Uma multidão saiu às ruas de Lisboa neste domingo (14/01) em apoio ao povo palestino. A marcha teve início em frente à embaixada dos Estados Unidos e seguiu até a porta da sede diplomática de Israel. Os manifestantes pediram o fim do genocídio em Gaza e a condenação do Estado israelense pelos crimes de guerra cometidos contra a Palestina.
A manifestação em Lisboa, capital portuguesa, foi mais uma entre as dezenas de protestos que aconteceram neste final de semana em várias cidades europeias, incluindo Berlim, na Alemanha, Londres, no Reino Unido, e Copenhague, na Dinamarca. “Nós estamos aqui hoje para exigir o cessar-fogo imediato e dizer que essa cumplicidade dos EUA com Israel não pode continuar”, afirmou Isabel Camarinha, secretária-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), a maior central sindical do país e uma das organizações responsáveis pelo ato deste domingo.
Foram mais de 70 manifestações em todo o mundo, o que representa uma preocupação global a respeito da limpeza étnica que está em curso na Palestina e que já dura 100 dias. “Por isso as Nações Unidas têm que manter as suas exigências pelo cessar-fogo e o governo português também tem que ser mais exigente pelo fim desse massacre”, completou Camarinha.
Representando a ala da juventude da CGTP, Rodrigo Azevedo foi mais um que marchou pelas ruas de Lisboa contra a ofensiva militar em Gaza e pelo reconhecimento do Estado da Palestina. Segundo ele, é importante que a juventude seja solidária com a causa e com qualquer outra luta internacional onde haja povos sendo oprimidos.
“Somos uma juventude que, por conta da guerra, tem menos esperança e só através da paz é que seremos capazes de renovar esse sentimento entre a classe trabalhadora”, explicou a Opera Mundi.
O jovem de 27 anos também teceu críticas ao governo português que se mantém sob a égide da União Europeia ao negar a sua própria Constituição (que defende a dissolução de blocos políticos-militares e está pela paz). “Não se compreende que um governo que se diga democrático e socialista não cumpra uma Constituição de pressuposto socialista”, pontuou.
Para Azevedo, o apoio do Brasil à queixa sul-africana contra Israel é um ato não só de solidariedade, mas de coragem. O jovem acredita que a força do governo brasileiro é um desafio capaz de fortalecer uma nova ordem política no mundo.
O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, também marcou presença durante a caminhada rumo à Embaixada de Israel. Para ele, essa foi mais uma grande manifestação de solidariedade do povo português que exige a paz não só na Palestina, mas em todo o Oriente Médio, recordando ainda que já são mais de 100 mil vítimas entre mortos, feridos e desaparecidos.
“É preciso continuar pressionando os responsáveis da guerra a acabarem com ela. O Estado de Israel está bombardeando e matando milhares e milhares de civis e é isso que nós precisamos travar. Não podemos mais continuar com um discurso de cinismo e hipocrisia”, lembrou o líder comunista.
A respeito da pressão da África do Sul em denunciar Israel por genocídio no Tribunal de Haia, o secretário-geral acredita que há um mérito, já que a atitude volta a colocar o governo israelense no centro da responsabilidade pelo massacre: “a exigência das pessoas que estão aqui hoje também é a exigência do povo israelita, pois eles querem a paz e pedem pelo não prolongamento da guerra e de todas as consequências negativas que ela traz”.
Um minuto de silêncio pelos jornalistas
Durante a manifestação, o jornalista Ricardo Cabral Fernandes, 32 anos, lembrou dos mais de 100 jornalistas assassinados por Israel na Faixa de Gaza e no Sul do Líbano desde outubro do ano passado. Mais de 50 edifícios de meios de comunicação social foram parcial ou totalmente destruídos pelo exército israelense.
