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A Ucrânia se beneficiaria entrando para União Europeia?
SIM
A decisão de Viktor Yanukovich de abandonar as negociações para um acordo de associação com a União Europeia remete a um debate de natureza política e econômica que tem marcado a história recente da Ucrânia.
Apesar de passadas mais de duas décadas desde que Kiev conseguiu a independência frente à Moscou, as relações entre os dois países ainda são viscerais e, por vezes, conflituosas. Isso se dá por dois motivos: (1) a política externa agressiva da Rússia em relação a seu “exterior próximo”, que busca evitar a perda de influência nas ex-repúblicas socialistas soviéticas; e (2) a presença de uma importante diáspora russa na Ucrânia – concentrada na porção leste do país – que pressiona por uma postura mais próxima ao vizinho.
Para Fabiano Mielniczuk, NÃO: O acordo não é favorável à Ucrânia
Agência Efe
Uma das vantagens de entrar para a UE é o acesso ao mercado europeu, diz o pesquisador
Além da dimensão política, é possível encontrar fatores econômicos que complexificam esta relação. Ucranianos necessitam de bons termos comerciais com a Rússia, destino de cerca de 26% das exportações e origem de quase 33% das importações. Além disso, o processo de desindustrialização recente (este setor encolheu 5% em 2013) aumenta a dependência e torna o país mais suscetível a pressões comerciais do regime de Putin. Não faz muito tempo desde o último inverno em que a Rússia cortou o envio de gás.
Apesar de Yanukovich ter o apoio da diáspora russa, este percebia a importância da diversificação das relações comerciais. O acordo com a UE se inseria nesta pauta, ganhando urgência graças à impossibilidade de acesso a créditos do FMI, ao déficit na balança comercial (pelo oitavo ano seguido) e ao fraco desempenho do PIB.
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No processo de negociação com Bruxelas, o governo ucraniano conseguiu garantir salvaguardas para alguns setores e um longo prazo para adaptação de suas empresas. Além de acesso ao mercado europeu, seriam disponibilizados créditos de 610 milhões de euros, somados aos 120 milhões já previstos na Política de Vizinhança. O acordo também incluía um aumento de investimentos, superando os atuais 634 milhões de euros. Por fim, havia a previsão de subsídios no valor de 200 milhões de euros para a modernização de setores sensíveis da economia ucraniana.
Indo além, o acordo de associação não era excludente em relação à união aduaneira proposta pela Rússia. Nada diminuía a liberdade de Kiev de promover a redução de tarifas com outros países.
Em suma, o acordo com a UE era assimétrico, mas em favor da Ucrânia, dando a esta tempo e recursos para adaptação e garantindo sua liberdade para promover relações comerciais com outros parceiros. Avaliações externas calculam que o PIB ucraniano cresceria 6% em função do maior fluxo comercial com a UE.
Apesar disso, Yanukovich esnobou Bruxelas. Usou como desculpa que o livre-comércio seria prejudicial para sua indústria e estaria atrelado a demandas políticas inaceitáveis. De fato, a UE pressionou para o fortalecimento das instituições democráticas e para a libertação da líder oposicionista, Yulia Tymoshenko, mas nem isso o governo ucraniano precisou fazer.
Pesquisas apontam que 45% da população apoia melhores relações com a Europa. Apenas 14% preferia que o país ingressasse no bloco econômico formulado por Moscou. No dia 21 de novembro, com o anúncio da suspensão da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich tomou uma decisão controversa. No dia seguinte, milhares de pessoas foram às ruas de Kiev exigindo sua renúncia.
Com a inesperada interrupção do diálogo, a Ucrânia sucumbiu a pressão russa e aceitou o destino de dependência econômica. O acordo com a UE não era uma panaceia, mas o caminho escolhido pelo governo não contribui para o aumento da autonomia do país.
(*) Daniel Edler é fellow em estudos europeus do Centro de Relações Internacionais, CPDOC/FGV
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