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Uma bolha de anarquia e liberdade incrustada na Atenas vigiada, a área cercada da Politécnica grega se traveste de mato alto e pichações, como se quisesse camuflar a ebulição política do lado de dentro de suas paredes. O terreno, que hoje abriga apenas o curso de arquitetura da Universidade de Atenas, é considerado reduto livre de polícia. Se um dia ela entrar, o país vai abaixo.
Roberto Almeida/Opera Mundi
O estudante Giorgos Korones não se vê mais como o futuro da Grécia e deixará o país em 2013
Quem explica é o estudante Giorgos Koroneos, de 24 anos, que relata de forma enciclopédica como, em novembro de 1973, em meio à ditadura militar grega (1968-1974), o coronel Georgios Papadopoulos enviou um tanque de guerra para dizimar um grupo de estudantes encastelados contra a junta. Foram 24 mortes e uma cicatriz na história da Grécia contemporânea.
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Orgulhoso do passado de resistência da universidade, Koroneos, estudante de arquitetura, filho da classe média grega, perde o sorriso ao calcular o quanto seus pais perderam com a crise. Autônomos, tomaram dezenas e dezenas de calotes, e devem sofrer cortes em suas aposentadorias.
A frustração com a decadência do país está em seu olhar. O cansaço com o rumo das decisões do Parlamento também. “Precisamos voltar a ser uma sociedade saudável. Todo mundo se revolta com qualquer coisa e violência é a resposta mais comum. Temos que começar a pensar de novo. Usar nossos cérebros”, disse o rapaz.
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Mesmo sem ser filiado a qualquer grupo político dentro da universidade, ele participa ativamente dos protestos antiausteridade. Assim como muitos, ele não se vê como parte do futuro da Grécia. “Vou trabalhar em meu projeto final até fevereiro e esperar pelo futuro. Achei que poderia trabalhar aqui [em Atenas] logo depois de acabar o curso, mas agora não tem a menor chance. Vou sair do país”, afirmou.
Do quê vai sentir falta? “Da anarquia mesmo. De como as pessoas são legais. É bom estar na Grécia, viver na Grécia. Mas isso está mudando. Isso aqui nunca foi um país organizado, mas deixou de ser bom de se viver.”