A corrupção é a marca registrada do fujimorismo. Keiko, a filha e herdeira política do prisioneiro e ex-ditador Alberto Fujimori e hoje candidata presidencial, líder nas pesquisas de intenção de voto, dedica boa parte de seus esforços para tentar descolar sua imagem da corrupção do governo do pai. Porém, quando se refere a esses atos, ela não fala de crimes, mas de “erros”.
Há pouco tempo, em um fórum anticorrupção, ela disse que, por conta desse tema, carrega “uma pesada mochila por culpa de terceiros”. Porém, nessa mochila, Keiko não apenas carrega a corrupção do passado fujimorista, que também a atinge diretamente, mas também a corrupção que marca o fujimorismo atual por ela liderado.
Agência Efe
Keiko durante encerramento de campanha em Lima, realizado na última quinta (07/04)
Do passado, Keiko nunca pôde explicar como foram pagos seus estudos universitários nos Estados Unidos, quando seu pai era presidente. Naqueles anos, ela recebeu mais de US$ 1,2 milhão, entregues em parcelas durante vários anos — e sempre em dinheiro por seu pai — para pagar seus estudos e o de seus três irmãos, além da confortável estadia nos Estados Unidos.
Leia também sobre as eleições no Peru:
Ollanta Humala traiu projeto nacionalista, diz candidata de esquerda à Presidência do Peru
Verónika Mendoza, da Frente Ampla, é a candidata em ascensão na disputa presidencial peruana
A arremetida de Verónika Mendoza
Entrevista: Candidata da esquerda à presidência do Peru é alvo de guerra suja dos meios de comunicação, diz deputado
Duas mulheres disputam as eleições no Peru
Feridas da ditadura Fujimori voltam a sangrar no Peru
O Peru na reta final das eleições
No governo autoritário de seu pai, Keiko conviveu sem problemas com a imensa corrupção que a rodeava. A Procuradoria Anticorrupção estima que, na década fujimorista, o desfalque ao tesouro público chegou perto dos US$ 7 bilhões. Até há pouco tempo, a hoje candidata presidencial morava na casa de sua tia Juana Fujimori, acusada de corrupção e foragida da Justiça.
Porém, a corrupção fujimorista não fica no passado. Keiko não pôde explicar com convicção a origem dos recursos que permitem que ela mantenha um alto padrão de vida. Recentemente, houve uma denúncia de que sua candidatura recebe financiamento de uma empresa offshore formada nos Estados Unidos, figura ideal para ocultar a origem dos fundos que recebe. Há também muitos pontos obscuros no financiamento da milionária campanha fujimorista. Foi revelado que, na eleição presidencial de 2011, a campanha de Keiko recebeu dinheiro de ao menos uma pessoa ligada ao narcotráfico.
NULL
NULL
Seu entorno mais próximo também tem a marca da corrupção. A líder de sua lista parlamentar em Lima é a atual congressista Cecilia Chacón que, em 2012, foi condenada a três anos de prisão por enriquecimento ilícito. Chacón conseguiu se livrar da sentença graças à imunidade parlamentar. Três anos depois, a Corte Suprema peruana, em uma questionável resolução, anulou a sentença por uma formalidade legal e exigiu um novo processo. Agora, o caso Chacón voltou para a promotoria. Ela é filha de um general do Exército que fez parte da cúpula militar do autoritário regime fujimorista e que esteve preso por corrupção.
Outros candidatos em suas listas parlamentares receberam sentenças ou têm processos judiciais abertos por crimes como peculato, falsificação de documentos ou abuso de autoridade. O congressista e secretário-geral do partido fujimorista Fuerza Popular, Joaquín Ramírez, está sendo investigado pelas autoridades judiciais por lavagem de dinheiro. E, recentemente, a atual congressista fujimorista María López foi condenada a cinco anos de prisão por enriquecimento ilícito.
Assim, a corrupção é uma marca não apenas do fujimorismo de ontem, formado pelo ex-ditador Alberto Fujimori, o chefe do clã familiar, mas também do fujimorismo de hoje, encarnado por sua filha Keiko e que aspira retornar ao poder.
—
Nota da edição:
Apesar da controvérsia em torno dos estudos de Keiko nos Estados Unidos, a promotoria do país arquivou a investigação a esse respeito em 2012.
Sobre as posses da presidenciável, em 2015 a Comissão de Fiscalização do Congresso se opôs à investigação sobre possíveis irregularidades em suas propriedades.
Com relação à corrupção ocorrida durante o governo de Fujimori, Keiko respondeu, em debate realizado em fevereiro deste ano: “tenho o compromisso de que estes crimes não voltarão a ocorrer em nosso país”.
—
Tradução por Mari-Jô Zilveti
Artigo publicado originalmente pelo jornal argentino Página 12