Governo interino declara estado de emergência por um mês no Egito
Ao menos 95 pessoas morreram nesta quarta-feira segundo fontes oficiais; Irmandade Muçulmana estima em centenas de mortos
Atualizada às 14h45
Agência Efe
Egito entrou hoje em um período de um mês sob estado de emergência
No mesmo dia em que ordenou a destruição dos acampamentos dos partidários do presidente deposto, Mohamed Mursi, o governo do Egito anunciou nesta quarta-feira (14/08) que o país passará um mês sob estado de emergência. A medida entrou em vigor hoje às 11h de Brasília.
Segundo um comunicado do governo, pronunciado na TV estatal, a decisão foi adotada devido ao "perigo" que ameaça "a segurança e a ordem nos territórios do país". O presidente Adly Mansour, encarregou as forças armadas, com a ajuda da polícia, de adotar as "medidas necessárias" perante a situação.
Pouco depois do anúncio, o vice-presidente interino do país e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, renunciou ao cargo. "Apresento minha renúncia ao posto de vice-presidente e peço a Deus o altíssimo que preserve nosso querido Egito de todo o mal, e que cumpra as esperanças e aspirações de povo", escreveu o dirigente.
Até o momento, o Ministério da Saúde egípcio admitiu que pelo menos 95 pessoas morreram nos conflitos de hoje. O número, porém, tem crescido a cada hora. A Irmandade Muçulmanda, por sua vez, ligada a Mursi, afirma que centenas de pessoas faleceram.
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Mais cedo, o atual governo do Egito também anunciou que enfrentará com "toda a dureza e firmeza" os ataques contra propriedades públicas e delegacias. No entanto, no interior do país, diversos edifícios foram depredados, supostamente por seguidores islâmicos, segundo a Agência Efe.
O porta-voz do Conselho de Ministros Sherif Shauqi leu um comunicado do Executivo no qual afirmou que perseguirão "os arruaceiros" para proteger as propriedades do povo. Além disso, o governo pediu à Irmandade Muçulmana que pare de estimular seus seguidores a prejudicarem a segurança nacional.
"O executivo atribuirá aos dirigentes dos Irmãos Muçulmanos a responsabilidade total de qualquer sangue derramado e de todo o caos e a violência atual", advertiu o porta-voz.
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Além disso, insistiu que as autoridades seguirão adiante com o plano traçado para a transição, que contempla a realização de eleições antecipadas e a reforma da Constituição.
O Conselho de Ministros elogiou, além disso, o papel desempenhado pelas forças de segurança para aplicar a lei nas praças de Rabea al Adauiya e de Al Nahda, no Cairo, "o que se reflete no reduzido número de feridos".
O estado de emergência esteve em vigor no Egito com a desculpa da luta contra o terrorismo de 1981 até maio de 2012, quando a junta militar que governou o país desde a derrocada do regime de Hosni Mubarak (1981-2011) até a ascensão de Mursi ao poder decidiu não renová-lo.
A medida suspende vários direitos pessoais, civis e políticos como o de greve, o de ser assessorado por um advogado em caso de ser preso ou de realizar comícios políticos. O status também dá carta branca às forças de segurança para entrar em uma casa e deter qualquer pessoa sem necessidade de notificar as autoridades judiciais.