Ao menos quatro pessoas morreram e 43 foram resgatadas em uma operação nesta quarta-feira (14/12) no Canal da Mancha, entre França e Reino Unido, após o naufrágio de uma embarcação que transportava migrantes sem documentos. Alertada durante a madrugada sobre um “incidente com uma pequena embarcação na costa de Kent”, sudeste da Inglaterra, a Guarda Costeira britânica iniciou uma “operação de busca e resgate”.
França e Reino Unido registram há vários dias uma onda de frio intenso, com temperaturas que caíram a 10 graus negativos, o que provocava o temor de um balanço elevado de vítimas nas águas gélidas que separam os dois países.
Navios e equipes de emergência de várias cidades da região foram mobilizados, assim como dois helicópteros britânicos e um francês. As autoridades do norte da França também informaram que uma patrulha da Marinha foi enviada como reforço.
Quase seis horas depois, a operação conseguiu resgatar 43 pessoas, informou a imprensa britânica, com base em fontes governamentais, sem revelar a idade e a origem dos migrantes.
“Quatro mortes foram confirmadas no incidente”, disse uma fonte do governo. O primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, expressou sua “dor” pelo naufrágio e a “trágica perda de vidas”.
Botes com migrantes
O termo “pequena embarcação” é usado no Reino Unido como referência aos botes com migrantes que tentam cruzar o Canal da Mancha da França em direção à costa da Inglaterra.
As imagens exibidas por canais de televisão britânicos mostraram o resgate de migrantes no meio da noite em um bote inflável, que não tinha capacidade para transportar dezenas de pessoas.
Desde o início do ano, quase 45.000 migrantes tentaram fazer a travessia perigosa, contra 30.000 no ano passado.
Flickr/Ministerio de Defensa
Navios e equipes de emergência de várias cidades da região foram mobilizados, assim como dois helicópteros britânicos e um francês
Um naufrágio em novembro do ano passado matou vários migrantes no Canal da Mancha. Na madrugada de 24 de novembro de 2021, 27 migrantes com idades entre 7 e 46 anos – 16 curdos do Iraque, um curdo do Irã, quatro afegãos, três etíopes, um somali, um egípcio e um vietnamita – morreram no naufrágio de um bote inflável na costa francesa quando tentavam chegar à Inglaterra.
Apenas dois passageiros, um curdo iraquiano e um sudanês, foram resgatados com vida. O jornal francês Le Monde afirmou que os migrantes fizeram 15 ligações para as autoridades francesas para pedir ajuda, sem sucesso.
Ao menos 205 migrantes morreram ou desapareceram ao atravessar o Canal da Mancha desde 2014, de acordo com o Projeto Migrantes Desaparecidos da ONU.
Tensão entre Londres e Paris
As travessias de migrantes sem documentos pelo Canal da Mancha, da França em direção ao Reino Unido, são motivo de tensão entre os governos de Paris e Londres.
O tema è particularmente delicado para os conservadores britânicos, que prometeram reforçar o controle de suas fronteiras após o Brexit – que entrou em vigor no início de 2021 -, mas não conseguiram e observam o aumento do número de migrantes sem documentos.
Para tentar reduzir a tendência, os dois países assinaram em novembro um acordo que inclui um pacote de € 72,2 milhões que os britânicos pagarão à França em 2022-2023, com o objetivo de aumentar de 800 a 900 o número de policiais nas praias francesas a partir das quais zarpam os migrantes.
Acordo com a Albânia
O naufrágio desta quarta-feira aconteceu um dia depois de Rishi Sunak anunciar um novo acordo com a Albânia para frear o fluxo de imigrantes que atravessam o Canal da Mancha a partir da Europa continental.
Um terço de todos os que chegaram às águas britânicas este ano – quase 13.000 – eram albaneses, segundo o governo do Reino Unido.
Sunak afirmou que, com o acordo, os albaneses que chegarem em botes pelo Canal da Mancha, uma das rotas marítimas mais utilizadas por grandes cargueiros, serão imediatamente devolvidos ao seu país.