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Memória

Os alemães que lutaram contra Hitler na Iugoslávia

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Formado por alemães étnicos da Sérvia e Croácia e desertores da Wehrmacht, Batalhão Ernst Thälmann combateu ao lado dos guerrilheiros do marechal Josip Broz Tito

Rüdiger Rossig
Goran Gazdek

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2021-09-01T20:00:00.000Z

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Vlado Juric pega pedacinhos de mármore do chão. Eles pertencem ao monumento em homenagem aos guerrilheiros da resistência no vilarejo de Slatinski Drenovac, que, como tantos memoriais antifascistas da Eslavônia e outras partes da Croácia, está danificado. O presidente da Associação de Antifascistas e Combatentes Antifascistas da pequena cidade de Slatina limpa cuidadosamente com um pano a placa comemorativa quebrada, que anuncia: "Aqui descansam 42 combatentes da 18ª brigada de choque".

A cena se repete todos os anos na véspera de 15 de agosto. Neste dia, em 1943, foi fundado batalhão Ernst Thälmann do exército de resistência iugoslavo – a única unidade militar formada inteiramente de alemães.que lutou ao lado dos Aliados contra a Alemanha de Hitler na Segunda Guerra Mundial. 

"Os integrantes do batalhão, chamados Telmanovci ["a gente de Thälmann" em croata] vinham principalmente de aldeias alemãs em torno de Pakrac, Osijek, Slatina e Orahovica, assim como de povoados mistos de teuto-croatas e teuto-sérvios, como Levinovac, Trnava e Gasinac", explica Juric. Alguns outros eram desertores da Wehrmacht, o Exército da Alemanha nazista. No total, mais de 2 mil alemães lutaram nas unidades da resistência iugoslava sob o comando de Josip Broz "Tito".

"Durante a invasão alemã de 1941, cerca de meio milhão de alemães viviam na Iugoslávia, uns 100 mil deles, na Croácia", diz o historiador da Universidade de Leipzig Carl Bethke. "Por um lado, a associação cultural apoiada pela Alemanha nazista tinham franco sucesso entre os alemães na Iugoslávia. Por outro lado, os alemães tiveram uma grande participação na fundação do movimento operário da Croácia. Na Eslavônia, cidades inteiras eram tradicionalmente consideradas 'vermelhas'", explica o especialista em Sudeste Europeu.

Alemães étnicos e desertores

O batalhão Ernst Thälmann foi criada com o objetivo de motivar o maior número possível de alemães étnicos ou "volksdeutsche" – como os membros da minoria alemã na Iugoslávia eram chamados pelos nazistas – a participar da luta contra os ocupantes. A unidade recebeu o nome do secretário-geral do Partido Comunista da Alemanha (KPD) durante a República de Weimar, preso em 1933 e assassinado em 1944. Antes da invasão da Iugoslávia, alemães antinazistas já haviam formando um "batalhão Ernst Thälmann" que combateu ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

O emblema da nova unidade de resistência era a bandeira preta, vermelha e dourada da República de Weimar, com uma estrela vermelha no meio. A linguagem de comando era o alemão. Os membros da divisão receberam do Alto Comando Partidário uma máquina de escrever e uma copiadora, com as quais produziam panfletos convocando os soldados da Wehrmacht a se juntarem aos guerrilheiros.


Domínio público
A bandeira da unidade alemã da resistência iugoslava aos nazistas

Linguagem perigosa

A maioria dos integrantes já havia lutado em outras unidades guerrilheiras. A primeira missão começou em 18 de agosto de 1943. Houve um incidente noturno: os guerrilheiros alemães foram atacados por outros guerrilheiros, que os ouviram falando alemão. Foi pura sorte, ninguém se feriu.

"Além dos combatentes, a divisão Thälmann também incluía as enfermeiras Emilia e Irma Mayer e um menino de 15 anos da Alsácia, de nome Carlo, que foi engajado como mensageiro", relata Petar Kavgic. "Aos poucos, outros combatentes foram se juntando. Um alemão da Holanda, desertor da Wehrmacht, que era chamado 'Karl Pequeno', por causa de sua estatura. Ou Wilhelm Jung de Vukovar, que assim evitou ser convocado para a SS", prossegue o historiador local, que há anos pesquisa a história da Eslavônia.

