A eleição legislativa Israel que está sendo realizada nesta terça-feira (22/01) vai definir os próximos 120 representantes parlamentares do país para um período de quatro anos. As pesquisas de opinião divulgadas até a última semana apontam que o bloco da direita, capitaneado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, deverá vencendo os partidos mais ao centro e à esquerda.
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Mas, no caso israelense, o que significa a divisão entre esquerda e direita? Quais são as diferenças e semelhanças entre os partidos?
Ana Carolina Marques/Opera Mundi
Medidas de austeridade, justiça social, privatização dos serviços, direitos dos judeus ortodoxos e de minorias são os principais temas em discussão que dividem grande parte dos partidos dessas duas correntes. A grande maioria desses grupos compartilha, no entanto, um princípio comum e de grande relevância: o sionismo, que se traduz na existência inquestionável de Israel.
As exceções são o Hadash, o Balad e o Ta’al, os únicos no quadro político israelense que continuam contrários a perspectiva sionista.
Esquerda sionista
Trabalhista – líderes dos protestos anti-austeridade de 2011, favoráveis a intervenção em Gaza
Efe
Campanha de Shelly Yachimovich (foto), líder do Partido Trabalhista, se focou em luta contra austeridade
Sua liderança participou ativamente das manifestações de 2011 contra os cortes orçamentários realizados pelo governo para conter a crise econômica e foi nesse eixo que se concentrou sua campanha. Shelly Yachimovich, a número um do partido considerado à esquerda, é engajada na defesa da justiça social entre os israelenses e defendeu diversas políticas do governo Netanyahu em relação à Palestina.
Representante parlamentar, ela aprovou a última operação militar de Israel na Faixa de Gaza entre os dias 14 e 21 de novembro de 2012, que deixou ao menos 147 pessoas mortas e mais de mil feridos (em sua grande maioria, civis). Sob o argumento da “luta contra o terror”, Yachimovich também apoiou o assassinato de Ahmed Jabari, líder do Hamas que negociava uma solução ao conflito.
Uma de suas declarações mais explícitas de apoio ao sionismo e aproximação à direita diz respeito à expansão dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos. “Eu, certamente, não vejo o projeto das colônias como um pecado ou um crime. Foi o Partido Trabalhista que fundou a iniciativa dos assentamentos nos territórios; isto é um fato histórico”, afirmou ela.
Meretz – principal partido liberal-democrata, prevê concessões aos colonos judeus
Wikicommons
Membros do Meretz participam de marcha pelos direitos humanos em Tel Aviv em dezembro de 2012
Ter como proposta a promoção de direitos humanos (incluindo o de minorias sexuais e étnicas, como os imigrantes africanos) e de justiça social faz esse partido ser considerado um dos principais da esquerda liberal israelense. Além de pedir o fim dos privilégios dos judeus ortodoxos, esse grupo, que possui laços estreitos com ONGs, denunciou a política violenta do governo com os imigrantes africanos.
O Meretz pede a retomada do processo de paz com os palestinos e defende a solução de dois estados dentro das fronteiras de 1967, mas reconhece algumas concessões aos colonos judeus. O partido acredita que não é possível desmantelar todos os assentamentos israelenses estabelecidos dentro do território palestino e propõe deixar os de maior número populacional.
Apesar disso, o partido pede por negociações pacíficas e denuncia a crescente militarização do país. O Meretz se posicionou contra as últimas operações israelenses em Gaza, mas críticos afirmaram que o passo não foi unânime.
Kadima – contra o congelamento das colônias
Divulgação
O atual líder do Kadima e ex-chefe das Forças Armadas, Shaul Mofaz, aprovou operação israelense em Gaza
Estabelecido pelo ex-premiê Ariel Sharon, este partido centrista defende políticas liberais e se destacou no ano passado por deixar a coalizão de Netanyahu depois de uma polêmica sobre os direitos dos judeus ortodoxos. O Kadima pediu que os jovens seminaristas sejam obrigados, como todos os outros, a servir no corpo militar aos 18 anos, mas o Likud cedeu à pressão dos grupos religiosos e se opôs à medida.
O grupo, que nas últimas eleições obteve um assento a mais do que o Likud, é adepto a solução de dois estados, mas passou a defender, recentemente, a construção dos assentamentos israelenses. Em 2010, quando o atual premiê cedeu à pressão norte-americana e aprovou um congelamento nas construções das colônias, o então representante do Kadima Yohanan Plesner afirmou ao jornal Jerusalem Post que, com o Kadima, a expansão teria continuado.
Recentemente, o líder do Kadima e ex-chefe das Forças Armadas de Israel, Shaul Mofaz, expressou apoio à última operação do país em Gaza. “O Hamas é responsável pelo terror que emana de Gaza e tem que pagar um alto preço por isso”, afirmou ele citado pelo jornal Times of Israel.
Direita sionista: manutenção de um estado judaico
Shas – de “centro de reabilitação gay” à expulsão dos “infiltrados” e palestinos
Efe
Judeu ortodoxo caminha em frente à casa com cartazes eleitorais dos principais líderes do Shas
Fundado em 1984, esse partido judeu ortodoxo já participou de coalizões com governos centristas apesar de sua orientação ser a extrema-direita. Com uma plataforma religiosa, seus membros procuram assegurar os benefícios dos ortodoxos em Israel – como a polêmica lei que exclui os seminaristas do serviço militar obrigatório e as bolsas de estudos para suas escolas religiosas.
O Shas é famoso, no entanto, por propostas e declarações polêmicas contra o direito de minorias e dos palestinos.
Em 2008, um de seus parlamentares, Nissim Ze’ev, chegou a afirmar que a comunidade homossexual “estava levando a sociedade israelense e o povo judeu à destruição” ao defender a proibição da parada gay. Ze’ev ainda propôs a construção de “centros de reabilitação” para os homossexuais.
