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Política e Economia

Presidente do Egito é principal beneficiado pela frágil trégua no Oriente Médio

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Para analistas brasileiros, Mohamed Mursi conquistou papel de mediador e saiu fortalecido das negociações de paz

João Novaes

2012-11-24T14:10:00.000Z

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Três dias após o estabelecimento de uma frágil trégua entre israelenses e palestinos, depois de uma investida militar na Faixa de Gaza que resultou na morte de 164 palestinos, é possível analisar qual dos atores envolvidos saiu mais fortalecido. Para especialistas entrevistados por Opera Mundi, o principal é o Egito, representando na figura do presidente Mohamed Mursi. O contrário ocorre com o grupo político Fatah, que controla a ANP (Autoridade Nacional Palestina). Os analistas divergem, porém, quanto à posição dos Estados Unidos, de Israel, e do movimento islâmico Hamas.

Efe (23/11/2012)

Mursi fala a simpatizantes no Cairo. Presidente do Egito foi o maior beneficiado de trégua entre israelenses e palestinos

Para Argemiro Procópio, professor de relações Internacionais da UNB (Universidade de Brasília), Mursi teve como mérito evitar a propagação dos conflitos na região. “O principal fortalecido [do conflito] é o Egito, que ganhou o papel de grande intermediador do Oriente Médio. O conflito [em Gaza] começava a se expandir para o Líbano [com movimentações do Hezbollah], a Síria já estava em ebulição e a próxima seria a Jordânia”, apostou.

De acordo com Mohamed Habib, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a saída de Hosni Mubarak (1981-2011) provocou uma profunda mudança na política externa egípcia. “Mubarak sempre foi aliado de Israel, mesmo que às custas dos interesses palestinos. Mursi adotou uma posição diplomática, ética e justa, sem preferência de um lado sobre o outro. Mubarak atuava como um mandante na ANP, dava ordens na sociedade palestina. Hoje não, há uma mediação que, pela primeira vez, possibilitou uma conversa entre Hamas e o governo israelense”.

“[A ação da diplomacia egípcia] é uma das primeiras respostas da Primavera Árabe aos questionamentos sobre até que ponto esse movimento mudaria a política externa dos países envolvidos”, diz o professor de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Reginaldo Nasser, para quem o país norte-africano pode ser destacado como um “ator que voltou à cena”.

“Não como na época anterior [de Gamal Nasser (1956-1970) e Anwar Sadat (1970-1981), quando eram ferrenhos inimigos de Israel até 1979]. Também não será o Egito de Mubarak, que balançava a cabeça servilmente à EUA e Israel. O país vai transitar fora desses extremos”, afirmou.

ANP e Hamas

Já o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, assim como seu grupo político, o Fatah, que controla a Cisjordânia, saem prejudicados pela atuação apagada durante toda a crise. “Abbas deveria ser o interlocutor dos palestinos de modo geral, mas não exerceu esse papel. Sequer foi considerado por Israel para dialogar ou negociar. Ele mesmo já está consciente de sua falta de autoridade”, afirmou Habib.

Efe (18/11/2012)

Mahmoud Abbas, assim como seu grupo político, o Fatah, que controla a Cisjordânia, saem prejudicados pela atuação apagada

Nasser acredita que, embora simbólica, a tentativa de reconhecimento da Palestina como estado não-membro da ONU (Organização das Nações Unidas), que está sendo articulada por Abbas em meio à comunidade internacional, pode ser uma tentativa de retomar a popularidade mas que, nesse momento, deixou de ter sentido.

“Está demorando para surgir uma nova força política na Palestina. A Primavera Árabe poderia aparecer por lá também”, disse, ao criticar as atuações tanto do Fatah quanto do Hamas (que exerce o poder de fato na Faixa de Gaza), as duas principais forças políticas dos palestinos.

