Marcelo Bonfá, Renato Rocha, Dado Villa-Lobos e Renato Russo: a cara do rock brasileiro nos anos 80 e 90
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No campo das Ciências Sociais, o rock nacional não tem o mesmo prestígio de manifestações como a Bossa Nova e a MPB. Enfrenta até mesmo certa resistência por conta de seu estrangeirismo, de seu caráter de produto importado.
Partindo dessa premissa e já inserida em um contexto em que tal cenário começa a se transformar, a cientista social Érica Ribeiro Magi lançou o livro Rock and Roll é o nosso trabalho: A Legião Urbana do underground ao mainstream.
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A obra parte do estudo de mestrado da autora, com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) e defendido na Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus Marília.
“Meu objetivo era compreender o processo de consolidação do rock brasileiro na década de 1980 — por meio da escalada de sucesso da banda Legião Urbana, do underground, vivido em Brasília e São Paulo, ao mainstream, no Rio de Janeiro —, analisando a forma pela qual essa geração emergiu e construiu o seu espaço de trabalho na indústria cultural”, afirmou Magi à Agência Fapesp.
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Segundo ela, até a década de 1970, o rock feito no Brasil não estava nas paradas de sucesso (exceto por Rita Lee e Raul Seixas), nas capas dos cadernos de cultura e em programas de rádio e TV.
Estrelato: no fim da carreira, Legião Urbana faz show no Metropolitan (RJ) lotado, em outubro de 1994
O gênero, seus músicos e fãs estavam às margens do que era respeitado pela imprensa e valorizado pelas gravadoras. “Relacionar rock a trabalho e afastar a imagem dos roqueiros dos estigmas de ‘drogados’ e ‘inconsequentes’ foram princípios construídos e defendidos pela geração de bandas da década seguinte”, disse Magi.
A legitimidade comercial e cultural veio da atuação de bandas como a Legião Urbana, de jornalistas e de produtores musicais, bem como da articulação entre esses diferentes atores sociais. Com base em jornais, revistas, programas de rádio e televisão e álbuns do grupo de Renato Russo, o estudo mostra como tais redes de sociabilidade deram origem a critérios de produção e avaliação musical — que, por sua vez, foram essenciais na consolidação do gênero no país.
Ao longo do texto, a autora conclui que tal articulação entre agentes sociais diversos não seria possível da mesma forma nos dias de hoje. “Isso porque se consolidaram formas de produzir, criticar e divulgar o rock no Brasil que independem de relações de amizade ou de proximidade entre os agentes — ao menos quando falamos em mainstream. “Talvez ainda seja possível encontrar uma articulação parecida no ‘cenário independente’”, disse Magi.
Foto que virou a capa do álbum “Que País É Este?” (1987)
A produção e a crítica musical se profissionalizaram, ganharam formas próprias de expressão e até mesmo diplomas específicos. O gênero assumiu contornos de um “trabalho” propriamente dito e tanto o mercado de trabalho quanto o sistema de ensino foram palcos de transformação.
Magi segue pesquisando o percurso do rock brasileiro, agora no doutorado sobre “A indústria cultural e o rock brasileiro dos anos de 1980”, na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo).
* Texto publicado originalmente no site da Agência Fapesp
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