Atualizada em 19/01, `às 18h35
Com uma das mais longas carreiras políticas dos Estados Unidos, Joseph Robinette Biden Junior – Joe Biden -, de 78 anos, chegou à presidência do país. Os eleitores norte-americanos escolheram o ex-vice-presidente de Barack Obama para substituir Donald Trump do cargo, e, agora, ele se tornou o homem mais idoso a assumir o posto.
Escolhido oficialmente para ser o concorrente de Trump na disputa à Casa Branca pelo Partido Democrata, Biden não era a primeira escolha de muitos eleitores. Filho mais velho de quatro irmãos e vindo de uma família da classe trabalhadora, Biden carrega décadas no Senado do país, episódios de gafes, dois aneurismas cerebrais e, ainda, a perda de dois filhos.
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O democrata e sua família se mudaram para Delaware quando Biden tinha 10 anos. E foi por esse estado que, em 1972, concorreu ao Senado norte-americano, tornando-se o sexto senador mais jovem da história do país, com 29 anos. Na Câmara Alta dos Estados Unidos, Biden permaneceu por 36 anos ocupando a cadeira de Delaware.
Família Biden e suas perdas
Mas o início no Senado não ocorreu como planejado. Em dezembro de 1972, pouco antes de assumir o posto, sua esposa e filha mais nova, de 13 meses, sofreram um acidente de carro em Delaware. Ambas morreram. Os outros dois filhos do casal, Beau e Hunter, que também estavam no carro, sobreviveram.
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Após o acidente, Biden cogitou renunciar ao cargo para poder cuidar dos filhos. No entanto, incentivado a continuar, o atual presidente assumiu o mandato e, todos os dias, fazia uma viagem entre Washington e Delaware para poder estar com Beau e Hunter. Devido ao trajeto diário, o democrata chegou a ser apelidado de “Amtrak Joe” – Amtrak é uma das companhias ferroviária dos EUA.
Atualmente, Biden é casado com Jill, professora e doutora em educação. Da relação, o casal tem uma filha, Ashley.
Já na vice-presidência, Biden enfrentou uma segunda tragédia familiar. Em 2015, seu filho mais velho, Beau, morreu após lutar contra um câncer no cérebro. Segundo a emissora ABC News, a família de Biden recebeu cerca de 72 mil mensagens de condolências, vindas de todos os Estados do país, pelo sistema virtual da Casa Branca.
Carreira política
A candidatura em 2020 não foi a primeira tentativa do democrata para chegar à presidência. Em seus anos de Senado, o político foi reconhecido pelos debates que travou na Casa sobre questões externas. Esteve presente em diversas Comissões de Relações Internacionais, por meio das quais se reuniu com mais de 150 líderes mundiais de 60 países.
O prestígio de Biden o ajudou para continuar na carreira política. O democrata já queria ser presidente há pelo menos 30 anos, quando em 1988 concorreu, pela primeira vez, à indicação dentro do partido.
Até então, seu nome era forte e poderia ter chances reais. Porém, sua vontade de continuar na luta pela indicação fracassou após um escândalo de plágio. Biden usou um discurso de Neil Kinnock, do Partido Trabalhista britânico, sem fazer a devida atribuição. Para piorar, um segundo caso de plágio voltou à tona – nesse caso, em um trabalho da faculdade de direito. Com a descoberta, a imprensa norte-americana foi mais a fundo e encontrou outros trechos de diferentes discursos que também continham frases copiadas.
Com o episódio, sua candidatura terminou antes mesmo das primárias democratas.
Após desistir da campanha, Biden descobriu que estava com dois aneurismas. Com dores cervicais fortes, o ex-senador foi encaminhado ao Centro Médico do Exército Walter Reed e nesta unidade hospitalar passou por uma cirurgia emergencial, pois um dos aneurismas intracranianos estava aberto. Um segundo aneurisma também foi retirado por estar comprometido e correr o risco de romper.
Biden chegou a brincar com a situação após realizar as cirurgias, dizendo que seus problemas nas primárias daquele mesmo ano foram culpa da doença.
Sua segunda tentativa foi em 2008, quando se lançou novamente à indicação, que também não foi para frente. Nas primárias democratas do ano em questão, Biden obteve resultados ruins e desistiu de continuar na corrida. Foi nessa eleição que Obama se consagrou candidato e se tornou o primeiro negro a assumir a presidência norte-americana.
Obama convidou Biden para ser seu vice. O convite se baseava no pelo papel que ele exerceu nos comitês de política internacional durante as décadas de Senado.
Casa Branca
Pela lei de Delaware, Biden pôde concorrer ao Senado pelo Estado enquanto disputava a eleição para vice-presidente em 2008 – e ganhou as duas. Frente à escolha, ficou com a vice. Durante os anos de 2009 e 2016, Biden e Obama formaram uma dupla harmoniosa e amigável. Semanalmente o presidente e seu vice almoçavam juntos.
