativa de golpe, a Turquia deu início a uma onda de prisões e demissões para “limpar” o país contra o Hizmet. Até o momento foram demitidos quase 24 mil funcionários públicos e nove mil pessoas foram presas.
Segundo a mídia turca, o Ministério da Educação demitiu 15.200 funcionários apenas nesta terça-feira, o Ministério do Interior já demitiu outros 8.777 e foi pedida a renúncia de 1.577 reitores de universidades do país.
Além disso, 257 pessoas trabalhando no escritório do primeiro-ministro e outras 492 da diretoria de Assuntos Religiosos foram dispensadas.