O jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, analisou a apatia de grande parte dos setores de esquerda no Brasil em relação à causa palestina e repúdio ao massacre cometido pelo Estado de Israel na Faixa de Gaza, que já resultou na morte de mais de 34 mil civis.
Segundo Altman, nos Estados Unidos e na Europa, a questão palestina provoca a “maior onda de protestos desde a Guerra do Vietnã, nos anos 60 do século passado” e lamentou que no país “esse exemplo ainda não está sendo seguido, com poucas exceções”.
“Conquistou a atenção do mundo e serve de inspiração mundo afora a ocupação de universidades norte-americanas, exigindo o boicote acadêmico com instituições israelenses e o fim do apoio tanto militar quanto financeiro ao regime sionista”, acrescentou.
A fala do jornalista ocorreu durante o programa 20 MINUTOS ANÁLISE, na terça-feira (07/05), quando apresentou o tema “Palestina: por que a apatia na esquerda brasileira?”.
Para o jornalista, parte da esquerda brasileira continua “praticamente desengajados de um esforço mais permanente e organizado de solidariedade”.
“Os grandes partidos de esquerda, sindicatos e movimentos populares, salvaguardando o MST e alguns outros, continuam praticamente desengajados de um esforço mais permanente e organizado de solidariedade. O movimento estudantil, os professores e as universidades começam a dar passos mais firmes no debate e na mobilização, mas o fogo continua baixo. Pouquíssimos são os parlamentares de esquerda que se apresentam para denunciar, de peito aberto, o genocídio do povo palestino. A maioria da intelectualidade e dos artistas parece ter escolhido o silêncio como sua trincheira. Mesmo o presidente Lula, que deu declarações de enorme impacto e contundência contra o governo Netanyahu, desde março sinaliza uma posição mais cautelosa e comedida, além de nenhuma medida prática ter sido tomada contra o regime sionista, ao contrário do que fizeram países como a Colômbia e África do Sul”, descreveu Altman.
Altman também criticou a tentativa de impor uma espécie de “teoria dos dois demônios” por parte de setores que tentam igualar as ações promovidas pelo governo sionista de Israel, liderado pelo premiê de extrema direita Benjamin Netanyahu, e as do grupo de resistência palestino Hamas.
Para Altman, “mesmo que o Hamas tenha cometido violações de direitos humanos e até cometido crimes de guerra em 7 de outubro, essas atitudes colaterais não retiram a legalidade e a legitimidade de sua ação. Primeiro, porque o recurso à luta armada contra o colonialismo está amparado pela resolução 3103 da Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovada em 1973. Segundo, porque o ataque contra o regime sionista foi uma resposta justa a décadas de opressão, especialmente diante da situação vivida pela Faixa de Gaza desde 2007, quando foi transformada no maior campo de prisioneiros do mundo”.
Dessa forma, Altman conclui que, “com essas falácias”, fica “difícil colocar o bloco na rua. Com o freio de mão puxado, o bonde da solidariedade (à Palestina) é obrigatoriamente lento”.
“Alguns setores normalizam o sionismo, no máximo considerando o governo Netanyahu um desvio de caminho, como se a extrema direita sionista tivesse alterado, ou estivesse tentando alterar, a natureza estruturalmente democrática do regime sionista”, ressaltou.