Nas vésperas da eleição parlamentar israelense desta terça-feira (22/01), a Liga Árabe pediu aos árabes-israelenses comparecerem às urnas para impedir a formação de um governo “que vai promover leis racistas e limpeza étnica”. O comunicado, pouco usual ao bloco que não se envolve em questões internas, alerta para um importante elemento da democracia israelense: a falta de confiança dos palestinos nas instituições do país.
Agência Efe
Os locais de votação abriram na manhã desta terça-feira (22/01); soldados israelenses votaram em posto no território palestino
Os palestinos representam 20% da população de 8 milhões de pessoas em Israel, constituindo 14% dos eleitores dos país – uma taxa alta se comparada à dos latinos (9%) nos Estados Unidos. Mesmo assim, na atual gestão, apenas 11 dos 120 membros parlamentares pertencem a partidos dominados por árabes.
Se todos os árabes comparecessem às urnas nesta terça (22/01) para votar em partidos de maioria palestina, poderiam conquistar mais de 20 dos 120 assentos no Knesset. Com este número, eles não conseguiriam formar uma coalizão para governar, mas acabariam se convertendo em uma parcela mais significativa na oposição.
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Os três partidos vinculados aos árabes e à luta anti-sionista – Hadash, Balad e Ta’al – se uniram em uma campanha nas redes sociais para pedir pelo voto desses árabes com cidadania israelense.
O jornal Haaretz, de orientação liberal, lançou uma edição pouco usual em árabe com a manchete: “as eleições parlamentares estão no coração de qualquer luta civil”. “Desespero e abstenção são os piores inimigos desta luta, e eles são luxos que os cidadãos israelenses não podem comprar”, acrescentou o texto.
Apesar do apelo, a tendência é de que poucos árabes compareçam às urnas nesta terça (22/01). Segundo pesquisa da Universidade de Haifa citada pela reivsta 972mag, apenas 50,7% desses eleitores vão exercer seu direito de votar. Desde as eleições de 1999, a participação dos árabes no processo institucional está em declínio: a taxa caiu de 75% para 53% no último pleito nacional, em 2009.
Por que esses eleitores não querem votar?
A população árabe representa a grande maioria da população carente de Israel. Cinco em cada dez deles vivem abaixo da linha de pobreza, segundo dados de 2008. Eles alegam sofrer discriminação em todos os aspectos da vida cotidiana: ao conseguir um emprego, ao comprar uma casa, ao acessar a educação e outros serviços públicos – como descreve a Associação de Direitos Civis de Israel.
Efe (21/01)
Enquanto eleitores israelenses se preparam para comparecer às urnas, militares derrubam casa de palestino construída em área militar de Hebron
Nos últimos anos, os parlamentares aprovaram dezenas de leis e regulamentos dificultando a permanência dessa população em cidades israelenses. Esses árabes encontram dificuldades para deixar o país rumo aos territórios palestinos (Gaza e Cisjordânia) para visitar amigos ou familiares e em muitos outros afazeres do dia-a-dia.
“Este não é nosso país” e “todos são anti-árabes” se tornaram frases comuns nos ouvidos de jornalistas que cobrem as eleições desta terça (22/01). Muitos árabes que vivem em Israel também não participam por acreditarem que seria legitimar o estado de Israel e suas políticas. Alguns defendem a solução de um estado único, democrático e laico para todos e se recusam a participar de algo que não concordam.
“Sempre pensamos que a esquerda israelense era melhor que a direita, mas Ehud Barak quebrou os ossos dos palestinos, e Yitzhak Rabin também. Já não espero nada da esquerda israelense. Netanyahu não quer a paz, mas a esquerda também não. É só olhar as campanhas eleitorais: quase não mencionam a Palestina, somos irrelevantes para eles”, afirma Anine Ayash à Agência Efe.
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Centenas de manifestantes ocuparam terreno palestino evacuado por Israel para construção de assentamento
Além de a questão palestina ter sido secundária nesta campanha eleitoral, as propostas de partidos de esquerda e direita se aproximam muito quanto ao tema.
A baixa participação não significa, no entanto, que os árabes-israelenses se afastaram das atividades políticas. Com grande parte desta população proveniente do êxodo palestino de 1948, existem muitas organizações e movimentos que buscam recuperar as origens árabes destruídas com a ocupação israelense – como o Grassroots Jerusalem.
Grande parte da juventude também está engajada na luta pela libertação palestina e contra os assentamentos – como foi o caso do acampamento “Portal do Sol” na área de uma colônia.
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