Para Eli Yishai, ministro do Interior de Netanyahu, os imigrantes africanos também estão arruinando Israel. “Os infiltrados, assim com os palestinos, vão levar ao fim o sonho sionista”, disse ele em junho do ano passado ao defender a medida de deportação em massa dos africanos de Israel.
Yishai também foi responsável por uma chocante declaração durante a última operação israelense em Gaza, em novembro deste ano. Na ocasião, ele disse que o objetivo da investida militar é “mandar Gaza de volta para a Idade Média” para que seu país “tenha tranquilidade por 40 anos”.
Quanto ao reconhecimento do estado palestino, não está claro a posição do Shas. Apesar de afirmações sobre o “sonho do povo judeu” na “terra prometida”, o número DOIS do partido, Aryeh Deri, disse no início do mês que vai apoiar Netanyahu em uma possível solução pacífica com os palestinos. Apesar disso, a organização continua a apoiar a expansão dos assentamentos nos territórios palestinos.
Habayit Hayehudi – árabes e imigrantes colocam em risco “segurança, demografia e valores” de Israel
Efe (21/01)
Líder do Habayit Hayehudi, Naftali Bennet, reza no Muro das Lamentações, em Jerusalém, na véspera da eleição
Grande revelação desta eleição, o partido deve conquistar cerca de 15 assentos parlamentares em oposição aos 3 que possui atualmente. Liderado por Naftali Bennet, a organização segue uma agenda da extrema-direita e afirma que sua missão é “restaurar a essência judaico-sionista do estado de Israel”.
Assim como o Shas, o partido se opõe ao casamento homossexual e à imigração de outros povos por acreditar que “são conflitantes com os valores de Israel como um Estado judeu”. Entre as propostas para 2013, seus membros prometem investir na educação judaica e na manutenção da “demografia” judaica do país.
O Habayit Hayehudi se coloca além das duas soluções ao conflito com a Palestina: não concordam nem com o estabelecimento dos dois estados, nem com a anexação da Cisjordânia. “Nós acreditamos que ambas colocam em perigo o futuro do Estado de Israel em termos de segurança, demografia e valores. Os líderes palestinos não querem a Cisjordânia, mas todo o estado de Israel – então, não existe solução perfeita”, diz em sua proposta.
Em dezembro, Bennet afirmou que como militar, se recusaria a cumprir ordens para evacuar os assentamentos, considerados ilegais pela lei internacional. Posterioremente, teve de se retratar.
Likud-Beiteinu – expansão dos assentamentos e juramentos de lealdade
Efe
Propaganda do premiê Benjamin Netanyahu, líder da coalizão Likud-Beiteinu, apontada como favorita
O Yisrael Beitenu, liderado pelo ex-chanceler Avigdor Lieberman foi fundado por imigrantes judeus dos territórios soviéticos. A organização apoia medidas de austeridade para combater a crise, assim como grande parte do Likud, mas sua agenda se foca em temas nacionais. Punir os protestos palestinos no dia da Nakba (ou “desastre” quando milhares tiveram de deixar suas terras para a criação de Israel) e impor um juramento de lealdade a imigrantes e árabes que vivem em Israel estão entre suas principais propostas.
Provenientes da escola de Ze’ev Jabotinsky do sionismo revisionista, oBeiteinu e o Likud não chegaram a um acordo quanto ao reconhecimento do estado palestino – o que acabou permanecendo fora de sua plataforma.
“Dividir o território trará a destruição de Israel. Nós já dissemos no passado e vamos dizer hoje”, afirmou um oficial do Likud em condição de anonimato ao Haaretz. Enquanto os oficiais do Likud declaram preocupação com um possível estado palestino, membros do Yisrael Beitenu rechaçam a possibilidade.
Os quatro anos de governo de Netanyahu foram marcados pela expansão dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos que, segundo dados da Peace Now, mais do que quadruplicaram.
Há dúvidas sobre se os dois partidos continuarão coligados ou não depois da eleição, como oficiais confidenciaram ao jornal Haaretz. A união indica que os setores mais direitistas do Likud, fundado em 1948 por grupos paramilitares, tomaram conta da coligação.
Extrema-esquerda anti-sionista
Balad – estado laico e democrático para todos os povos
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Hanin Zoabi, a primeira parlamentar árabe da história do Knesset; ela defende solução de um estado democrático
Fundado pela esquerda árabe em 1995, o partido se opõe à solução de dois estados para o conflito e defende o estabelecimento de um único estado laico e democrático para todos os povos.
Na eleição passada, a organização garantiu três assentos no Knesset, entre eles, o da primeira representante mulher árabe: Hanin Zuabi. Em dezembro, o Comitê Eleitoral desqualificou sua candidatura, mas a decisão foi revertida pela Suprema Corte. Zuabi, que já escutou ser “a mulher mais odiada em Israel”, participou da Flotilha da Liberdade em 2010, quando um navio tentou furar o embargo à Gaza.
Hadash – “dois estados para dois povos”
Wikicommons
Membros do Hadash carregam bandeira de solução de dois estados em manifestação contra guerra do Líbano (2006)
O único partido de árabes e israelenses vem de uma antiga organização comunista israelense. Criador do lema “dois estados para dois povos”, a organização defende o fim da ocupação dos territórios palestinos capturados em 1967 e o retorno às fronteiras de 1948. Apesar disso, o grupo prega a transformação de Israel em um “estado para todos os cidadãos” e não mais um “estado judeu”. O Hadash conta com 4 assentos no parlamento atual.
*Colaborou Sérgio Storch, membro do grupo JUPROG – Judeus Progressistas e do Consenso Brasileiro pela Paz Palestina-Israel
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