Stefani Costa
Manifestantes saíram às ruas em Lisboa em solidariedade ao povo palestino e pedindo cessar-fogo
“Desde 1990 que não morriam tantos jornalistas em uma única guerra, se assim podemos chamar. O Estado colonial sionista matou mais de um profissional da comunicação por dia nos últimos quatro meses. Onde está a indignação internacional?! É um muro de silêncio”, relatou Fernandes, que também lembra do posicionamento de muitos que, consciente ou inconscientemente, relatam apenas a narrativa israelense.
Além do apoio ao documento entregue pela África do Sul em Haia, Fernandes também aponta para a força e a importância das declarações que Lula da Silva tem realizado sobre o genocídio que acontece em Gaza e a respeito da violência contra civis na Cisjordânia e em todo território palestino. Segundo ele, o “projeto sionista colonial” está sendo colocado em prática a décadas pelo governo de Israel e isso é a prova de que há uma “falência moral do Ocidente” diante de tantas guerras, massacres e golpes de Estado promovidos pelos EUA e pela Europa no sul global ao longo do século XX e início do século XXI.
Apoio e Solidariedade
Diversos movimentos sociais também assinalaram apoio à manifestação deste domingo pelo fim do massacre na Palestina. Com a chegada das eleições legislativas em Portugal, no próximo dia 10 de março, e diante do crescente discurso anti-imigração no país, o apoio ao povo palestino e a todos os imigrantes se torna cada dia mais fundamental.
Rui Estrela, representante do Movimento Vida Justa, afirma que as organizações e coletivos (que se manifestam diariamente pelos direitos dos cidadãos e pela participação do povo nas decisões políticas) não podem aceitar o escândalo que é um genocídio acontecer em tempo real e a “olhos vistos” sem fazerem nada. “Hoje é na Palestina, mas amanhã pode ser em outra parte do mundo qualquer”, explicou.
Por isso, para Estrela, que também é técnico em projetos sociais, sair para prestar apoio ao povo palestino é uma forma de deixar claro que quando se pede por vida justa ela deve ser estendida a todas as pessoas e que é importante mostrar que o verdadeiro problema que está destruindo a humanidade é o capitalismo.
“As pessoas que estão cá e escolheram este país para viver, seja em definitivo ou por um determinado tempo, também fortalecem o nosso desenvolvimento e precisam ter os seus direitos garantidos. É uma grande hipocrisia que os liberais e toda a direita mais conservadora esteja a fazer campanha para angariar votos de xenófobos, racistas e pessoas confusas que não notam que o verdadeiro problema, seja aqui ou na Palestina, é o capital e o acúmulo de dinheiro na mão de poucos. Esse tipo de desonestidade política também precisa ser combatida”, finalizou.
Manifestações pelo mundo
Portugal fechou o final de semana de marchas em apoio e solidariedade ao povo palestino, já que, no sábado (13/01), diversas outras cidades pelo mundo registraram manifestações.
Em Londres, por exemplo, milhares de manifestantes seguram faixas, bandeiras e cartazes durante ato de apoio ao povo palestino e pedindo um cessar-fogo em Gaza. À emissora catari Al Jazeera, Jeanine Hourani, membro do Movimento Juvenil Palestino inglês, disse que os manifestantes estão irritados com a injustiça em Gaza, afirmando que os britânicos apoiam um cessar-fogo, mas os políticos do Reino Unido “continuaram a financiar e apoiar o genocídio”.
Já em Washington, nos Estados Unidos, os manifestantes demandaram um cessar-fogo permanente e imediato em Gaza, mas também protestarem contra a ajuda financeira e armamentista dos Estados Unidos ao governo de Benjamin Netanyahu. O ato nomeado de “Washington por Gaza” foi considerado a maior manifestação pró-Palestina no país desde o início dos ataques em 7 de outubro.
Manifestações também ocorreram na Itália. No ato, manifestantes levaram cartazes falando em “Palestina livre” e agitaram bandeiras do país.
Paquistão, Grécia, Bangkok, Tailândia e Japão também se juntaram ao dia de solidariedade aos palestinos e pediram um cessar-fogo imediato.