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Após 36 anos no Senado e oito na vice, Joe Biden chega à Presidência dos EUA
A postura de negociador de Biden se fez presente nos dois mandatos em que a dupla permaneceu na Casa Branca. Sua experiência no Senado lhe fez conquistar vitórias para o governo.
Uma delas foi a aprovação do estímulo fiscal de 2009, que dava aval para que os Estados Unidos injetassem dinheiro na economia. Um segundo momento foi a responsabilidade de gerenciar a Guerra do Iraque, episódio pelo qual Biden viajou oito vezes ao país do Oriente Médio.
Seu papel no governo Obama foi reconhecido quando o ex-presidente, ao final do mandato, concedeu a Biden a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração de presidência norte-americana.
'Bidenismo': histórico de gafes e denúncias de assédio sexual
Desde criança, Biden lutou contra a gagueira. Falar em público o ajudou contra essa disfunção. Porém, ainda são perceptíveis certas dificuldades do democrata ao se expressar.
Além disso, Biden é conhecido por algumas gafes. De acordo com a imprensa dos Estados Unidos, até mesmo Obama teria recomendado que Biden não concorresse à presidência para não estragar seu “legado” e “não se constranger”. O próprio presidente eleito admitiu, em 2018, ser uma “máquina de gafes”.
“Eu sou uma máquina de gafes, mas, meu Deus, que coisa maravilhosa se comparada a um cara que não consegue dizer a verdade”, disse, em um evento de lançamento de seu livro.
A lista de episódios desastrosos de Biden é longa. Já aconteceu de se confundir sobre qual dos pais do então primeiro-ministro irlandês Brian Cowen havia morrido. Em uma cerimônia em 2008, quando ainda era candidato à vice-presidência, Biden pediu para que o ex-senador estadual do Missouri Chuck Graham se levantasse para receber uma salva de palmas. Graham é paraplégico desde os 16 anos.
Mais recentemente, em um evento voltado aos eleitores latinos e asiáticos, Biden disse que “crianças pobres são tão inteligentes quanto crianças brancas”.
Seu histórico lhe rendeu um termo próprio: Bidenismo. Segundo o jornal britânico Telegraph, o nome pode ser definido como a “arte de cometer humilhação pública a si mesmo e a outros funcionários públicos de destaque”.
De fato, Biden consegue se sobressair nesses casos e levar seus apoiadores ao riso, mas há episódios que nem sempre são assim. Há, por exemplo, denúncias de assédio contra o ex-senador.
Amy Lappos e Lucy Flores relataram, em 2019, casos antigos em que Biden as teria tocado de forma inadequada. Em um dos casos, a vítima relata que o ex-senador beijou sua nuca sem permissão em um evento realizado há seis anos. À época das denúncias, o ex-vice de Obama afirmou que não “agiu de forma inapropriada”.
“Durante muitos anos de campanha e de vida pública, dei inúmeros apertos de mão, abraços, expressões de afeto, de apoio e de consolo. Nem uma só vez, nunca, pensei ter atuado de maneira inapropriada. Se se sugere que este é o caso, vou escutar respeitosamente. Mas jamais foi a minha intenção”, afirmou.
Há, também, o caso Anita Hill, no qual o próprio democrata se desculpou publicamente. Em 1991, o então presidente George Bush indicou Clarence Thomas para a Suprema Corte dos Estados Unidos. No meio dos trâmites para que ele fosse confirmado, a advogada Anita Hill denunciou Thomas por assédio sexual.
A advogada foi chamada e ouvida em um comitê presidido por Biden. O episódio entrou para a história pelo fato de como Hill foi questionada pelos senadores, que, o tempo todo, duvidavam da sua palavra.
O presidente da comissão – no caso, o hoje presidente -, deixou de chamar testemunhas que seriam favoráveis à vítima e ainda pediu, sem qualquer justificativa objetiva, que ela contasse mais de uma vez o assédio que havia sofrido.
Neste ano, Biden declarou que conversou com Hill sobre o acontecido e disse a ela que não se considerava o responsável pelo episódio, mas que se sentia mal pelo o que aconteceu.
Rumo à presidência
Com todos esses anos de política, Biden se lançou à indicação democrata para ser o nome que disputaria a Casa Branca contra o então presidente republicano Donald Trump. O início de sua corrida nas primárias foi mais titubeante do que se esperava: variava entre o quarto e o quinto lugar nas pesquisas. Após a desistência de outros candidatos, a influência da direção do Partido Democrata e a força de estados com maior participação da população negra, seu nome decolou.
Em 19 de agosto de 2020, o partido oficializou Biden como candidato ao pleito. E como prometido, o indicado chamou uma mulher para compor sua chapa, Kamala Harris, a primeira mulher negra a concorrer ao cargo – e, agora, a primeira mulher a ser vice-presidente.