Para Nasser, o Hamas não tem condições de crescer na Cisjordânia, onde se encontra a maior parte da população. Segundo ele, o apoio atual seria efêmero, mais em razão da solidariedade da população durante o conflito do que por seus méritos. “O crescimento da popularidade do Hamas se dá por duas razões: a corrupção que reina na ANP sob comando do Fatah e as ações de assistência social à população carente de Gaza” – as mesmas razões que, para Nasser, poderão leva-lo à queda no futuro.

No entanto, o professor da PUC-SP acredita na possibilidade de ocorrer com o movimento islâmico a ascensão de uma ala mais moderada no futuro e que obtenha maior reconhecimento, como ocorreu com o ETA (movimento separatista basco) e o IRA (Exército Republicano Irlandês).

A posição do Hamas após o cessar-fogo acordado com Israel também foi fortalecida, na opinião de Habib. “Eles conquistaram o poder de negociar com Israel. O próximo passo seria ser reconhecido como o governante de fato de Gaza. O Hamas ganha porque o mundo inteiro assistiu essa crise e viu a negociação rápida como um fator positivo. E ele ganhou também o Egito como um interlocutor seguro. A população de Gaza o considerou vitorioso. Em um futuro processo eleitoral na Palestina, o movimento poderá ganhar mais cadeiras no Legislativo e, quem sabe, eleger o próximo presidente palestino”.

Já Nasser acredita que o grupo islâmico nada conseguiu: “O que o Hamas fez sempre aconteceu. Depois do bombardeio, seu líder aparece na TV e propaga que saiu como grande vencedor. O que ele obteve foi um acordo frágil, que a qualquer momento pode ser rompido. (...) Sua capacidade militar é irrisória. Os mísseis, que continuam sendo lançados de forma totalmente aleatória, pouco importa a quantidade, servem apenas para justificar os ataques de Israel. Mas o que temos é uma população pobre e que continua cercada”.

A influência norte-americana

Outro ponto de discordância entre os especialistas foi em relação aos EUA. Procópio acredita que a ação diplomática norte-americana foi muito importante para evitar que o caos se alastrasse. “A postura norte-americana, com a participação de Hillary Clinton, foi extraordinariamente ativa. Ela foi ao Cairo e ajudou as partes a negociarem e a apagarem o fogo no começo”, lembrou.

Por outro lado, Nasser afirma que os EUA perderam credibilidade como mediadores, já que para isso precisariam ser isentos e aceitos pelos dois lados. “Se fazem questão de dizer que são aliados incondicionais de Israel, então não podem ser mediadores. Mas é impossível termos negociações de paz na região sem que eles estejam envolvidos”, reconheceu. “A ida de Hillary Clinton ao Cairo ocorreu somente quando o bolo já estava pronto e ela chegou para colocar a cereja”.

Habib concorda que os EUA tiveram um papel secundário na negociação do cessar-fogo. Para ele, Washington “quase não participou da negociação. Fez o papel de avalista, de um acordo entre dois contratantes [Israel e Hamas] que já haviam negociado com o corretor, o Egito”.

No entanto, Habib acredita que o sucesso da Cúpula de Ferro, nome dado ao sistema de escudo antimísseis israelense que teve um papel importante no conflito, ao interceptar cerca de 90% dos foguetes lançados contra o país. “Obama ganha pontos com a sociedade israelense e o governo Netanyahu por mostrar sua fidelidade a Israel. E também internamente, conseguindo agradar a indústria bélica e a direita norte-americana”, analisou.

Netanyahu e as eleições

O apoio da população israelense à investida militar rendeu frutos também ao premiê Benjamin Netanyahu, que chegou a ganhar 20 pontos de popularidade e apoio de 84% da população, segundo pesquisa divulgada pelo jornal Haaretz, números significativos para a próximo eleição israelense, que será disputada em 22 de janeiro.

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Política e Economia

Em 1º discurso após posse, Petro promete reforma na política contra as drogas na Colômbia

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Ao lado da espada de Simón Bolívar, novo presidente colombiano disse que a política antidrogas 'fracassou profundamente', afirmando que a 'paz é possível' no país

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2022-08-07T22:35:00.000Z

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Ao som ovacionado das milhares de pessoas reunidas na Praça Bolívar, em Bogotá, Gustavo Petro realizou seu primeiro discurso neste domingo (07/08) como novo presidente da Colômbia. Petro reafirmou o compromisso de uma reforma na política contra as drogas no país.