Mais de 100 caídos

A divisão Thälmann operou com sucesso até 27 de novembro de 1943, quando os guerrilheiros eslavos entraram em confronto com divisões de tanques da Wehrmacht. No combate pesado, a maioria dos combatentes foi morta, incluindo os dois filhos do comandante político da divisão, Johann "Ivan" Mucker, de Daruvar.

Cerca de metade dos mortos foi enterrada em duas sepulturas, uma no cemitério católico e outra no cemitério ortodoxo na aldeia de Mikleus, a 15 quilômetros de Slatina. Os locais de sepultamento dos outros guerrilheiros são desconhecidos. Os poucos alemães que sobreviveram foram integrados a outras unidades do Exército de Libertação do Povo Iugoslavo.

O legado dos guerrilheiros

Após a vitória sobre Hitler em 1945, milhares alemães que permaneceram na Iugoslávia foram internados em campos de concentração. Outros perderam a nacionalidade e foram expulsos com suas famílias. Suas propriedades foram confiscadas.  "Quando os campos foram gradualmente fechados entre 1946 e 1948, a maioria emigrou para a Alemanha Ocidental", explica o historiador Bethke. Após a 

O fato de que também havia alemães entre os guerrilheiros da resistência caiu no esquecimento.

Foi só em 1984 que Nail Redzic publicou Telmanovci, uma obra sobre a unidade alemã entre os guerrilheiros iugoslavos da resistência a Hitler. O livro foi publicado pelo então Exército Popular Iugoslavo. Em 1997, o historiador Heinz Kühnert e o ex-diplomata Franz-Karl, ambos da Alemanha Oriental, publicaram o livro Deutsche bei Titos Partisanen (Alemães entre os combatentes de Tito).

Em 1986, o romance Lass mich doch eine Taube sein (Deixa que eu seja uma pomba), de Wolfgang Held, foi publicado na Alemanha Oriental. A história de um comerciante eslavo-alemão cujo filho está na SS e a filha com os Telmanovci foi filmada pela Iugoslávia e pela Alemanha Oriental.

Os antifascistas de Slatina agora querem divulgar a história dos Telmanovci para um público mais amplo, e enviaram uma carta à chanceler federal alemã, Angela Merkel. "Somos da opinião que a senhora devia ser informada sobre esses notáveis eventos da Segunda Guerra Mundial, porque eles merecem divulgação e mais pesquisas históricas detalhadas. Queremos pesquisar os nomes de todos os combatentes da Divisão Thälmann e encontrar todos os cemitérios onde foram enterrados."

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Histórias da Nossa Classe: a solidariedade de classe é necessária

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Neste episódio, Opera Mundi conversou com o presidente da Associação Heinrich Plagge, Tarcisio Tadeu, que participou das grandes greves do ABC da década de 80

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2022-07-03T18:25:00.000Z

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Neste episódio do Histórias de Nossa Classe, Opera Mundi conversou com o presidente da Associação Heinrich Plagge, Tarcisio Tadeu, que foi funcionário da Volks nos anos 60 e 70, em São Bernardo, e participou das grandes greves do ABC da década de 80. 

Na conversa, Tadeu comenta sobre episódios históricos que foram determinantes para a ascensão dos metalúrgicos enquanto categoria organizada, quando os sindicalistas conseguiram mobilizar milhares de trabalhadores para reivindicar direitos, como ajustes salariais e férias. 

"Amor ao próximo sem consciência de classe é síndrome de estocolmo, aprendi isso em casa nos primeiros anos da minha juventude. A importância de saber nosso lugar no ciclo histórico e o valor do companheirismo eu entendi no chão da fábrica", disse. 

Histórias da Nossa Classe é uma série de entrevistas realizadas pelo jornalista José Igor, em parceria com a Associação Heinrich Plagge, na qual as trabalhadoras e os trabalhadores do ABC relatam a resistência operária e as perseguições políticas sofridas pelos metalúrgicos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985).


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