De acordo com denúncia feita hoje (22) pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), pelo menos 15 crianças em diferentes hospitais do Haiti foram raptadas e enviadas para fora do país. A organização ainda não tem estimativas exatas de quantos haitianos ficaram órfãos após o terremoto, mas calcula que cerca de dois milhões de crianças tenham sido afetadas.
“Infelizmente constatamos o rapto de 15 crianças e suspeitamos que tenham sido sequestradas por redes de tráfico de pessoas por meio de Santo Domingo [capital da República Dominicana]”, afirmou em entrevista coletiva Jean-Claude Legrand, assessor de proteção da infância do Unicef.
Legrand explicou que as redes de tráfico de crianças já existiam no Haiti antes do terremoto. “As redes já existiam antes no Haiti e eram bastante ativas, raptando crianças e entregando-as ao mercado internacional de adoções. O que ocorre sempre é que quando há uma catástrofe, as redes tentam se aproveitar da fragilidade do Estado e dos sistemas de controle”, explicou.
Para combater o problema, o Unicef estabeleceu todos os mecanismos de alerta disponíveis para evitar que os sequestros aconteçam e está organizando locais para abrigar crianças não acompanhadas.
Adoções interrompidas
O secretário de Estado para Ajuda Alimentar e Água do Haiti, Michel Chancy, disse que estão suspensos novos processos de adoção internacional. Apenas aqueles que já estavam em andamento nas embaixadas em Porto Príncipe seguirão adiante. “Estamos conscientes da nossa incapacidade, neste momento, de fazer avaliação correta de cada caso”, explicou Chancy ao jornal O Estado de S. Paulo. “Há um número muito grande de crianças cujos pais não sabemos onde estão.”
Três importantes ONGs pediram na quarta-feira (20) que sejam atrasadas as adoções de crianças haitianas após o terremoto. A Save The Children, a World Vision e a Cruz Vermelha Britânica defenderam uma paralisação em novas adoções até que sejam realizados todos os esforços possíveis para reunir as centenas de milhares de crianças separadas de suas famílias. O Unicef já havia orientado a adoção em casos em que não há mais opções.
As ONGs defendem que se as adoções não forem suspensas existe o risco de algumas famílias se romperem para sempre. “Tirar as crianças do país as separará permanentemente de suas famílias, uma separação que agravará o trauma agudo que já estão sofrendo”, disse a diretora executiva da Save The Children, Jasmine Whitbread.
“As crianças não devem sair do Haiti nesse momento a não ser com familiares sobreviventes ou em caso de adoções que já estavam em curso e com todos os documentos legais requeridos”, disse o diretor da World Vision, Justin Byworth.
Alguns países como Espanha, Holanda, Estados Unidos e França, decidiram depois do terremoto acelerar os processos de adoção de crianças haitianas já aprovados.
Além do tráfico de adoção, a Unicef aponta as redes de tráfico para prostituição como outro perigo para a população “São jovens muito vulneráveis, que podem ser presa fácil e devemos protegê-las”, acrescentou Legrand.
Grávidas
Hoje a Unfpa (Fundo de População das Nações Unidas) disse que existem mais de 63 mil mulheres grávidas na capital do Haiti, Porto Príncipe, e que sete mil darão à luz no próximo mês.
A entidade também afirmou que 10 mil grávidas devem precisar de cuidados médicos devido a possíveis complicações. Uma em cada 47 haitianas corre o risco de morrer durante o parto.
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