Agência Efe (25/09/12)
A Assembleia-Geral das Nações Unidas teve início nesta terça-feira (25/09) com um recado alarmista do secretário geral do organismo internacional, Ban Ki-Moon. “Este ano, estou aqui para alarmar sobre nossa direção como uma família humana”, disse ele na sede da ONU em Nova York perante centenas de ouvintes.
Ao contrário do evento do ano passado, quando a Primavera Árabe e a entrada da Palestina como estado-membro da ONU foram discutidas, as expectativas para o encontro deste ano são pessimistas por conta do momento conturbado e repleto de crises políticas.
[O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, discursa na 67ª Sessão da Assembleia-Geral do organismo)
O diplomata descreveu um contexto internacional repleto de dificuldades de todas as ordens: econômicas, políticas, sociais e ambientais. Ele destacou que governos gastam mais em armamentos do que com programas sociais e humanitários e que as pessoas querem perspectivas de uma “vida decente”.
Segundo o secretário-geral, a população mundial está insatisfeita e impaciente com a ação das organizações internacionais e dos governos. “A sociedade que vocês representam quer ver resultados em tempo real, agora, não no futuro distante”, afirmou Ki-Moon. “As pessoas querem progresso e soluções para hoje. Eles querem ideias, sua liderança e esperanças concretas para o futuro”, acrescentou.
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Além de destacar a descrença das sociedades perante este tipo de encontro diplomático, o secretário geral apenas reforçou as expectativas de que a 67ª sessão da Assembleia seja marcada por temas complexos e espinhosos.
Ban reiterou seu compromisso em procurar a solução de dois estados para o conflito entre Israel e Palestina e criticou os assentamentos israelenses que impedem a criação do estado palestino. O diplomata também disse que espera poder um dia ver o Oriente Médio livre de armas nucleares, mas não se referiu ao caso israelense e se deteve apenas ao programa nuclear iraniano.
Para ler o discurso de Ban Ki-Moon na íntegra, clique aqui.
Apesar disso, o diplomata também lembrou os avanços que os diferentes continentes têm conquistado: a África está crescendo economicamente, a Ásia e a América Latina estão fazendo importantes avanços e o mundo árabe está concluindo transições democráticas.
O conflito na Síria, os recentes protestos no mundo muçulmano, a morte do embaixador norte-americano na Líbia e o possível ataque militar israelense contra instalações nucleares iranianas estão entre os temas que devem ser discutidos nos próximos dias em Nova York por mais de 120 chefes de estado.
Enquanto que os países asiáticos disputam territórios nos oceanos da região, os governos do mundo árabe e muçulmano e as potências do Conselho de Segurança se dividem quanto à situação na Síria e os latino-americanos ainda estão imersos em discussões sobre o golpe no Paraguai. Além disso, os Estados Unidos estão em plena corrida pela presidência e Israel aumentou suas ameaças contra o Irã.
As discussões devem se tornar ainda mais acirradas por conta dos protestos contra o filme norte-americano A Inocência dos Muçulmanos que tomou conta das ruas de mais de 30 países nas últimas semanas e revelou um contexto de instabilidade com a transição política de diversos países depois da Primavera Árabe.
Os EUA terem negado o visto a 20 funcionários do governo iraniano que acompanhavam o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, na missão diplomática também é outro fato que deve apimentar as declarações durante as sessões. É a primeira vez que os EUA negam vistos a membros de delegações oficiais iranianas para reuniões da ONU.
No entanto, os possíveis acordos e rupturas bem como os rumos da política internacional serão esboçados não só nas sessões abertas ao público, mas em encontros privados entre representantes. Por abranger todos os estados-membros da ONU, o encontro apresenta uma grande oportunidade para os políticos promoverem suas pautas políticas com outros governos e com a opinião pública nacional.
Este é o caso do presidente do Paraguai, Federico Franco, que quer conquistar o apoio de governos em sua campanha contra a suspensão do país do Mercosul. O mandatário golpista, que assumiu o cargo em junho deste ano, já anunciou uma agenda intensa de atividades. A 67ª sessão da Assembleia Geral da ONU tem como tema “ajuste ou solução de disputas ou situações internacionais por meios pacíficos”, mas as ameaças e acordos que ocorrem por trás dos holofotes podem não seguir este padrão.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, também pretende utilizar o espaço para destacar o empenho de seu governo em buscar um acordo de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Segundo a Agência Brasil, Santos quer ressaltar também a atuação no combate às drogas, bem como a manutenção do apoio financeiro ao Haiti, depois do terremoto de janeiro de 2010 que matou mais de 220 mil pessoas no país.