Existe uma certa máxima de que “falar de eleição agora” ou é oportunismo, ou é insensibilidade, ou ambos. Mas quem acompanha e ouve as demandas das pessoas, principalmente as mais vulneráveis, sabe que elas estão ainda mais atentas com as ações de quem “tem a caneta na mão”. É a própria vida que está em jogo.
Com o desgoverno de Bolsonaro impedindo deliberadamente medidas que salvam vidas, governadores, governadoras, prefeitos e prefeitas, deputadas, vereadoras, toda a rede de parlamentares e executivos eleitos se tornaram estratégicos e imprescindíveis para minimizar os impactos negativos da Covid-19 no cotidiano da classe trabalhadora – seja para garantir emprego, renda, atendimento médico e até a própria sobrevivência.
A prova cabal dessa constatação é a aprovação do auxílio emergencial que partiu de uma investida pesada de parlamentares do PT e dos partidos de oposição. A proposta inicial do governo era de apenas 200 reais por mês, enquanto a do PT era de 1200 reais – e conseguimos chegar a 600 pela força dos parlamentares eleitos da oposição. E, agora, estamos em luta para estender o benefício por até um ano.
E não foi só isso. Teve a lei Aldir Blanc, na cultura; a lei de proteção à mulher na Covid-19 contra a violência; a lei de proteção dos indígenas; a garantia de auxílio para familiares de profissionais de saúde que venham a perder seus entes queridos no fronte dessa guerra e muito mais.
Aqui em São Paulo, não tem sido diferente e não estou sozinha nessa, tem uma legião de parlamentares correndo contra o tempo para o colapso iminente. Sem falar, é claro, no apoio incondicional dos partidos progressistas aos movimentos sociais, redes de solidariedade popular para defender a população mais pobre, em situação de rua, artistas, mulheres, investir na rede de saúde, dentre tantas outras.
No país inteiro, tem pessoas eleitas, com a “caneta na mão”, lutando e sabendo que cada minuto conta para proteger suas comunidades, seus povos e suas regiões – e não dá para contar o governo federal, que também atrapalha. E não se enganem. O impacto a médio e longo prazo vai se abater sobre as nossas cabeças em nível local.
TSE/Divulgação
É no bairro, na cidade, no cotidiano de cada município desse Brasil imenso que as pessoas vão passar a sentir, cada vez mais, o peso da irresponsabilidade do governo federal. É no transporte público que elas pegam todos os dias, no desemprego dos familiares, na necessidade diária de colocar o pão na mesa e seguir sobrevivendo. É o poder público local, por exemplo, que vai vacinar até a última pessoa da fila, caso uma vacina seja descoberta.
Portanto, definir quem vai ter poder de decisão, quem vai estar ali, olho no olho das pessoas, e quais as propostas das candidatas e candidatos para os próximos anos é imprescindível – arriscaria dizer uma questão de sobrevivência.
Qual vai ser o papel do Estado na proteção econômica, na garantia de atendimento médico, na luta por direitos passa por falar de eleições. Passa por falar de campanha eleitoral. Passa por definir como vamos querer as nossas cidades enfrentando a pandemia e defendendo quem mais precisa. Quem se exime de falar disso, em plena pandemia, é irresponsável, porque esvazia e desidrata uma ferramenta estratégica para a nossa reconstrução social.
Sabemos muito bem para onde a despolitização, o discurso do “outsider”, do “não político”, do “não vou para debate”, “não faço campanha” leva o resultado nas urnas. As pessoas precisam de políticas públicas, proteção social e direitos – portanto precisam definir muito bem quem vai lutar por elas nos parlamentos e nas prefeituras de todo país. E isso é falar de eleição.
Juliana Cardoso é feminista, mãe, defensora de Direitos Humanos e vereadora (PT) da cidade de São Paulo