O jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, falou no programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta quarta-feira (30/11) sobre a Copa do Mundo de 2022 no Catar e as dificuldades enfrentadas pelo futebol brasileiro contemporâneo.
Segundo ele, a perda de supremacia para os times europeus inviabiliza o rótulo de “país do futebol” que o Brasil portou no passado, especialmente no período de 12 anos em que venceu três campeonatos mundiais: em 1958, 1962 e 1970.
“O Brasil já foi o melhor, mas ainda é um dos melhores”, afirmou, propondo que se engavete o ufanismo futebolístico nacional para evitar falsas expectativas e grandes frustrações.
Para Altman, os fatores estruturais são mais determinantes que os táticos para explicar a situação atual e os 48 anos, desde 1970, nos quais o hoje pentacampeão mundial conquistou apenas dois títulos, o último deles há 20 anos.
“Os campos de várzea foram minguando nos últimos 50 anos, engolidos pela expansão imobiliária. A massificação do futebol foi sendo transferida para dentro dos próprios clubes, com suas escolinhas espalhadas pelo país, que já representam um tremendo filtro de acesso”, avalia, contrastando a fase atual com o período em que o futebol virou identidade nacional e propiciou supremacia a profissionais pobres e pretos, “os excluídos da Pátria”, nos campos e nas Copas do Mundo.
Outro fator determinante é o êxodo de profissionais, que favoreceu um deslocamento do centro do futebol mundial para a Europa. Ele lembra que, na seleção brasileira atual, há jogadores que jamais atuaram no Brasil como profissionais.
O país se consolida como fornecedor de talentos, em prejuízo da competitividade e produtividade interna: “o Brasil passou a ser, especialmente depois dos anos 1990, um grande exportador de jogadores, mas perdeu a primazia que antes tinha sobre o mundo da bola, em função de um sistema em que o desenvolvimento capitalista privatiza o esporte e o espaço público do esporte e internacionaliza o craque. Esse último elemento debilita claramente a seleção”.
Lucas Figueiredo/CBF
Seleção se classificou para as oitavas de final da Copa Catar 2022
Altman compara essa situação à da Espanha, onde os jogadores atuam juntos durante o ano todo e se dividem praticamente em dois times, Barcelona e Real Madri. A transformação dessa estrutura ao longo dos anos, desde os tempos de Pelé, Garrincha e Tostão, impede o convívio harmônico entre os jogadores e a empatia entre eles e a torcida nacional.
“Nos 12 anos que separam os mundiais da Suécia, em 1958, e do México, em 1970, o Brasil criou a mística de que a seleção nacional era inigualável até quando perdia”, historia o jornalista, trazendo as evidências de que nesse período o Brasil foi de fato o dono da bola mundial.
Com as derrotas da seleção a partir de 1974, foi se impondo a teoria de que o Brasil deveria substituir o futebol técnico, vitorioso no período anterior, pelo tático: “a escola brasileira estava ficando para trás diante do avanço físico e tático do futebol europeu, e essa corrente defendia trocar a liberdade de movimento tão característica do futebol brasileiro até então pela disciplina tática que reduzisse o espaço de improviso, reforçando acima de tudo o setor defensivo, tido como a maior fragilidade brasileira”.
Tais transformações não favoreceram o futebol local, como demonstra Altman. “Depois dos 24 anos de intervalo entre 1970 e 1994, este é o mais longo período de seca do futebol nacional, com quatro Copas passadas em branco, uma entre essas dentro de casa, em 2014, na qual a seleção passou a maior vergonha de sua história com o 7 a 1 sofrido contra a Alemanha”, recorda.
Em sua opinião, o Brasil tem um dos três melhores times na Copa de 2022, mas em desvantagem em relação às seleções da Espanha e da França.