"A política contra as drogas fracassou profundamente. A guerra fortaleceu a máfia e debilitou Estados, levando-os a cometerem crimes e evaporou o horizonte da democracia. Chegou o momento de mudar a política antidrogas no mundo para que seja a vida ajudada e não a morte", disse.

Durante seu discurso, Petro pediu que a espada de Simón Bolívar fosse deixada no palco, ao seu lado. Para ele, o objeto significa "toda uma vida, uma existência" que o auxiliou no processo que culminou em sua eleição à Presidência.

Petro disse não querer que a espada esteja "enterrada", que ela seja a "espada do povo". "Chegar aqui implica recorrer uma vida, uma vida imensa que nunca é sozinha. Aqui estão todas a mulheres colombianas que lutam para superar o machismo e construir uma política do amor. As mãos humildes dos operários, dos campesinos, o coração dos trabalhadores que me apoiam sempre quando me sinto débil", declarou.

Segundo o novo mandatário, os colombianos, "muitas vezes", foram "condenados ao impossível e a falta de oportunidades". No entanto, Petro declarou a "todos que estão me escutando" que, agora, "começa nossa segunda oportunidade". 

"Nós ganhamos, vocês ganharam. O esforço de vocês valeu a pena. Agora é hora de mudança, nosso futuro não está escrito e podemos escrever juntos e em paz. Hoje começa a Colômbia do impossível", disse durante a posse, declarando que sua eleição é uma história contra aqueles que não acreditavam, "daqueles que nunca queriam soltar o poder. Porém o fizemos".

Redistribuição de riqueza

Petro afirmou que a "igualdade será possível" na Colômbia, para que a desigualdade e a pobreza não "sejam naturalizadas", já que, segundo o novo presidente, o país é uma das "sociedades mais desiguais em todo o mundo", afirmando ser necessário mudar este paradigma "se queremos ser uma nação e viver em paz". 

Reprodução/ @FranciaMarquezM
Petro e Márquez tomaram posse neste domingo como o primeiro governo de esquerda na Colômbia

"Vamos ser uma Colômbia mais igualitária e com mais oportunidades a todos. A igualdade é possível se formos capazes de gerar riqueza e capazes de distribuí-la. Para isso, é necessário uma reforma tributaria que gere justiça", afirmou durante o discurso.

O presidente reafirmou que seguirá os Acordos de Paz, assinados em 2016, e também as resoluções da Comissão da Verdade em relação à violência no país. Ele declarou que é preciso terminar "para sempre" com os conflitos armados, convocando "todos as pessoas armadas para buscar um caminho que permita a convivência, não importando os conflitos que existam".

"Encontrar soluções através da busca por mais democracia para terminar a violência. Convocamos todos os armados a deixarem as armas, aceitar jurisdições pela paz, a não repetição definitiva da violência, para que a paz seja possível. Precisamos dialogar, nos entender e buscar os caminhos comuns e produzir mudanças. A paz é possível", afirmou.

Posse de Petro

Petro tomou posse neste domingo em uma cerimônia na Praça Bolívar, em Bogotá. Aos 62 anos, ele é o primeiro mandatário de esquerda a assumir o poder na história do país.

O presidente do Senado colombiano, Roy Barreras, foi o encarregado de ler o juramento a Petro, que fala em "cumprir fielmente a Constituição e as leis" do país. Na sequência, a senadora María José Pizarro, filha de Carlos Pizarro assassinado em 1990 e que foi companheiro do agora presidente na guerrilha Movimento 19 de Abril (M-19), entregou a faixa presidencial ao novo chefe de Estado.

Também na posse, a vice-presidente eleita Francia Márquez realizou juramento, que foi lido pelo agora mandatário da Colômbia.

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