Yigal Amir, um estudante de direito ligado a grupos extremistas de direita israelenses, disparou três tiros pelas costas contra o primeiro-ministro Yitzhak Rabin naquele 4 de novembro de 1995, em Tel-Aviv. Levado para o hospital, o estadista morreu em seguida. As circunstâncias do atentado continuam envoltas, 14 anos depois, em suspeitas e dúvidas.
Naquela noite, Rabin era um homem preocupado. Os acordos de Oslo – que tinham por base o reconhecimento mútuo e o conceito de “terra por paz”, assinados dois anos antes no jardim da Casa Branca com seu arquiinimigo Yasser Arafat – não estavam sendo bem assimilados por grande parte da população.
Uma pesquisa do jornal Maariv mostrava que 78% dos israelenses queriam sustar o processo até que um referendo popular decidisse pela sua continuidade ou não. Rabin não podia aparecer em público sem ser interrompido. O momento mais constrangedor foi numa partida de futebol, quando, ao ter seu nome anunciado, o público de mais de 40 mil torcedores se pôs a vaiá-lo.
Porém, nessa noite, tudo seria diferente. Um conjunto de partidos de centro-esquerda e esquerda, organizações pacifistas, movimentos juvenis havia organizado uma grande marcha e comício em seu apoio. Tudo parecia caminhar bem. Às 21h15, Rabin acabava de pronunciar seu discurso diante de mais de 200 mil pessoas entusiasmadas. Meia hora depois, desceu as escadas do palanque para entrar no carro que o esperava.
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Yitzhak Rabin foi assassinado em 4 de novembro de 1995, em Tel-Aviv
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Havia muita gente por perto e pessoal não autorizado circulava livremente. Dezenas de policiais deveriam estar mantendo a segurança do primeiro-ministro, mas, naquele dia, estranhamente, só uns poucos estavam à vista. A zona do estacionamento ficou às escuras, quando o procedimento básico de segurança é iluminar todo o caminho a ser percorrido.
Mas nada disso parecia incomodar Rabin naquele momento. O primeiro-ministro estava animado com a receptividade do discurso. Caminhava descontraído em direção ao veículo. Segundos antes de chegar ao carro, um guarda-costas parou, deu um passo para trás e permitiu que um assassino se interpusesse e desse três tiros pelas costas do premiê.
Assim que se ouviram os tiros, um agente do Shabak (serviço israelense de segurança) berrou “Srak, srak!” [tiros de festim], enquanto outro agente dizia à mulher de Rabin, Lea, que não se preocupasse porque os disparos eram de festim. Os agentes mais próximos saltaram sobre o agressor, aos socos, e indagando se os tiros eram de verdade.
Não havia ambulância no local e Rabin foi levado de carro a um hospital próximo. O veículo não tinha rádio nem os policiais motorizados abriram caminho. Quando chegou ao hospital, ninguém estava aguardando o primeiro-ministro em situação de emergência. Minutos mais tarde, dezenas de jornalistas ali postados receberam uma mensagem do porta-voz do grupo desconhecido “Vingança Judaica”, prometendo que, “da próxima vez”, acabariam com Rabin. Depois do anúncio da morte, o mesmo porta-voz voltou a fazer contato, confirmando a autoria do atentado.
Até hoje, Yigal Amir cumpre prisão perpétua e nunca expressou qualquer arrependimento pelo assassinato. “Decidi matá-lo para neutralizá-lo politicamente. Não lamento nada”, declarou, durante o interrogatório, horas depois do crime.
Yitzhak Rabin fora chefe do Estado-Maior israelense durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, na qual Israel tomou os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1994 junto com seu ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres, e com Arafat, pela assinatura dos acordos de Oslo.
Naqueles dias, o mundo aguardava esperançoso os acontecimentos, pois se acreditava estar prestes a chegar à paz na região. Engano. Após a eliminação de Rabin, seu sucessor Benjamin Netanyahu iniciou a derrocada do processo de Oslo.