Atualizado em 29/06/2017 às 10h13
Em 29 de junho de 1943, o presidente norte-americano Franklin Roosevelt escreveu uma carta classificada de “secreta” ao chefe do Projeto Manhattan que desenvolveu e construiu a primeira bomba atômica, o físico Robert Oppenheimer. Na carta, Roosevelt busca aplainar o crescente antagonismo entre Oppenheimer e o general Leslie Groves, o chefe encarregado dos aspectos militares do projeto.
Roosevelt começa por parabenizar Oppenheimer (ou “Oppie” como era conhecido entre colegas e amigos) sobre os progressos alcançados no “programa de pesquisa, desenvolvimento e produção extremamente importante e altamente secreto com o qual você está intimamente comprometido”. Nenhuma menção foi feita, é lógico, à expressão “Projeto Manhattan” ou “bomba atômica”. Roosevelt expressou um sentido de urgência na solução do “problema” a fim de trazer fruição ao projeto. No mesmo documento, o presidente reafirmou o que o projeto significava para a segurança nacional.
Ron Cogswell/FlickrCC
Líderes do projeto Manhattan: Leslie Groves do Exército dos EUA (esq) e o físico Robert Oppenheimer no Museu de Ciência Bradbury
A missiva de Roosevelt reconhece em Oppenheimer o líder de um grupo de cientistas de elite, operando debaixo de estrita segurança e sob “condições muito especiais”. Acrescentou que recebeu relatos de que a equipe de confiáveis cientistas tratam de produzir uma arma atômica e que começam a se dividir sob a pressão da tentativa de encontrar o que eles vêem como um impossível prazo fatal de conclusão.
Oppenheimer e Groves com frequência se atritavam em relação às condições de vida e de trabalho dos cientistas. A pequena comunidade, isolada do mundo, ressentia-se de viver cercada de uma proteção armada no deserto do Novo México. Muitos especialistas alimentavam sérias dúvidas quanto à possibilidade até da bomba ser construída e questionavam a validade de se trabalhar com material tão perigoso.
Roosevelt apelou a Oppenheimer para que convencesse o grupo da necessidade das restrições e pediu-lhe fazer chegar à equipe o quanto apreciava o duro trabalho e o sacrifício pessoal de todos. “Roosevelt expressou sua crença de que “seja o que for o que o inimigo esteja planejando” a ciência norte-americana estaria “à altura do desafio.” A carta refletia a natural habilidade de Roosevelt de recobrar e consolidar o moral, atenuando a revolta entre os físicos trabalhando numa crucial nova arma ou de assegurar às mães estadunidenses da necessidade de racionar alimentos numa época de guerra.
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À esquerda, explosão da bomba atômica Little Boy sobre a cidade de Hiroshima; à direita, explosão da bomba Fat Man, sobre Nagasaki
Dois anos mais tarde, em teste numa localidade próximo a Alamogordo, no Novo México, a primeira bomba atômica foi detonada com sucesso. Contudo, Roosevelt não viveria para decidir ou não a utilização da nova e ponderosa arma na Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 12 de abril de 1945, deixando a decisão para o seu sucessor, Harry Truman. Este autorizou o emprego das duas primeiras bombas nucleares contra o Japão, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente em Hiroshima e Nagasaki, quando, para os nipônicos, a derrota já estava praticamente selada.